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G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 3. Geografia | ||
GRIPE DO FRANGO: UMA POSSÍVEL NOVA PANDEMIA DO VÍRUS Influenza? | ||
Patrícia Diniz Borges Simas 1 (patisimas@gmail.com) e Paulo Roberto Moraes 1, 2 | ||
(1. Depto. de Geografia, Universidade de São Paulo - USP; 2. Depto. de Ciências do Ambiente, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUCSP) | ||
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho tem por objetivo fazer uma abordagem geográfica da ocorrência da doença conhecida como gripe do frango, que vem assolando o Sudeste Asiático nos últimos anos. Esta doença, que afetou boa parte das criações de aves de toda região, além de provocar enormes prejuízos aos criadores locais, despertou um grande medo na comunidade científica, devido aos efeitos que esta pode ter sobre os homens. Conseqüência de uma linhagem do vírus Influenza, o mesmo que provocou a pandemia da gripe espanhola no século XX, a gripe do frango já se manifestou em alguns habitantes das áreas afetadas, apresentando um alto grau de mortalidade. Até o presente momento (março de 2005) das sessenta e nove pessoas infectadas, quarenta e seis morreram. A preocupação da comunidade científica com relação à doença passa pelo processo de contaminação dos homens. Até agora a quase totalidade dos infectados teve como explicação de sua contaminação o contato direto com frangos doentes, o que dificulta a transmissão entre as pessoas. Porém, se o vírus passar a se transmitir entre humanos, conforme suspeitas já existentes, poderá ocorrer uma pandemia de dimensões incalculáveis. A partir do estudo da evolução epidemológica espacial desta doença, utilizando conceitos e técnicas da geografia da saúde, mostra-se como a interação e as modificações do homem no meio podem criar um quadro favorável para o surgimento e o agravamento de doenças que podem colocar em risco a vida de milhões de pessoas. |
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METODOLOGIA:
Para a realização do presente trabalho, partiu-se do método indutivo, apoiado na lógica indutiva, com base na observação dos fatos e da realidade objetiva. Tal método é composto por um conjunto de procedimentos que envolvem o empírico, o lógico e o intuitivo. Para a execução do mesmo, visando criar uma seqüência lógica ao processo de trabalho, utilizou-se a proposta feita por André Libault (1971), sob o título de "Os Quatro Níveis da Pesquisa Geográfica", já que este traduz uma metodologia aplicável em diferentes ramos de pesquisa. São propostos quatro níveis a serem desenvolvidos na pesquisa. No primeiro nível (compilatório), cabe ao pesquisador fazer o levantamento bibliográfico específico do tema proposto. No segundo nível (correlatório) se faz as correlações das informações levantadas. O terceiro nível (semântico) é a parte interpretativa, que resultará nas conclusões do trabalho. Depois de selecionadas e correlacionadas, as informações obtidas são interpretadas, revelando a evolução dos acontecimentos, suas mudanças, e permitindo ao pesquisador tirar conclusões a respeito do assunto em questão. Prontas as interpretações e as conclusões chega-se o momento de transformar o produto da pesquisa em modelo. O nível normativo não se refere exclusivamente ao estabelecimento de modelos de representação de produto de pesquisa, mas a normatização da aplicação dos resultados da pesquisa elaborada. |
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RESULTADOS:
A gripe que vem afetando os aviários do Sudeste Asiático e que já provocou a morte de milhões de aves, causando o prejuízo de milhões de dólares, é fruto de uma linhagem do vírus Influenza A subtipo H1N5. O que seria apenas mais uma epidemia entre aves, começou a ganhar uma nova dimensão quando em 1997, em Hong Kong, houve a primeira infecção humana documentada com a cepa aviária H1N5. No total foram 18 casos e 6 mortes. No final de 2003 novos casos começaram a aparecer entre homens e a doença eclodiu entre as criações de aves de todo o Sudeste Asiático. Os países afetados foram: Paquistão, China, Coréia do Sul, Coréia do Norte, Japão, Taiwan, Indonésia, Laos, Camboja, Tailândia e Vietnã. Todavia, apenas esses três últimos registraram infecção em humanos. Apresentando um alto grau de letalidade ao homem, a gripe do frango já provocou a morte, entre março de 2004 e março de 2005, de 46 pessoas, num total de 69 casos comprovados. Esta contaminação até então, só se deu a partir do contato direto com aves doentes. Contudo, a grande preocupação dos cientistas está na possibilidade do vírus sofrer uma mutação genética e passar a ser transmitido de homem para homem, como ocorreu no passado em outras pandemias como a da gripe espanhola. Assim sendo, num ambiente propício para o surgimento e agravamento desta doença, como o Sudeste Asiático, os enormes prejuízos econômicos até então registrados não são nada perto do que esta doença poderá provocar para a humanidade. |
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CONCLUSÕES:
O fato de o Sudeste Asiático aparecer como centro de origem e difusão de muitas doenças não é por acaso. Características como o contingente populacional, as alterações no ambiente associadas a um intenso processo de ocupação sem planejamento e as condições de vida e culturais da população, são elementos fundamentais, entre outros, para a criação de tal quadro. Além de serem extremamente povoados, alguns países não possuem infra-estrutura adequada de saneamento básico, criando condições precárias de saúde que são agravadas pelos hábitos culturais, como o de viverem de maneira íntima, em suas casas, com animais como frangos, porcos e patos. Também são grandes criadores desses animais. Numa epidemia provocada pelo vírus Influenza, estas condições são essenciais para sua difusão e mutação. Quanto maior o número de animais aglomerados, maior a chance de contaminação dos mesmos pelo vírus e maior o número desses circulando na natureza. Conseqüentemente maior será o risco de ocorrerem mutações dos mesmos e entre estas aquelas com capacidade de levar o homem a morte. Percebe-se assim a relação intrínseca existente entre a origem/evolução de uma epidemia e o ambiente onde ela ocorre. A probabilidade de ocorrer uma mutação do Influenza A, H1N5, em mamíferos contaminados pelas aves, e o vírus passar a se transmitir homem-homem é de tal ordem, que atualmente não resta outra possibilidade senão a do extermínio em massa de animais contaminados, a fim de evitar uma possível tragédia. |
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Palavras-chave: Influenza; Sudeste Asiático; Geografia da Saúde. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |