|
||
A. Ciências Exatas e da Terra - 6. Geociências - 3. Geografia Física | ||
PESCA E MEIO AMBIENTE: INTER-RELAÇÕES NO ESTUÁRIO DO RIO CEARÁ-CAUCAIA-CE. | ||
Edilandia Maria da Silva Lima 1 (edilandialima@bol.com.br), Edson Vicente da Silva 2, Juliana Maria Oliveira Silva 3 e Francisco Gessivaldo Regino Costa 4 | ||
(1. Departamento de Geografia - UFC; 2. Departamento de Geografia - UFC; 3. Departamento de Geografia - UFC; 4. Departamento de Geografia - UFC) | ||
INTRODUÇÃO:
O ambiente estuarino caracteriza-se por ser uma zona de interface entre os ecossistemas terrestre e marinho, portanto com intensos fluxos de matéria e energia o que confere uma alta instabilidade ambiental a este sistema. Nos estuários, os manguezais a eles associados geram uma teia de relações entre fatores bióticos e abióticos tornando esse ecossistema um dos mais produtivos da biosfera, proporcionando condições de alimentação e reprodução específicas a diferentes espécies que com ele mantêm relações ecológicas diretas ou indiretas. Algumas comunidades, litorâneas e ribeirinhas relacionam-se historicamente a esse ecossistema, do qual dependem diretamente em suas atividades relacionadas à economia complementar, pois constitui sua base alimentícia e outras fontes de recursos. A área em estudo corresponde ao estuário do rio Ceará, na divisa dos municípios de Caucaia e Fortaleza correspondendo à Área de Proteção Ambiental (APA) do rio Ceará e da Reserva Indígena Tapeba ainda não efetivada legalmente. O presente estudo foi realizado nas proximidades do Km-7 da Br-222, tendo sido desenvolvido junto a pescadores e marisqueiros da comunidade indígena Tapeba (núcleo ponte). Por meio desta pesquisa objetivou-se analisar a atividade pesqueira nessa área, obtendo conhecimentos e noções ambientais com relação aos pescadores, verificando o comportamento no que se refere a técnicas de pesca, períodos de defeso, seletividade das espécies e conservação ambiental. |
||
METODOLOGIA:
Inicialmente a pesquisa foi pautada em levantamentos bibliográficos, obtendo-se dados em órgãos como LABOMAR, SEMACE, IBAMA e outras fontes pertinentes à temática abordada. Elaborou-se um mapa básico preliminar e partiu-se para o reconhecimento em campo onde se percorreu e delimitou-se a extensão da área a ser pesquisada, utilizando-se canoa e barco. Um outro momento da pesquisa foi constituído por elaboração e aplicação de questionários dirigidos a pescadores e marisqueiros da área. Buscou-se caracterizar essas atividades por meio de coleta e análise de dados pertinentes aos tipos de embarcações utilizadas, apetrechos de captura, produtos economicamente explorados, locais de comercialização e noções de sustentabilidade como período de defeso e seletividade das espécies. Particularizou-se o reconhecimento dos materiais utilizados para pesca e coleta, como instrumentos confeccionados artesanalmente e iscas utilizadas. A parti de imagens orbitais do satélite LANDSAT-7 e softwares, confeccionou-se uma carta temática (1: 10.000) indicando áreas em que a atividade de pesca é mais intensa. Os dados obtidos por meio da pesquisa foram acrescidos por gráficos e tabelas representativas aos dados da análise das relações referentes à pesca e meio ambiente no estuário do rio Ceará. Buscou-se ainda realizar um trabalho de integração sócioambiental através de propostas e ações de educação ambiental informal na área estuarina em questão. |
||
RESULTADOS:
A análise da pesquisa concluiu que a pesca é estritamente artesanal e relacionada às práticas de sobrevivência dos ribeirinhos. Os instrumentos mais utilizados para a pesca no estuário são o anzol/linha com 25%, rede para camarão com 15%, manzuá, landuá, redes de arrasto e espera, cada uma com 12%. As embarcações de pesca apresentam pequeno porte, de forma que 95% delas são representadas por canoas e apenas 5% por barcos. Quanto à propriedade, 28% das embarcações são próprias e artesanais, em sua maioria construída com madeira de mangue. Entre as espécies da ictiofauna capturadas, a sauna correspondendo a 20% das respostas, tainha 16% e o bagre a 14% sendo os pescados mais representativos. Pôde-se constatar que entre as espécies de crustáceos e moluscos sobressaem-se com 36% das capturas o camarão, com 28% os siris e 16% as ostras grandes. A atividade de pesca e a de coleta de crustáceos é empregada de forma insustentável capturando-se fêmeas, indivíduos fora dos parâmetros recomendados, além do uso do fojo. Na pesca também são utilizados apetrechos proibidos como a rede de malha fina. A qualidade ambiental do estuário é comprometida pela poluição por dejetos oriundos de habitações e indústrias. A deficiência do saneamento básico, o desrespeito a leis ambientais e a falta de educação ambiental refletem na redução da biota do manguezal, comprometendo o ambiente e dessa forma causando desequilíbrios sócioambientais decorrentes da redução do potencial de pesca e mariscagem. |
||
CONCLUSÕES:
É possível contatar que há uma significativa redução do potencial faunístico explorado economicamente pela pesca na zona estuarina do rio Ceará. Apesar de um acúmulo de conhecimentos e relações culturais com o manguezal, as comunidades ribeirinhas ainda utilizam alguns apetrechos de pesca e capturas de caráter predatório como redes de malha fina e fojo. Percebe-se também o desrespeito quanto às normas legais de manejo na captura de caranguejos, uma vez que indivíduos que ainda não atingiram o período de maturidade sexual e fêmeas inclusive ovadas, são comercializadas indiscriminadamente. Não há um respeito efetivo no que corresponde ao período de defeso dos crustáceos. Conjugado aos problemas de manejo inadequado, soma-se a deteriorização dos recursos naturais e os desequilíbrios ambientais decorrentes de ações impactantes sobre a zona estuarina. A definição da tipologia de pesca e das relações entre as comunidades de pescadores e o seu meio ambiente obtidas no desenvolvimento desta pesquisa contribui no sentido de obter-se um diagnóstico integrado das condições sócioambientais do estuário do rio Ceará. Os resultados servem de subsídios para uma futura definição de estratégias de manejo e conservação do manguezal e ainda a busca de alternativas para uma pesca artesanal sustentável. |
||
Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico(CNPq). | ||
Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: Pesca; Meio Ambiente; Estuário. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |