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C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 4. Ecologia
REPRODUÇÃO DE Dysdercus maurus, MANCHADOR DO ALGODÃO, EM DIFERENTES TEMPERATURAS E ALIMENTADO COM SEMENTES DE PAINEIRA
Fábio Souto de Almeida 2, 4 (fbio_almeida@yahoo.com.br), Lenicio Gonçalves 1, 4 e Bruno de Souza Gonçalves 3, 4
(1. Depto. de Ciências Ambientais, Insto. de Florestas, UFRuralRJ - UFRRJ, CPGCAF, PPGEPA; 2. Depto. de Ciências Ambientais, Insto. de Florestas, UFRuralRJ - UFRRJ; 3. Centro de Ciências da Saúde, Insto. de Biologia, Univ. Federal do Rio de Janeiro - UFRJ; 4. Laboratório de Ecologia de Insetos - LEI, DCA/IF/UFRRJ, SINTEEG)
INTRODUÇÃO:
Insetos do gênero Dysdercus Guérin Menéville, 1831 (Hemiptera: Pyrrhocoridae) já foram observados se alimentando de plantas de diversas famílias, como Amaranthaceae, Bombacaceae, Compositae, Euphorbiaceae, Rubiaceae, Tiliaceae e Sterculiaceae. Além destas famílias, estes insetos também se alimentam de plantas da família Malvaceae, como o algodoeiro (Gossypium spp.), e Rutaceae, como a laranjeira e a tangerineira (Citrus spp.), podendo causar sérios danos a essas culturas. Dysdercus maurus é uma das mais importantes espécies deste gênero, pois, além de possuir grande número de plantas hospedeiras, possui ampla distribuição geográfica e é uma das mais competitivas por alimento. Muitos estudos vêm demonstrando a influência da temperatura e do alimento sobre a reprodução dos insetos. A temperatura é uma variável de grande importância, ela influencia a distribuição geográfica das espécies e também a sua prolificidade, tendo grande expressão sobre variáveis populacionais. Assim, estudos que demostrem a influência da temperatura sobre os insetos podem auxiliar na compreensão de sua dinâmica populacional, na previsão de picos populacionais, regiões de ocorrência, podendo também ajudar a otimizar a criação massiva em laboratório. Apesar de sua importância, existem poucos estudos sobre a expressão da temperatura nos parâmetros reprodutivos de D. maurus. O objetivo deste trabalho é determinar a influência da temperatura sobre alguns parâmetros reprodutivos deste hemíptero quando alimentado com sementes de Chorisia speciosa.
METODOLOGIA:
Foram realizados quatro tratamentos, três em estufas BOD ajustadas a 20, 25 e 30 ± 1 ºC de temperatura, 80 ± 3% de UR e 12 h de fotofase, e um sob condições ambientais. Para o último, foram registradas três vezes ao dia, a temperatura e umidade relativa do ar. Também se registrou a temperatura máxima e mínima do dia. Posturas obtidas de insetos capturados no campo e mantidos em laboratório foram individualizadas em placas de Petri e submetidas aos tratamentos. A 20 ºC foram individualizadas 52 ninfas de primeiro ínstar, já a 20, 25 e a 30 ºC e ambiente foram 54, todas mantidas em potes de polietileno transparente de 250 ml. Com os adultos emergidos montou-se casais, e estes foram mantidos em potes de 500 ml. Os insetos receberam sementes de C. speciosa, previamente umedecidas em água destilada por 24 horas. Ninfas de primeiro e segundo ínstares recebiam três sementes. Ninfas dos demais ínstares e adultos recebiam cinco sementes. Também recebiam água, por meio de um algodão umedecido. Através de observação diária, se determinou valores médios de fecundidade, fertilidade, inviabilidade, número de ovos por postura e de postura por fêmea. Também foram calculadas: a porcentagem de ovos inviáveis, a taxa de fertilidade, a razão de sexos, a duração média de uma geração (G) e a razão finita de crescimento (l); esta última pelo Princípio de Lotka. Para teste estatístico utilizou-se o teste de Mann-Whitney, a 5% de probabilidade.
RESULTADOS:
A temperatura média no laboratório durante o experimento em ambiente foi 24,99 ± 3,07 ºC, com média máxima de 26,67 ± 3,11 ºC e mínima de 23,16 ± 2,57 ºC. A UR média foi 73,88 ± 9,08%. A fecundidade média foi maior a 25 ºC (575,92 ovos), porém só foi significativamente maior que a 30 ºC (322,17 ovos). Não houve diferença significativa entre 20 ºC (219,25 ovos), ambiente (403,41 ovos) e 30 ºC (322,17 ovos). A fertilidade média também foi maior a 25 ºC (353,85 ovos) e a diferença só não foi significativa quando comparada com a de ambiente (292,41 ovos). Não houve diferença significativa entre a fertilidade a 20 ºC (24,00 ovos), 30 ºC (77,56 ovos) e em ambiente. A inviabilidade média a 20, 25 e 30 ºC e ambiente foi respectivamente, 9,00, 32,08, 35,61 e 18,53 ovos e não houve diferença significativa. O número de ovos/postura foi 46,16, 90,20, 70,72 e 83,63 ovos, sendo todas as diferenças significativas, já o número de posturas/fêmea foi 4,75, 6,38, 4,56 e 4,82 posturas, não havendo diferença significativa, todos respectivamente a 20, 25 e a 30 ºC e ambiente. Apesar de ter a 30 ºC fecundidade inferior a 25 ºC, o número médio de ovos inviáveis foi maior a 30 ºC. A porcentagem de ovos inviáveis foi 4,1, 5,57, 11,05 e 4,59 %, a taxa de fertilidade foi 10,95, 61,44, 24,07 e 72,48 % e a razão de sexos foi 0,4, 0,55, 0,54 e 0,59, todas respectivamente a 20, 25 e 30 ºC, e ambiente. Nestes mesmos tratamentos o G foi de 90,03, 52,99, 35,53 e 62,35 dias, e o l de 1,026, 1,160, 1,199 e 1,137.
CONCLUSÕES:
A variação de temperatura não afetou significativamente o número de posturas/ fêmea. A oscilação da temperatura do meio ambiente não afetou significativamente a fecundidade e fertilidade, mas causou diminuição do potencial de crescimento populacional do inseto, aumentando G e diminuindo o l. Apesar do tratamento a 25 ºC ter apresentado maiores valores de fecundidade, fertilidade, número de ovos/ postura e postura/fêmea, o aumento da temperatura diminuiu o tempo médio de uma geração e, consequentemente, possibilitou o aumento da capacidade inata de crescimento. Por ter a temperatura de 30 ºC apresentado menor valor de duração média de uma geração (G) e maior valor de capacidade inata de crescimento (l), conclui-se ser esta a temperatura que proporciona maior capacidade de crescimento populacional a D. maurus, quando alimentado com sementes de C. speciosa.
Palavras-chave:  percevejo; exigências térmicas; Bombacaceae.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005