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F. Ciências Sociais Aplicadas - 11. Educação Física e Esportes - 1. Educação Física e Esportes
A ideologia de promoção da saúde: a ginástica na empresa frente à degradação do corpo do trabalhador
Robson de Lara Cunha 1 (robsonlc22@hotmail.com) e Wilson Rinaldi 1
(1. Depto. de Educação Física, Universidade Estadual de Maringá - UEM)
INTRODUÇÃO:
A atividade física na empresa é socialmente aceita, pois transmite a idéia de um corpo saudável. Todavia, por meio da construção histórica da sociedade capitalista, evidencia-se que a mesma vem sendo utilizada atualmente como um instrumento ideológico de promoção da saúde do trabalhador. Diante disso, o objetivo deste estudo foi verificar que ideologia está presente na proposta de atividade física na empresa.

Atualmente a identificação de possíveis efeitos benéficos induzidos pela prática de atividade física parece ser cada vez mais evidente, assim como a crescente preocupação mundial tanto em relação à qualidade de vida e estilo de vida como das conseqüências e efeitos nocivos à saúde que a inatividade física causa.

É no contexto da procura de um corpo saudável, da qualidade de vida e da degradação do corpo do trabalhador, que a atividade física é inserida na empresa, com uma ideologia de promoção da saúde, ocultando o objetivo essencial que é compensar o desgaste físico do trabalhador na busca de funcionários sempre dispostos ao trabalho e que sejam capazes de produzir mais num mesmo período de tempo.

Tendo em vista que a atividade física na empresa e seus possíveis benefícios vêm sendo amplamente divulgados, estando intimamente ligados ao campo da Educação Física, observamos a importância e a relevância de se realizar esta pesquisa, uma vez que a mesma é pertinente à formação e atuação crítica dos profissionais desta área e afins.
METODOLOGIA:
O encaminhamento metodológico foi de cunho bibliográfico, contando com um estudo de campo de natureza descritiva, tendo como população, funcionários de uma empresa contábil. A amostra foi constituída de 30 trabalhadores, de ambos os sexos, com idade entre 18 a 50 anos.

Levando-se em consideração as características do trabalho, o mesmo desenvolveu-se através de:

1 - Levantamento bibliográfico acerca da atividade física e seus possíveis efeitos, em se tratando de saúde e qualidade de vida;

2 - Investigação do surgimento da atividade física na empresa e seu papel frente à degradação do corpo do trabalhador na atualidade;

3 - Leitura e classificação das principais doenças que se desenvolvem no mundo do trabalho;

4 - Categorização e discussão do nível de atividade física, a classe econômica e o estilo de vida individual dos trabalhadores em amostra;

5 - Análise do perfil dos trabalhadores e os possíveis efeitos da atividade física frente à degradação de seus corpos.
RESULTADOS:
A partir de leituras e com o desenvolvimento da pesquisa, verificamos que os possíveis efeitos benéficos resultantes da prática de atividade física na empresa parecem ser cada vez mais evidentes e vêm sendo utilizados sobre o pretexto de correção ou precaução diante de problemas gerados pelas indústrias nos trabalhadores.

Neste estudo percebemos que no decorrer da história, com o crescimento da exploração do capitalismo e da degradação humana, tornou-se interessante o desenvolvimento da aptidão física nas empresas com o discurso da saúde como forma de compensação e melhora das diversas doenças como L.E.R/D.O.R.T provenientes de atividades de intenso esforço e de inúmeras repetições.

Analisando o perfil dos trabalhadores em amostra, notamos que tanto o nível de atividade física como o estilo de vida deles não é adequado, uma vez que com uma grande carga de trabalho, as oportunidades para se praticar atividade física fora do ambiente de serviço acabam sendo diminuídas ao passo que a exercitação na empresa não traz reais benefícios à saúde dos mesmos e sim vem com o intuito de compensar a degradação e aliená-los em prol do crescimento da produção.
CONCLUSÕES:
No estudo realizado, deu-se para verificar que a concepção de saúde que fundamenta a atividade física na empresa é equivocada e tem a sua gênese nos conceitos positivistas, que não levam em conta as dimensões sociais, culturais e comportamentais, pois entende o corpo atual como consumidor e objeto de consumo.

Com a categorização do nível de atividade física, da classe econômica e do estilo de vida individual dos trabalhadores, percebemos que os mesmos têm poucas oportunidades para se exercitar, e uma grande carga de trabalho, o que os impedem de estar optando por uma atividade que lhes dêem prazer, satisfação e que realmente promova saúde.

Fica claro que a classe detentora do poder utiliza-se da atividade física para amenizar os males da exploração e aumentar a produção, a fim de alcançar mais lucros e fazer com que as pessoas menos conscientes e alienadas fiquem a favor do atual modelo existente. Toda essa reflexão reforça a necessidade de se discutir com urgência o papel do profissional de Educação Física frente à qualidade de vida do trabalhador, que deve ser em prol, sobretudo, da saúde e não do crescimento da produção e da alienação.
Instituição de fomento: Universidade Estadual de Maringá
Palavras-chave:  Ideologia; Atividade Física na empresa; Produção.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005