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G. Ciências Humanas - 5. História - 8. História Regional do Brasil
AS IRMANDADES NEGRAS E A PARTICIPAÇÃO FEMININA
Raquel Cristiane Muniz Florêncio 1 (raquelmflorêncio@bol.com.br) e Suely Creusa Cordeiro de Almeida 2
(1. Graduanda do Departamento de Letras e Ciências Humanas – UFRPE; 2. Profª Drª do Departamento de Letras e Ciências Humanas – UFRPE)
INTRODUÇÃO:
Nosso trabalho teve como finalidade estudar a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de Igarassu analisando o papel das mulheres a ela engajadas. De modo geral a condição da mulher na colônia, fosse ela branca negra ou mestiça, sempre foi vista como de exclusão e subordinação; isso se pôde averiguar em algumas fontes secundárias e primárias verificadas. O papel feminino nas irmandades desde sempre se configurou um tema carente de abordagens esclarecedoras sobre o lugar de interferência dessas no interior dessas associações. Decidimos pesquisar sobre esta problemática priorizando a irmandade citada, fundada em 1706 em Igarassu, uma vila de Pernambuco colonial. Em contradição ao pensamento reinante sobre o claustro e exclusão da figura feminina, observamos que no compromisso da dita irmandade já existe um lugar para a mulher, embora não haja uma clareza no sentido de explicitar as funções e, consequentemente algum prestígio, mas aparecem opinando em momentos fundamentais como a festa e o enterramento realizados pela confraria.
METODOLOGIA:
A metodologia utilizada implicou na pesquisa em arquivos públicos, leituras, transcrição e análise de documentos manuscritos. Toda essa pesquisa foi realizada no Arquivo público Estadual Jordão Emerenciano em Recife/PE, bem como, nos arquivos privados da Irmandade do Rosário de Igarassu/PE. Quanto às fontes secundárias, as leituras incidiram sobre uma historiografia clássica quanto mais atualizada que abordou o tema tanto para Pernambuco quanto para outras localidades do Brasil. Realizaram-se discussões em grupos de estudo durante o processo de construção do trabalho. Além disso, foram introduzidos estudos voltados às metodologias da Nova História Cultural principalmente os livros do historiador e morfologista Carlo Ginzburg.
RESULTADOS:
Esse trabalho partiu do compromisso da Irmandade do Rosário dos Pretos de Igarassu e depois mergulhou numa documentação mais específica que são: livros dos associados, das contas, de registro dos mortos. O que proporcionou a oportunidade de observar através dessa documentação possibilidades de inclusão do sexo feminino no cotidiano das associações no cumprimento das suas atividades inclusive as mais significativas. Foi-nos possível, assim, destacar algumas situações que consideramos sintomáticas acerca da convivência feminina dentro da citada confraria: a festa em homenagem ao santo de devoção era um dos acontecimentos mais importantes para as irmandades, a convocação expressa da mesa das mulheres a fim de determinar, com toda a confraria, como seriam realizadas as festividades é ponto relevante na demonstração de prestígio da figura feminina. Essa confraria aceitava todas as etnias e raças, porém, para eleger os oficiais da mesa, excluía as etnias que não fosse angola ou crioula. Todavia, ressalta aos olhos o fato de que as mulheres da irmandade possuíam uma mesa exclusiva para elas com solicitação de atuação real e, inclusive, poderem ser aceitas como irmãs por iniciativa individual além de também, é claro. sob intermédio do marido. Nessa irmandade não existem tarefas específicas para as mulheres escritas no compromisso, e sim, ao longo de sua redação, deixando entrever que as mulheres se misturavam em todas as funções.
CONCLUSÕES:
Ao ressaltarmos esta problemática pudemos verificar que o lugar reservado à mulher era de atuação compartilhada com os demais irmãos nas obrigações referentes ao cumprimento do Compromisso da irmandade, como podemos verificar em relação à doação de esmolas ou preparação das festas; bem como na responsabilidade de guarda de uma das três chaves do cofre da associação. O que a pesquisa nos levou a perceber foi que as mulheres, embora legalmente não possuído um espaço de ação social, acabaram por encontrar lacunas para atuar. As Irmandades então, se constituíram em lugar propicio para interação e sociabilidade, levando consequentemente à criação de uma identidade e oferecendo a esse extrato social, à mulher, sempre tão à margem das decisões mais importantes, um ambiente com possibilidade de afirmação.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Irmandades; Mulheres; Exclusão.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005