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G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 8. Antropologia
AS LÍNGUAS JÊ NO CONTEXTO DA ESCOLA TIMBIRA
Antonio José Silva Santana 1 (betac@elo.com.br) e Elizabeth Maria Beserra Coelho 2
(1. Curso de Letras-UFMA; 2. Departamento de Sociologia e Antropologia-UFMA)
INTRODUÇÃO:
Este trabalho se propõe a analisar o uso das línguas indígenas na Escola Timbira. Entende-se que uma escola indígena precisa estar de acordo com as especificidades lingüístico-culturais do povo no qual está inserida (RCNEI, 1998). A Escola Timbira, partindo da concepção do “País Timbira” desenvolvida por Nimuendaju (1946), congrega alunos de seis povos Timbira Krikati, Krahô, Apinajé, Pykobjê, Apãniekrá e Ramkokamekrá. A Escola funciona em módulos e os conteúdos ministrados, cumprindo o currículo mínimo previsto pelo MEC, são direcionados para a realidade de cada povo. Trata-se de uma experiência desenvolvida pelo Centro de Trabalho Indigenista – CTI, em parceria com a Secretaria de Estado da Educação, no Maranhão, na perspectiva de desenvolver uma formação escolar para os Timbira, específica e diferenciada.
METODOLOGIA:
A presente investigação foi realizada a partir do acompanhamento de dois módulos da Escola Timbira. Além da observação direta das atividades, foram feitas entrevistas com alunos Timbira e com a coordenadora do projeto. Foram utilizados as descrições lingüísticas de Alves (1999) e de Amado (2004) para analisar os aspectos lingüístico-estruturais, Kymlicka (1996) para pensar a questão sob o ponto de vista multicultural e Calvet (2002) no que se refere a política lingüística.
RESULTADOS:
Entre cerca de sessenta alunos, apenas um, cujo povo se autodenomina Krepumkatejê, é monolíngüe em Português. Apesar das aulas serem ministradas em Português e dos materiais também serem produzidos nessa língua, a Escola desenvolve-se em um contexto bilíngüe, pois os alunos conversam entre si nas suas línguas e fazem apresentações nessas línguas e em Português. Há necessidade da constante presença do Português pelo fato dos professores não serem indígenas e não dominarem as línguas indígenas e, segundo os alunos, pela falta de inteligibilidade entre os Apinajé e os alunos dos outros povos. A ausência de materiais produzidos nas línguas indígenas deve-se a um dos objetivos da Escola Timbira que é uniformizar a grafia, partindo do pressuposto de que se trata de uma única língua com manifestações dialetais.
CONCLUSÕES:
A partir desse contexto percebe-se que, na tentativa de reforçar uma identidade Timbira (Ladeira, 2004), na constituição da Escola Timbira pensou-se mais nas similaridades culturais entre esses povos, do que em suas especificidades. Krahô, Pykobjê, Apaniekrá, Ramkokamekrá e Krinkati entendem-se porque, numa perspectiva da lingüística descritiva, falam dialetos da língua Timbira. O Apinajé, mesmo pertencendo à família lingüística Jê, assim como as demais, seria uma língua distinta (Rodrigues, 1986). Apesar de haver compreensão entre vários alunos em nível da comunicação oral, há divergências na grafia de suas línguas. A Escola Timbira tem desenvolvido um processo de uniformização da grafia. Quando essa proposta é levada aos alunos, gera polêmica, pois mesmo aqueles que falam o que lingüistas consideram um dialeto Timbira, afirmam falar algo distinto do outro povo que, sob o ponto de vista da Lingüística descritiva, fala a mesma língua. Isso ocorre porque a língua constitui um traço de identidade e, dessa forma, cada povo reivindica a idéia de falar uma língua diferente como um meio de manter sua alteridade, também, por meio de sua língua. A Escola Timbira constitui assim um campo de lutas pelo poder de afirmar a definição legítima do que seja uma língua (Bourdieu,1989).
Instituição de fomento: CNPq
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Educação escolar; Índios; Escola Timbira.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005