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A. Ciências Exatas e da Terra - 3. Física - 2. Ensino de Física
ENSINO ATRAVÉS DE TEMAS E CTS: PESPECTIVAS PRELIMINARES NUM CURSO DE LICENCIATURA EM FÍSICA
José Ricardo da Silva Alencar 1 (jrsalencar@ig.com.br) e Rogério Gonçalves de Sousa 1
(1. Núcleo Pedagógico de Apoio ao Desenvolvimento Científico, Universidade Federal do Pará - UFPA)
INTRODUÇÃO:
A necessidade de propiciar, durante a formação inicial, exemplos de ações pedagógicas aplicadas ao Ensino de Física em torno de um tema de estudo, algumas destas baseadas nas idéias de Paulo Freire e Georges Snyders, pode ser considerada relevante na promoção do debate que explore as relações entre os eixos Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS). Acreditamos ser válido qualquer esforço feito no sentido de promover essa crescente tendência no Ensino de Ciências, incluído o de Física, seja pelas atuais contingências educacionais, referendadas por algumas deficiências da formação inicial de professores de Física, seja pela necessidade mais urgente, fundamentada também numa alfabetização científica, de termos maior participação cidadã e de qualidade sobre as decisões que dizem respeito aos rumos de nossa sociedade, nos quais a Ciência e Tecnologia (C&T) estão cada vez mais envolvidas.
Procurar fornecer subsídios de valor as presentes e/ou futuras práticas dos docentes em formação, no privilegiar da abordagem CTS, é papel, e por isso meta, das agências e instituições formadoras de professores.
METODOLOGIA:
A disciplina Metodologia Específica do Ensino de Física do 7o semestre do curso de Licenciatura em Física/UFPA, ministrada por um dos pesquisadores, foi planejada a fim de serem analisadas as possibilidades pedagógicas do ensino através de temas com abordagem CTS. Isso incluiu, inicialmente, a fundamentação teórica com a leitura e discussão de textos sobre movimento CTS, alfabetização científica, ensino através de temas e saberes docentes relevantes para a abordagem CTS. A seguir, em nível de exemplo, os licenciandos participaram da proposta temática “das válvulas aos microchips: o que mudamos?” envolvendo Física Contemporânea, estruturada pelos três momentos pedagógicos - Problematização Inicial (PI) ou Estudo da Realidade (ER), Organização do Conhecimento (OC) e Aplicação do Conhecimento (AC). Estimulou-se, assim, os licenciandos a elaborarem propostas temáticas de CTS de acordo com tal plano pedagógico. Ao longo do percurso disciplinar, por sua vez, algumas dimensões, vantagens e limitações da estratégia, expressas em depoimentos, anotações livres das falas e nos trabalhos escritos desenvolvidos pelos alunos, puderam ser devidamente analisadas de forma qualitativa procurando caracterizar quais concepções os alunos da disciplina exibem.
RESULTADOS:
A maioria dos alunos revelou ter pouco ou nenhum conhecimento a respeito do movimento CTS aplicado ao ensino de Física e da abordagem temática na condição de ação metodológica capaz de fundamentá-lo.
O movimento Ciência-Tecnologia-Sociedade, por ter tido gênese no seio de sociedades desenvolvidas em relação aos padrões econômicos mundiais, foi questionado pelos licenciandos como “engodo imperialista”, ou seja, mais um “empacotado importado” a ser irrefletidamente adotado em nosso sistema de educação. O que lhes pareceu que o nosso país mais uma vez assumiria o papel de colônia, na condição de sociedade consumidora dos saberes estrangeiros.
De outra forma e conforme suas concepções, grande parte dos futuros professores não acreditavam na possibilidade de se efetivar um ensino de Física voltado para formar cidadãos tecnologicamente alfabetizados no currículo do nível médio.
As discussões realizadas assumiram forte caráter epistemológico e poucas foram as considerações sobre as implicações educacionais desta perspectiva.
CONCLUSÕES:
O ensino tradicional presente nos cursos de formação inicial de professores, ao não fomentar momentos adequados para debates mais articulados entre teorias da ciência e aspectos sócio-educacionais, isto é, não pautado numa epistemologia da prática, acaba gerando visões insuficientes na compreensão de idéias como as vinculadas ao movimento CTS.
Ao se verem instigados em suas bases epistemológicas, os alunos reagem, mostrando receios à implementação de mudanças na prática educativa, buscando justificativas para sequer adotar a possibilidade de inovação. Criticar a emergência do movimento CTS somente quanto ao local de origem (países ricos), por exemplo, é desconsiderar, no mínimo, que sua organização foi feita por profissionais não contentes com os desdobramentos sociais do modelo vigente aplicado à C&T. Nesse sentido, é válido ressaltar a importância de se ter em vista o tipo de cidadão que se quer formar, dentro de possibilidades reais num contexto específico para se tomar decisões conscientes em relação a C&T.
Ainda bastante forte é a idéia da hegemonia da ciência, como a Física, enquanto saber isolado e auto-suficiente, em detrimento da importância de outros fundamentos, como os do ensino. Este conceito de ciência implicou na não evolução dos debates para discussões sobre estratégias de ensino diferenciadas da tradicional, pois a crítica à ciência precisa ser digerida, trabalhada, para, então, ser re-significada em relação ao ensino de Física no mundo contemporâneo.
Palavras-chave:  ensino através de temas e abordagem CTS; formação de professores; concepções de licenciando em física.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005