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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
QUANDO A CARÊNCIA GERA A COMPETÊNCIA: O PROCESSO DA RESILIÊNCIA NA HISTÓRIA DE VIDA DE LÍDERES COMUNITÁRIOS
Allan Denizard Mota Marinho 1 (periespirito@uol.com.br), Aníbal Brito Júnior 1, Éder Luís Nunes Beserra 1, Fernanda Paiva Pereira Honório 1, Francisco Julião Moreira Barreto Cavalcante 1, Márcia Maria Tavares Machado 1 e Adalberto de Paula Barreto 1
(1. Depto. de Saúde Comunitária, Universidade Fedral do Ceará - UFC)
INTRODUÇÃO:
A psicologia positiva investiga aspectos potencialmente saudáveis dos seres humanos, destacando-se como um deles o fenômeno da resiliência. Na física, este representa a propriedade de um material que, ao sofrer distorções, volta a sua forma anterior, como, por exemplo, uma mola; na medicina, é a capacidade do indivíduo resistir a uma enfermidade, a uma intervenção, com ou sem a ajuda de medicamentos; na psicologia, é a habilidade do ser humano de resistir a situações adversas, restabelecendo um novo equilíbrio. É notório o fato de vários ícones da humanidade terem demonstrado esse fenômeno, tais como Ludwig Bethoven (músico), Imre Kertész (romancista) e Stephen Hawking (físico). Kertész, por exemplo, sobreviveu a um campo de concentração nazista e acabou ganhando um prêmio Nobel. Muitas pessoas conseguem, mesmo diante de adversidades e situações de conflito, superar os problemas e viver de forma plena. O objetivo do presente estudo é compreender a relação entre o sofrimento e a aptidão de líderes comunitários em promover o bem-estar social, entendendo como o processo de resiliência se enquadra nesse contexto.
METODOLOGIA:
Estudo qualitativo, usando como referencial metodológico o relato da vida construído pelos próprios sujeitos da pesquisa - líderes comunitários com história conhecida de sofrimento e auxílio ao próximo. Foram entrevistados quatro representantes da comunidade do Pirambu, vinculados ao Projeto 4 Varas, e um do Planalto Ayrton Senna. Quatro entrevistas foram realizadas neste Projeto e esta outra, no local de trabalho do entrevistado. Foi utilizado um roteiro de entrevista aberta, constando as seguintes temáticas referenciais: o dom adquirido e a convivência com o sofrimento. As entrevistas foram gravadas com a permissão dos sujeitos e transcritas na íntegra, posteriormente. A seguir foi feita leitura aprofundada dos discursos e determinadas as categorias de análise. Houve espontaneidade entre os entrevistados, que falaram de forma complexa sobre as suas vidas, contextualizando de forma explícita as suas experiências de vida e superação.
RESULTADOS:
Os entrevistados tinham idade entre 31 e 66 anos, sendo 2 homens e 3 mulheres. Quatro possuem baixo nível de escolaridade e um possui nível superior. As principais atividades desenvolvidas voluntariamente pelos entrevistados foram estas: reabilitação social de jovens criminosos e drogados, liderança comunitária em defesa dos direitos dos excluídos, terapias alternativas gratuitas (reza, urinoterapia, fitoterapia) e administração e organização de centro religioso com atividades assistenciais. Para fins didáticos, os sofrimentos vivenciados por esses cuidadores sociais foram agrupados em três conjuntos: privações, frustrações e violências. As privações expressam-se por perdas de: liberdade, por casamentos opressores; cidadania, através da calúnia e da marginalização econômico-social; saúde, principalmente por transtornos mentais; e entes queridos, com ênfase para os casos de suicídio. O êxodo rural e os relacionamentos pessoais mal-sucedidos causaram as frustrações. Já a violência consistiu em abusos sexuais e maus-tratos, ambos com a agravante de terem sido praticados por familiares. Diante dessas situações de dificuldades, buscaram atuar em grupos sociais, ajudando na superação dos problemas do próximo, dando as próprias vidas um significado mais cooperativo e participativo.
CONCLUSÕES:
Para o entendimento dos problemas antropológicos e psico-sociais, principalmente entre as parcelas humildes, há de se ter uma visão contextual das vivências. Torna-se de fundamental importância buscar a ampliação do olhar para os indivíduos que estejam engajados em movimentos sociais de apoio a comunidades carentes. Os atores sociais entrevistados neste estudo atuam de forma positiva, a partir da sua superação diante de situações de conflito, buscando a melhoria das condições de vida dos moradores do bairro onde habitam. Agem de forma voluntária, com o intuito de oferecer às pessoas com sofrimento similares aos seus a oportunidade de ter uma vida melhor, fora da criminalidade, da exclusão social e dos transtornos emocionais que são vivenciados. Verificou-se, a partir do discurso dos entrevistados, que o sofrimento teve, como instrumento de superação, a geração de dons e a oportunidade, sobretudo, de cuidar do outro. Os maus-tratos e decepções, nesses casos, incitam o indivíduo a buscar o alívio dos problemas dos semelhantes e a transpor as barreiras de preconceitos, privações, frustrações e violências. A resiliência, então, traduz a psicologia positiva das pessoas, adquirida ou potencializada em função de um sofrimento pregresso.
Palavras-chave:  Resiliência; Líderes comunitários; Psicologia Social.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005