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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social | ||
IMPLICAÇÕES PSICOLÓGICAS DA VIOLÊNCIA FÍSICA DOMÉSTICA CONTRA MULHERES | ||
Camila Gimenes Rodrigues 1 (camila_gimenes@hotmail.com), Jamile Raymundi Esteves 1, Liliana Emília Frizzera 1 e Luziane Zacché Avellar 1 | ||
(1. Depto. de Psicologia Social e do Desenvolvimento, Universidade Federal do Espírito Santo - UFES) | ||
INTRODUÇÃO:
A violência doméstica pode ser definida como toda ação que prejudique o bem-estar, a integridade física, psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de um membro da família. Existem quatro tipos mais freqüentes de violência familiar, que são: violência física, psicológica, sexual e negligência. Optamos por estudar a violência física sofrida por mulheres e cometida por seus parceiros. A violência contra as mulheres é o tipo mais generalizado de abuso dos direitos humanos no mundo. Nela, o abuso pelo parceiro íntimo é mais comumente parte de um padrão repetitivo, de controle e dominação, do que um ato único de agressão física, e pode ser provocada pela interação de diferentes fatores pessoais, situacionais e socioculturais. As reações femininas são diversas, tais como resistências, fugas ou tentativas de manter a paz, submetendo-se às exigências de seus maridos. As conseqüências atingem principalmente a saúde física e emocional das mulheres, assim como o bem estar de seus filhos. Nosso estudo visa compreender algumas das conseqüências sofridas pelas mulheres vítimas de violência física doméstica, mais particularmente os sentimentos, que são as percepções de alterações no corpo e os efeitos psicológicos, que são as reações decorrentes de um sentimento, ambos despertados após a violência. Dessa forma, nossa pesquisa busca identificar os sentimentos e os efeitos psicológicos relatados pela mulher vítima de abuso físico cometido pelo companheiro. |
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METODOLOGIA:
A fim de responder ao problema exposto, faremos uso do método de estudo de caso, por acreditarmos que ele poderia proporcionar a oportunidade de aprofundamento em questões do nosso interesse, como o próprio relato de agressão sofrido pela vítima, seus sentimentos em relação à situação vivenciada por ela, assim como as conseqüências dessa vivência. A pesquisa teve apenas um sujeito, que se estruturou sob a forma de um estudo descritivo. A indicação do sujeito se deu por meio de um contato pessoal com uma das pesquisadoras. Foram realizadas três visitas ao sujeito, que foram marcadas de acordo com sua disponibilidade, sendo realizadas em local escolhido pelo mesmo. Foi utilizada uma entrevista semi-estruturada. Nossa proposta inicial era de gravar todas as entrevistas, entretanto, uma objeção do sujeito no primeiro encontro impediu que o mesmo fosse gravado. Conseguimos convencê-lo, porém, a permitir que gravássemos as outras duas entrevistas, de modo que nos foi possível aproveitar ao máximo cada parte do diálogo. Os últimos relatos do sujeito foram transcritos e posteriormente analisados. |
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RESULTADOS:
Como forma de preservar a identidade dos sujeitos envolvidos no caso, foram atribuídos nomes fictícios aos mesmos. Suzana tinha 33 anos na ocasião da entrevista e exercia a profissão de depiladora. Relatou ter sido vítima de vários episódios de violência física por parte de João, que na época era seu marido. A entrevistada alegava sentir muito medo, o qual era dirigido para o marido. Na medida em que os atos de agressão se repetiam, esse medo se estendeu para diversos outros aspectos da vida do sujeito. Um outro sentimento também relatado por Suzana foi o ódio que ela sentia pelo companheiro quando aconteciam os episódios de violência, além do sentimento de humilhação. Um outro aspecto a ser considerado se refere aos efeitos psicológicos relatados pela vítima de abuso físico. A entrevistada relatou que as agressões fizeram com que ela sofresse muito. O sentimento de medo gerou um efeito psicológico, que foi o de achar que todos os homens eram iguais e, conseqüentemente, provocando no sujeito uma dificuldade de se relacionar afetivamente outra vez. Outros efeitos psicológicos também foram encontrados, tais como estresse e nervosismo. Durante a leitura dos relatos do sujeito, sentimos a necessidade de considerar também situações que não são nem sentimentos, nem efeitos psicológicos, mas que descrevem o estado de sofrimento da entrevistada, sendo criada, assim, uma terceira categoria, na qual podemos destacar o cansaço, a revolta e pensamentos agressivos em relação ao marido. |
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CONCLUSÕES:
Conforme visto no relato de trabalho de campo, os sentimentos relatados com maior freqüência pelo sujeito foram medo e ódio dirigidos ao ex-marido e humilhação. Com relação aos efeitos psicológicos, o sujeito relatou ter sofrido muito, chegando a acreditar que todos os homens seriam iguais, o que a impediu de estabelecer, durante algum tempo, novas relações amorosas. Outros efeitos psicológicos encontrados foram a depressão, o estresse e o nervosismo. Quanto à última categoria, o sujeito relatou estar cansado da situação vivenciada, encontrando-se em uma situação limite, além de haver se mostrado revoltada e com pensamentos agressivos em relação ao antigo parceiro. A realização desse trabalho nos fez atentar para a freqüência com que a violência doméstica ocorre, bem como para sua baixa divulgação, para as conseqüências devastadoras que traz para suas vítimas e a dificuldade que as últimas possuem de tratar do assunto, o que muitas vezes as inibe de adotar as providências necessárias. É importante ressaltar também a necessidade de uma atuação mais eficaz do governo na ampliação dos meios de atendimento às vítimas de violência doméstica, sejam elas mulheres, crianças ou idosos. Assim, a efetivação da pesquisa foi importante no sentido de alertar para a dimensão do problema, a fim de que cada vez mais mulheres tenham ciência da questão e, sendo influenciadas pelo trabalho, possam ter mais iniciativa caso venham a sofrer abusos desse tipo, ou aconselhar outras vítimas. |
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Palavras-chave: Violência doméstica; Implicações psicológicas; Estudo de caso. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |