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G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 3. Geografia
EVIDÊNCIAS DE DEGRADAÇÕES CAUSADAS PELA AGRICULTURA CANAVIEIRA NO DISTRITO DE RENASCENÇA – SAPÉ/PB: CONSIDERAÇÕES SOCIOECONÔMICAS E AMBIENTAIS.
Celinaldo Alves dos Santos 1 (celinaldo@ig.com.br), Luciene Vieira de Arruda 1 e Carlos Antonio Belarmino Alves 1
(1. Dpto. de Geo-História, Centro de humanidades, Curso de Geografia, Universidade Estadual da Paraíba -)
INTRODUÇÃO:
O processo de desenvolvimento da agricultura brasileira se deu a partir dos interesses europeus, que era explorar o máximo do potencial de suas colônias em benefício das metrópoles. Com a ocupação portuguesa no Brasil iniciou-se a exploração do litoral nordestino, primeiramente com a extração do pau-brasil e, em seguida, com a monocultura da cana-de-açúcar, tornando-se uma das maiores áreas do mundo na produção do “ouro doce” – o açúcar. Com a intensificação do plantio, associado à ocupação humana concentrada ao longo do litoral, surgiram as primeiras evidências de degradação social e ambiental. Tais acontecimentos não ocorreram de forma diferente na faixa litorânea e pré-litorânea do estado da Paraíba, em particular no município de Sapé, onde ocorre, desde o início da colonização portuguesa, uma intensa exploração canavieira. O objetivo dessa pesquisa foi observar e analisar as principais evidências de degradação causadas pela agricultura canavieira no Distrito de Renascença – Sapé/PB, levantando-se considerações sociais, econômicas e ambientais decorrentes dessa forma de uso da terra, como também sugerir medidas sustentáveis de desenvolvimento que venham contribuir para uma harmonização do atual quadro ambiental, econômico e social do espaço em estudo.
METODOLOGIA:
Essa análise geográfica procurou fazer uma integração de todos os fatores do meio ambiente seguindo as propostas metodológicas expostas por Bertrand (1969), Sotchava (1977), Tricart (1977) dentre outros, trabalhando-se com a Teoria Geral dos Sistemas. A partir da seleção de todos os materiais e instrumentos técnicos e bibliográficos disponíveis, partiu-se para os dados específicos da área de estudo – o distrito de Renascença, onde se fez observação minuciosa do local com o registro fotográfico das áreas representativas para a análise, sendo elaborada uma planta da área cultivada e seus respectivos focos de degradação. Em seguida fez-se a caracterização física do ambiente e a aplicação dos questionários socioeconômicos. Do total de 300 famílias residentes na comunidade de Renascença, foram escolhidas, aleatoriamente, 20% para serem entrevistadas.
RESULTADOS:
No Distrito de Renascença, 70% da população retiram da agricultura canavieira os meios necessários à sobrevivência. Porém, existe uma distribuição de renda muito desigual e inconstante que acarreta a falta de perspectiva econômica e a busca por melhores condições de vida, constatando que a exploração canavieira jamais conseguiu melhorar, financeiramente, a vida dessas pessoas. Das famílias entrevistadas, 33,3% dos trabalhadores prestam serviços nas usinas provisoriamente, enquanto 66,7% são fixos, trabalhando durante todo o período de produção da cana-de-açúcar, com remunerações até dois salários mínimos, pois se ocupam nos serviços menos valorizados. Durante o período em que ficam desempregados, voltam-se às culturas de subsistência mas nem todos possuem terras para plantar e isso gera insatisfação e revolta social. Simultaneamente à plantação canavieira, os processos degradacionais tornam-se freqüentes e provocam rarefação da cobertura vegetal, desaparecimento de espécies vegetais e animais, contaminação das águas superficiais por agro-tóxicos e o surgimento de processos erosivos tais como ravinas e voçorocas, instalando-se uma série de desequilíbrios que poderão comprometem o ambiente e a comunidade local.
CONCLUSÕES:
A partir da análise e caracterização das diversas formas de uso e ocupação da área, constata-se que os custos em forma de degradação e vulnerabilidade, são externalizados, ou seja, o trabalhador não tem acesso aos lucros, mas é obrigado a conviver com os prejuízos ambientais. É tendo conhecimento dessa realidade, que se propõe um planejamento em busca de melhores condições, tanto para o meio ambiente, como também para as condições sociais as quais os trabalhadores ligados à cultura canavieira estão, continuamente, submetidos. É preciso repensar este conceito de “desenvolvimento” para que o mesmo ocorra de forma não agressiva ao meio ambiente, já que este se encontra hoje muito maltratado e degradado pelo homem que passa a ser não um animal racional, mas sim um animal com racionalidade limitada, que se recusa a entender que os recursos naturais são finitos.Dessa forma, espera-se que os produtores de cana-de-açúcar venham tomar atitudes cabíveis para o melhor aproveitamento dos recursos naturais, assim como também venham valorizar o trabalho dos indivíduos que se dedicam a essa cultura agrícola que dá tantos lucros aos grandes produtores e tantos “prejuízos” aos seus trabalhadores braçais e às comunidades locais.
Palavras-chave:  degradação ambiental; monocultura da cana-de-açúcar; agricultura.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005