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D. Ciências da Saúde - 2. Medicina - 7. Saúde Materno-Infantil
Avaliação da estratégia de Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI) no Nordeste do Brasil
João Amaral 1 (joaoamaral@terra.com.br), Eleanor Gouws 2, Jennifer Bryce 2, Álvaro Jorge Madeiro Leite 1, Antonio Ledo Alves da Cunha 3 e Cesar Gomes Victora 4
(1. Departamento de Saúde Materno Infantil, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Ceará - UFC; 2. Department of Child and Adolescent Health and Development, World Health Organization - WHO; 3. Inst. de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ; 4. Departamento de Medicina Social, Universidade Federal de Pelotas - UFPel)
INTRODUÇÃO:
A estratégia da Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI) foi desenvolvida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) juntamente com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) com o intuito de melhorar as condições de saúde das crianças. No Brasil, a AIDPI está sendo implementada no contexto do Programa de Saúde da Família (PSF). È de fundamental importância à avaliação dessa estratégia para determinar se a estratégia da AIDPI produz um impacto mensurável sobre os desfechos da saúde infantil. Para isso a OMS desenvolveu a Avaliação Multi-Países da Efetividade, Custo e Impacto da AIDPI (MCE), aplicado a cinco países: Bangladesh, Brasil, Tanzânia, Uganda e Peru. O objetivo geral da MCE no Brasil é avaliar o impacto da estratégia da AIDPI sobre a saúde infantil através da comparação de municípios com e sem implementação da AIDPI. Os objetivos específicos incluem avaliar o efeito do treinamento em manejo de caso em AIDPI sobre a qualidade da atenção prestada a crianças abaixo de cinco anos de idade atendidas em unidades de atenção primária e comparar as estruturas de suporte aos serviços de saúde em unidades com e sem implementação da AIDPI.
METODOLOGIA:
Foi realizado um inquérito em municípios com 5.000 a 50.000 habitantes de quatro estados do Nordeste do Brasil. Os critérios para a seleção de municípios de intervenção e comparação incluíram a presença de uma rede apropriada de unidades de atenção primária e presença continuada e cobertura apropriada (no mínimo 60%) de profissionais de saúde que atendiam crianças com treinamento em AIDPI recebido durante os dois anos precedentes. Os municípios de comparação deviam ter equipes sem nenhum profissional de saúde treinado em AIDPI. A amostra definitiva consistiu de oito municípios com AIDPI e oito sem nos Estados de Paraíba e Pernambuco, sete municípios com AIDPI e sete sem no Ceará, e cinco municípios com AIDPI e sete sem no Estado da Bahia. Os dados sobre a qualidade da atenção foram obtidos por meio da observação do manejo de caso, entrevistas com a mãe ou acompanhante após o atendimento, reavaliação de cada criança por um pesquisador (padrão-ouro) treinado, entrevistas com profissionais de saúde e verificação dos equipamentos e insumos disponíveis na unidade. O desempenho dos profissionais de saúde foi avaliado usando os indicadores padronizados de qualidade de atenção à saúde elaborados pela OMS. A análise estatística foi feita com o programa STATA 7.
RESULTADOS:
A coleta de dados aconteceu de julho a novembro de 2002 em quatro estados (Ceará, Paraíba, Pernambuco e Bahia). Foram incluídas 653 crianças incluídas no estudo, 87% foram examinadas por médicos e 13%, por enfermeiros. Uma análise conjunta dos dados de todas as unidades de saúde mostrou que 39% dos médicos e 83,9% dos enfermeiros incluídos na avaliação haviam recebido treinamento em AIDPI. Os profissionais com treinamento em AIDPI apresentavam uma probabilidade significativamente maior de classificar corretamente a criança do que profissionais sem treinamento, com uma razão de prevalência ajustada igual a 2 (IC: 95%; faixa: 1,6–2,4; p<0,001). O desempenho dos profissionais de saúde com treinamento em AIDPI foi significativamente melhor que o dos profissionais de saúde sem treinamento. A comunicação com a mãe ou acompanhante foi significativamente melhor quando a criança era atendida por um profissional de saúde com treinamento em AIDPI..Foram observadas diferenças significativas entre profissionais com e sem treinamento em AIDPI, na avaliação da criança, classificação da doença, tratamento e comunicação com a mãe ou seu suplente. Enfermeiros treinados em AIDPI mostraram desempenho tão bom quanto, e às vezes melhor do que, médicos treinados em AIDPI.
CONCLUSÕES:
Os autores concluem que embora ainda haja necessidade de melhoria, o treinamento em AIDPI melhora o desempenho dos profissionais de saúde no tratamento de crianças, e que as regiões brasileiras que ainda não implementaram a AIDPI devem ser incentivadas no sentido de adotá-la.
Instituição de fomento: Bill and Melinda Gates Foundation
Palavras-chave:  Infância; Estudos de Avaliação; Análise de Desempenho Profissional.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005