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E. Ciências Agrárias - 1. Agronomia - 2. Economia e Sociologia Agrícola
O USO DA FLORESTA NA AGRICULTURA FAMILIAR: ESTUDO DE CASO DE AGRICULTORES FAMILIARES NA TRANSAMAZÔNICA, PARÁ
Dilailson Araujo de Souza 1 (dilailson@bol.com.br), Ana Débora da Silva Lopes 1, Márcia Cristina Delfina 1, Jefferson Bonifácio Albuquerque de Menezes 1 e Iliana Salgado 1, 2
(1. Universidade Federal do Pará - Campus de Altamira; 2. Laboratório Agroecológico da Transamazônica)
INTRODUÇÃO:
A Amazônia vem sendo ocupada por agricultores imigrantes desde a abertura de estradas e a implementação de projetos de colonização, como é o caso da região da Transamazônica. Esses agricultores vêm trabalhando principalmente com a agricultura de corte e queima e pecuária. Demais atores imigrantes na região, como madeireiros e fazendeiros, têm contribuído também de forma significativa para o desmatamento na região. O desmatamento leva não só a problemas ambientais diretos (como perda da biodiversidade, perda de nutrientes do solo, poluição atmosférica, etc), como também põe em risco a própria sustentabilidade dos sistemas de produção dos agricultores, fazendo com que, muitas vezes, eles busquem novas terras para uso. A presente pesquisa, em etnoecologia, na região da Transamazônica busca verificar os usos locais da floresta, os quais podem ocorrer de maneira sustentável, visando à conservação dos recursos naturais, ou podem ocorrer sob condições predatórias, provocando a destruição e o desequilíbrio ecológico. Buscou-se também compreender a realidade vivenciada pelos agricultores com relação ao desenvolvimento da prática agrícola como ponto de referência ao uso da floresta, observando suas práticas e percepções sobre este ecossistema e identificando o desenvolvimento de técnicas e modos de produção agrícola que não somente aumentem a produtividade, mas que evitem o desmatamento florestal.
METODOLOGIA:
A pesquisa foi desenvolvida a partir de um trabalho de campo, realizado através de visitas às propriedades de oito famílias de trabalhadores rurais, assentados em área de reforma agrária, na Gleba Assurini, próximo à cidade de Altamira-Pará. Nestas visitas, foram feitas entrevistas com as famílias a partir de um roteiro pré-elaborado, buscando informações sobre a trajetória da família, os recursos naturais existentes no início da ocupação, a utilização atual dos recursos naturais, exploração e extração de cada produto, a utilização da terra para agricultura e a percepção sobre os recursos naturais. Durante as entrevistas, foram elaborados, juntamente com os agricultores, mapas de seus lotes, evidenciando as parcelas de cultivos agrícolas, pastagens, áreas de mata e capoeiras, recursos hídricos e tipos de solo. Foram feitas também visitas às roças e demais áreas da propriedade, como forma de se compreender melhor as práticas utilizadas pelos agricultores, através da observação e diálogo com eles. Também foram utilizados dados secundários sobre o funcionamento desses mesmos estabelecimentos agrícolas, referentes a estudos realizados por alunos do curso de Agronomia (Campus UFPA-Altamira) durante seus estágios de vivência curriculares. Um levantamento bibliográfico sobre os temas relacionados à pesquisa (desmatamento, agricultura familiar na Transamazônica, etnoecologia, etc) também foi realizado anteriormente ao trabalho de campo.
RESULTADOS:
Os dados mostram que grande parte dos agricultores é originária do Nordeste, sendo que todos já tinham experiência com agricultura antes da migração. O tempo de ocupação nas propriedades varia de 1 a 20 anos. Suas áreas variam entre 34 a 84 hectares. A floresta é usada para atividades agrícolas, destacando-se as culturas anuais (milho, feijão, arroz, mandioca) e as lavouras perenes (cacau, café e pimenta do reino), além do plantio do capim para pastagem. É utilizado o sistema do corte-queima, não existindo ainda práticas mais sustentáveis de uso da terra. Nesse contexto, o desmatamento em floresta primária causou o empobrecimento do solo e, em algumas propriedades, a destruição quase que completa da mata. Quanto à regeneração da floresta, alguns agricultores utilizam o pousio em média por quatro anos, e depois volta a ser utilizada para a agricultura, diminuindo a abertura em mata primária. Outra parte dos agricultores acha que a capoeira não é tão importante e, após o primeiro plantio, logo são implantados pastos, o que leva a futuras aberturas na floresta para novos plantios de roças. Embora seja pouca a prática do extrativismo, as famílias retiram da floresta madeira para suprir as necessidades, como na construção de cercas e estacas para plantio de pimenta. Além disso, a castanha do Brasil também é extraída por alguns agricultores, tanto para o consumo como para a venda. Há também a extração de óleos medicinais como copaíba e andiroba. A caça e pesca são pouco realizadas.
CONCLUSÕES:
Com base nas informações e observações a respeito da realidade vivenciada pelos agricultores da Gleba Assurini, foi possível um maior entendimento sobre o uso da floresta relacionado com a prática da agricultura. A partir dessa prática compreendeu-se que a floresta tem sido, na maioria dos casos, percebida pelos agricultores como reserva de fertilidade, ou seja, local para implantação de novas roças com bastante disponibilidade de nutrientes (através da queima da biomassa vegetal). A floresta, enquanto recursos florestais madeireiros, não-madeireiros e faunísticos, é pouco utilizada, pois o extrativismo está sendo uma atividade restrita ao consumo das famílias, sendo raras as vezes em que se vende algo da floresta. Por fim, foi possível observar quanto à percepção dos agricultores sobre sustentabilidade do uso da terra na propriedade, que alguns acreditam que fizeram bom uso da terra, podendo permanecer na mesma por um bom tempo (mais gerações). Por outro lado, outros agricultores reconhecem que utilizaram a terra de maneira predatória, comprometendo a sustentabilidade da família na propriedade a ponto de estarem tornando-se meeiros para o plantio de roças, como é o caso de um agricultor priorizou a pecuária em sua propriedade, não disponibilizando áreas férteis para a prática da agricultura.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Floresta; agricultura familiar; uso sustentável.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005