IMPRIMIR VOLTAR
D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 7. Enfermagem
CONDIÇÕES DE TRABALHO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE EM HEMOTERAPIA: RISCOS DE AUTOCONTAMINAÇÃO
Juliana Maria Cavalcante Teixeira 1 (julimct@bol.com.br) e Silvane Rodrigues Lima 1
(1. Universidade Estadual do Ceará - UECE)
INTRODUÇÃO:
A preocupação com risco biológico surgiu a partir dos anos 40 com a constatação dos agravos à saúde dos profissionais que exerciam atividades em laboratórios onde se dava a manipulação com microorganismos e material clínico. Na área clínica, entretanto, somente a partir da epidemia da SIDA na década de 80, foi dada uma maior importância às questões de segurança no ambiente de trabalho. Estudos apontam que o setor de coleta/doação de um hemocentro implica uma maior incidência de acidentes e conseqüente autocontaminação dos profissionais de saúde envolvidos. Sabe-se hoje que além do HIV I e II, outras doenças podem ser transmitidas pelo sangue e fluidos corporais: sífilis, hepatite B e C... Daí a importância da prevenção com uso de EPIs, descarte adequado de material perfurocortante além da conscientização do trabalhador frente aos riscos a que está submetido. Já existem dados que comprovem a qualidade do centro de hemoterapia público. No entanto, no setor privado, ainda não há dados suficientes que garantam confiança no serviço prestado. Daí o interesse pelo tema e a relevância do objetivo do estudo: avaliar as condições de trabalho dos profissionais de saúde envolvidos na coleta e doação de sangue quanto aos riscos de autocontaminação em uma unidade privada de hemoterapia da cidade de Fortaleza.
METODOLOGIA:
O presente estudo foi do tipo descritivo e teve uma abordagem quantitativa. A pesquisa descritiva mostra-se adequada ao trabalho porque conforme Cervo; Bervian (1983, p55), “a pesquisa descritiva observa, registra e correlaciona fatos ou fenômenos variáveis sem manipulá-los”. A pesquisa descritiva procura ainda “classificar, explicar e interpretar os fenômenos que ocorrem, trabalhando sobre dados ou fatos colhidos da própria realidade”. (BARBOSA, 2001, p270). A pesquisa realizou-se em uma unidade privada de referência de Fortaleza-Ceará, tendo como população do estudo os profissionais de saúde que atuam no setor de coleta/doação de sangue, já que são consideravelmente expostos aos riscos de acidentes de trabalho e autocontaminação. A amostra estudada foi consecutiva não probabilística, dependendo da disponibilidade desses profissionais em participar do estudo, totalizando 10 sujeitos. O instrumento de coleta de dados foi um formulário semi-estruturado além da utilização de observação direta do ambiente de trabalho e dos procedimentos efetuados. Os resultados foram organizados em tabelas e gráficos, tendo sido analisados em relação aos achados mais significativos diante dos objetivos propostos. Foram respeitados os aspectos éticos da pesquisa.
RESULTADOS:
40% dos profissionais entrevistados já sofreram algum tipo de acidente de trabalho. Os motivos citados como causa dos acidentes ocorridos foram: respingo de sangue durante o corte do “macarrão” (50%) e durante o manuseio da bolsa de armazenamento (50%). Foram relatados como fatores de risco presentes no ambiente de trabalho: manuseio de agulhas e lancetas de punção digital (60%), descarte do material perfurocortante (20%), respingo de sangue durante os procedimentos (20%) e quebra do tubo de amostra (20%). Todos os profissionais disseram reconhecer os riscos biológicos aos quais estão expostos por trabalharem em um centro de hemoterapia. Quanto ao uso do EPI, 100% dos entrevistados relataram que os usavam, apesar de 10% da amostra, no momento da observação, não estar usando sapatos fechados nem luvas. 100% dos profissionais disseram que a instituição fornecia equipamentos e materiais de proteção de boa qualidade, apesar desse material ser controlado e limitado pela instituição. Outro fator importante é que 40% dos sujeitos falaram da necessidade do fornecimento de óculos de proteção. Os motivos colocados pelo grupo pesquisado como responsáveis pela ocorrência de acidentes são: falta de treinamento (60%), técnica incorreta (40%) e uso incorreto de EPI (20%). Vale ressaltar que 100% dos entrevistados disseram que a instituição oferece cursos de reciclagem e treinamento no intervalo de seis meses a um ano.
CONCLUSÕES:
Os resultados revelam que existe conhecimento dos riscos a que estão expostos os profissionais de saúde. Constatou-se que estes consideravam o treinamento em serviço e a difusão de informações condições fundamentais para a biossegurança. Considerando os achados, parece-nos existir uma preocupação para que seja dada maior importância ao programa de educação continuada já existente. Sugerimos que os treinamentos sejam feitos baseados nas dúvidas e necessidades dos próprios trabalhadores, em períodos regulares e curtos. Quanto ao ambiente, podemos concluir que suas características favorecem a ocorrência de acidentes. Reconhecemos também ser importante a presença de um profissional qualificado em normas de biossegurança para fiscalização constante e para detectar precocemente os fatores ambientais, técnicas e comportamentais que possam vir causar algum risco à saúde dos profissionais e doadores.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Hemoterapia; Enfermagem; autocontaminação.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005