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G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 2. Geografia Regional
A ATIVIDADE CARCINICULTORA COMO FATOR DE DEGRADAÇÃO AMBIENTAL DO MANGUEZAL DE CANGUARETAMA - RN
João Alves Galvão Neto 1 (jagalvaonetto@bol.com.br), Luciene Vieira de Arruda 2 e Carlos Antonio Belarmino Alves 3
(1. Dpto. de Geo-História, Curso de Geografia, Universidade Estadual da Paraíba - UEPB; 2. Dpto. de Geo-História, Curso de Geografia, Universidade Estadual da Paraíba - UEPB; 3. Dpto. de Geo-História, Curso de Geografia, Universidade Estadual da Paraíba - UEPB)
INTRODUÇÃO:
O ecossistema manguezal é um dos mais ameaçados no Brasil, principalmente por situar-se ao longo de quase toda a costa do nosso litoral, onde a maioria da população brasileira vive. No Nordeste esses ambientes apresentam características climáticas ideais para a criação de camarões em viveiros, de onde são retiradas as águas com quase todas as condições exigidas no criatório natural desse crustáceo. No Estado do Rio Grande do Norte, a carcinicultura teve inicio nos anos 70, quando foi criado o “Projeto Camarão”, com a finalidade de reproduzir o crustáceo em viveiros. Posteriormente começou a atividade no município de Canguaretama, litoral sul do estado, onde se instalaram várias empresas camaroneiras de grande porte. Para isso foi necessário desmatar parte expressiva do manguezal para dar lugar às áreas produtoras de camarão. Tais ações modificaram bastante o meio-ambiente, a ponto de descaracterizar o manguezal e de colocar em risco espécies do habitat natural e as próprias comunidades locais que sobrevivem da pesca artesanal. O objetivo desta pesquisa foi analisar a atividade carcinicultora como fator de degradação ambiental do manguezal de Canguaretama e propor formas de uso e manejo compatíveis com as condições ambientais locais.
METODOLOGIA:
Para a realização da pesquisa fez-se o levantamento bibliográfico e o reconhecimento de campo no percurso de Canguaretama até o distrito praiano de Barra do Cunhaú, onde deságua o Rio Cunhaú, em uma extensão de 12 Km. Nesse percurso, foram identificados os pontos críticos para análise, utilizando-se material geocartográfico tais como imagens de Satélite Landsant/tm – 5, sensor Tm (thematic mapper) em papel na escala aproximada 1:10.000 (1998), onde fez-se a interpretação visual; o acervo fotográfico particular da praia de Barra do Cunhaú e do manguezal, referente ao período 2000 a 2004 contribuiu para a identificação dos principais componentes da flora e da fauna e para o levantamento dos possíveis impactos ambientais adquiridos dos processos naturais e antrópicos atuantes; O contato direto com representantes da Associação de Pescadores de Barra do Cunhaú e com pessoas da comunidade, através de entrevistas, foi de grande importância para entender os problemas que a comunidade vem sofrendo com a degradação ambiental local.
RESULTADOS:
Os resultados confirmaram que várias funções e serviços providos pelo ecossistema de manguezal estão sendo perdidos com sua substituição através de fazendas de camarão e sua infra-estrutura no município de Canguaretama. Apesar da geração de dezenas de empregos, o custo com os impactos pode ser muito maior, no que diz respeito à redução de diversidade biológica e perda da produtividade primária e secundária, com conseqüências sociais, econômicas e ambientais em níveis locais e regionais. A construção indiscriminada de tanques de carcinicultura e canais de abastecimento de água representa uma redução nas áreas de manguezal que já afeta a produtividade pesqueira local e os resultados estão sendo sentidos pelos pescadores que vêem o peixe desaparecer assim como caranguejos e outros crustáceos. A destruição de manguezais para originar áreas produtoras de camarão, preocupa a sociedade e todos os órgãos envolvidos, por ser um ecossistema múltiplo, pois viabiliza a reprodução de várias espécies de peixes e crustáceos, atua como um filtro, despoluindo as águas dos rios, impede a intensidade dos raios solares, criando um micro-clima com temperaturas mais baixas exercendo ainda uma função social importante, já que centenas de famílias sobrevivem da pesca de peixes e crustáceos no manguezal.
CONCLUSÕES:
As principais acusações contra a carcinicultura se referem à ocupação dos ecossistemas costeiros alagados e destruição dos manguezais que contribuem para o desequilíbrio ambiental. Em Canguaretama e Barra do Cunhaú o manguezal já foi substituído em cerca de 80% por viveiros de camarões, o que interfere em todo o ecossistema, impedindo o seu equilíbrio. É inegável que esse tipo de exploração vem gerando empregos diretos e indiretos, mas não tem seguido o que busca o desenvolvimento sustentável, que é a melhoria do padrão de vida das comunidades litorâneas, o desenvolvimento social e a preservação ambiental. O grande desafio é justamente buscar meios, propor alternativas viáveis, implementar programas, que conciliem a exploração ambiental sustentável com o mundo real e tratar de não descaracterizar as comunidades litorâneas, auxiliando-as através do resgate de suas tradições. Tal ação pode significar a diferença entre a inclusão ou a marginalização dos indivíduos dessas comunidades. Projetos de carcinicultura são rentáveis economicamente desde que seja realizado um planejamento ambiental levando em consideração, por exemplo, a manutenção de zonas virgens intercaladas aos viveiros de forma a não trazer tantos impactos negativos ao ambiente.
Palavras-chave:  Canguaretama; Manguezais; Carcinicultura.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005