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G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 7. Etnologia Indígena | ||
A DISPUTA DE PODER-SABER: BIOMEDICINA X SISTEMAS XAMÂNICOS | ||
Ana Caroline Amorim Oliveira 1 (carolineana@yahoo.com.br) e Elizabeth Maria Bezerra Coelho 1 | ||
(1. Depto. de Sociologia e Antropologia, Universidade Federal do Maranhão-UFMA) | ||
INTRODUÇÃO:
A universalização de atendimento da saúde no Brasil, a partir da Constituição de 1988, abrange também os povos indígenas, antes atendidos pela Fundação Nacional do Índio e, atualmente, pela Fundação Nacional de Saúde. Apesar do novo modelo de atendimento a saúde ter como características básicas o atendimento especifico e diferenciado aos indígenas, sua estrutura burocrática desconhece as dinâmicas das sociedades indígenas e utiliza como forma básica de tratamento a biomedicina ocidental. Este atendimento põe em confronto noções diversas de saúde e doença. Este confronto acaba por influenciar e, às vezes modificar, não só as concepções do fenômeno-saúde e doença, por parte dos povos indígenas, como também os valores relativos ao corpo, a sociedade e, principalmente, às suas crenças. O objetivo deste trabalho é analisar este campo político (Bourdieu, 2002), tomando como campo empírico as relações desenvolvidas em Barra do Corda (MA), junto ao povo Ramkokamekra, onde dois tipos de saberes, biomedicina e saber “tradicional”, legitimados por seus especialistas, disputam a autoridade legítima pra afirmar a saúde indígena. |
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METODOLOGIA:
Para pensar essa disputa utilizei como categorias o “poder simbólico” e “campo político” de Pierre Bourdieu (2002), a “eficácia simbólica” de Lévi –Strauss (2003) e a noção de “fronteira” de Tassinari (2001), .Os dados empíricos foram obtidos em viagens à campo onde foram realizadas conversas informais com enfermeiros, funcionários da FUNASA e indígenas. Utilizei ainda como fonte artigos dos jornais O Estado do Maranhão, O Imparcial e Jornal Pequeno. |
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RESULTADOS:
Nesta disputa de saberes, alterna-se a dinâmica da hierarquia no campo. Há momentos em que ocorre um predomíno do saber biomédico, especialmente em situações nas quais os índios reconhecem tratar-se de “doença de branco” . Nestes casos reconhecem ser limitada a eficácia do pajé. Em outras situações, como o parto, no caso dos Ramkokamekra, há predominância do saber indígena. O parto ocorre na aldeia, num ritual do qual somente mulheres participam e ao final enterram a placenta no chão da casa. Nesse caso a medicina ocidental não tem tanta eficácia e legitimidade quanto o saber indígena. Em outras situações, pode-se observar uma troca de conhecimentos das diferentes tradições, atuando os profisisonais médicos e os pajés. Isso ocorre quando um saber passa a legitimar o outro saber , como muitas vezes ocorre em Barra do Corda, quando o índio que está sendo atendido no Pólo–base da FUNASA pede a presença do pajé, que realiza seus rituais conjuntamente com o tratamento médico ao qual o doente está sendo submetido. |
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CONCLUSÕES:
Ao analisar este campo de disputa, a saúde indígena em Barra do Corda, percebemos que a convivência de culturas diferenciadas tende a uma hierarquização. Ocorre, no caso, uma predominância do saber biomédico no contexto do atendimento realizado pela FUNASA, à revelia do que está disposto no discurso oficial. No entanto, as fronteiras entre os diferentes saberes são flexíveis. Os indígenas estão no campo de disputa e articulam-se procurando fazer valer seus conhecimentos quando entendem que são eficazes, e reivindicam o atendimento médico quando o reconhecem como legitimo. A troca de saberes ocorre quando os índios legitimam o saber médico e insistem na conjugação deste com o saber indígena. Fazem valer sua concepção de saúde-doença, que é holística e requer o acompanhamento do pajé, mesmo quando se trata de “doença de branco”. |
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Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: Saúde Indígena; Poder; Saber. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |