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H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 4. Literaturas Modernas | ||
NOVAS MÍDIAS: VISUALIDADE NA POESIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA | ||
Patrícia Ferreira da Silva Martins 1 (patricia@wsmartins.net) e Goiandira de F. Ortiz de Camargo 1 | ||
(1. Depto. de Estudos Linguísticos e Literários, Universidade Federal de Goiás - UFG) | ||
INTRODUÇÃO:
Este artigo propõe uma abordagem, para a análise das poesias das novas mídias, capaz de amparar a nova dimensão da experiência verbal que surge com essa prática poética. Esta análise é aplicada, aqui, ao holopoema "Abracadabra" (1984-5) de Eduardo Kac e ao vídeo poemas "Dentro" (1993) de Arnaldo Antunes. No contexto das novas mídias, os significados verbal e visual tornam-se indissociáveis. Além disso, essa prática poética só se constitui materialmente no ato instantâneo da comunicação, possibilitado pela interatividade. Deste modo, priorizamos o trabalho de interpretação, efeito de sentido que se institui entre a imagem e o olhar (feedback), bem como os elementos constitutivos da própria imagem. Apresentamos, também, uma descrição das poesias das novas mídias distinguindo essa prática em oposição à poesia visual gráfica. |
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METODOLOGIA:
As imagens interativas provocam uma ruptura no contexto da comunicação de imagem com a introdução do diálogo. A palavra, no contexto das novas mídias, possui um deslocamento característico das imagens cinematográficas. Atualmente, diversos pesquisadores estão assumindo o desafio de propor novos modos de “leitura” para analisar a imagem como discurso. É o que propõe, por exemplo, Eduardo Kac no ensaio “Imagem, Espaço” (2004), onde comenta a possibilidade de uma sintaxe visual para a leitura da palavra em estruturas tridimensionais (holopoemas). A concepção de Kac, deslocada dos conceitos de Saussure (1974) sobre a natureza linear do significante lingüístico, prevê uma análise da "palavra-imagem" em seu desenvolvimento temporal no espaço volumétrico. Numa linha semelhante, Tânia C. C. de Souza (2001), desenvolve o conceito de “policromia” para uma análise da imagem, em sua constituição híbrida visual/verbal, com ênfase nos elementos visuais como operadores do discurso. Seguindo as propostas de Kac e Souza, apresentamos uma abordagem para a análise das poesias das novas mídias enfatizando, no trabalho instantâneo de interpretação, os elementos constitutivos da própria imagem: jogo de formas, luz, cores, sombras e suas configurações no tempo e no espaço. |
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RESULTADOS:
A análise dos poemas das novas mídias, "Abracadabra" de Eduardo Kac e "Dentro" de Arnaldo Antunes, aponta para o fato de que a mudança dos materiais de produção poética implica na necessidade de mudar a maneira de interagir com as palavras. A dinâmica adquirida pela palavra, nessa prática poética, promove a desconstrução do conteúdo semântico dos poemas. Apesar da presença do código verbal, a comunicação é marcadamente plástica. É o domínio da plástica que supera a leitura de sentidos semânticos nesses poemas. |
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CONCLUSÕES:
O esforço de vários estudiosos em busca de novos modos de "leitura" das imagens, produzidas nos meios eletrônicos, indica uma mudança de atitude em relação à noção da reprodutibilidade da obra de arte no mundo contemporâneo e, também, em relação ao mito da assepsia da comunicação da imagem no contexto tecnológico. A interação, com os poemas das novas mídias, revela elementos presentes no imaginário, individual e coletivo, do leitor. O trabalho de interpretação desses poemas provoca uma ação intelectual, cada mínimo ângulo dos poemas é como peças de um quebra-cabeça em que não existe o todo, somente a busca das partes. Finalmente, concluímos que precisamos desenvolver uma prática de alfabetização visual, pois a leitura da imagem não automática. Sem a alfabetização visual é que o mito da assepsia da comunicação da imagem no contexto tecnológico poderá perdurar. |
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Palavras-chave: Novas Mídias; Poesia Visual Gráfica; Imagem. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |