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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação | ||
O MÉTODO ESCOTEIRO: CONTRIBUIÇÕES DE UM SISTEMA DE EDUCAÇÃO EXTRA-ESCOLAR | ||
David Izecksohn Neto 1 (murphy@ajato.com.br) e Mellina Marques Vieira 2 | ||
(1. Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas - EBAPE/FGV; 2. Faculdade de Medicina - FM/UFRJ) | ||
INTRODUÇÃO:
O Movimento Escoteiro foi criado na Inglaterra em 1907 por Robert Stephenson Smith Baden-Powell e iniciou-se no Brasil em 1910. Atualmente, existem mais de 28 milhões de escoteiros, em mais de 146 países e territórios. No Brasil, há 1.050 Grupos Escoteiros, com 44.000 jovens de ambos os sexos e 15.000 adultos voluntários. Considerado um sistema de educação extra-escolar, almeja contribuir para que os jovens assumam o seu autodesenvolvimento, ajudando-os a realizar suas plenas potencialidades físicas, intelectuais, sociais, afetivas e espirituais, como cidadãos responsáveis, participantes e úteis à sociedade. Quase 100 anos após a sua criação, numa época em que as formas tradicionais de ensino parecem não mais atender às necessidades dos educandos, torna-se fundamental repensar a formação, sobretudo dos jovens, examinando didáticas complementares à educação recebida nas escolas, no próprio ambiente familiar e em outras instituições que fazem parte do cotidiano das pessoas. Práticas pedagógicas que estejam orientadas para o desenvolvimento de bons valores, como, por exemplo, os valores cívicos, tornam-se, portanto, ferramentas valiosas para os educadores dentro e fora das salas de aula. Este estudo analisa os objetivos do Movimento Escoteiro para verificar a sua contribuição enquanto proposta educacional complementar, fornecendo subsídios para uma ação orientada ao fortalecimento do civismo nos jovens. |
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METODOLOGIA:
Análise bibliográfica dos fundamentos do Escotismo, com base na sua Definição, Propósito, Princípios e Método Escoteiro. Em seguida, levantamos na literatura em Educação qualidades a serem desenvolvidas nos jovens, tais como: a responsabilidade e a disciplina interior; as atitudes cooperativas; o fortalecimento da valorização dos próprios indivíduos; e a ampliação da capacidade crítica das pessoas. Buscou-se com isso verificar se o Escotismo é mencionado e/ou aceito pelos educadores. Finalmente, realizamos uma investigação com 54 jovens escoteiros, divididos em dois grupos focais, para verificar as suas percepções sobre os objetivos do Movimento ao qual fazem parte. Estes jovens representaram Grupos Escoteiros do Estado do Rio de Janeiro e tinham como outra característica comum serem membros juvenis entre 18 e 21 anos incompletos. Foi pedido que os participantes refletissem sobre o Propósito do Escotismo e logo em seguida foram apresentadas quatro visões trazidas previamente pelo moderador, sem a indicação dos respectivos autores. A cada visão apresentada questionava-se a validade da mesma, se ela poderia ser considerada certa ou errada, e, depois, se ela era originária de uma pessoa que fazia ou já tinha feito parte do Movimento Escoteiro. |
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RESULTADOS:
Confrontando a proposta educacional do Movimento Escoteiro com a literatura em Educação, verificou-se que existe uma forte convergência entre as qualidades necessárias ao desenvolvimento dos jovens. O Método Escoteiro, composto por cinco elementos, que são o aprender fazendo, a vida em equipe, as atividades progressivas, o desenvolvimento pessoal pela orientação individual e a aceitação voluntária da Promessa e da Lei Escoteira, é amplamente mencionado e aceito pelos educadores, embora não seja explicitamente citado como referência teórica ou prática. Na investigação realizada com os escoteiros, ambos os grupos focais chegaram às mesmas conclusões, por consenso. Em seguida, foram revelados os verdadeiros autores de cada visão apresentada. A primeira visão teve a maior receptividade pelos participantes e havia sido elaborada por escoteiros com as mesmas características destes grupos focais. A segunda foi considerada simplória e errada e apontada como tendo sido descrita por alguém de fora do Movimento Escoteiro. Entretanto, seu autor era o fundador do Escotismo, fato que surpreendeu os participantes. A terceira era a versão oficial do objetivo do Escotismo, o que não foi identificado pelos participantes, tendo sido considerada como um incompleto resumo. A quarta visão foi considerada completamente errada, apontada como tendo sido elaborada por alguém sem o menor conhecimento de Escotismo. Todavia, o seu autor era uma criança, mais precisamente um escoteiro de nove anos. |
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CONCLUSÕES:
Para atingir seus objetivos, o Método Escoteiro utiliza-se de práticas educacionais encontradas na literatura em educação, embora freqüentemente com nomes ou formatos distintos. Concluímos que, enquanto Movimento, o Escotismo não se manteve estático na sua forma específica de educação, acompanhando a evolução do pensamento na área, mantendo intocados, entretanto, os seus fundamentos iniciais. Os resultados da investigação realizada com escoteiros, visando averiguar suas próprias visões sobre os objetivos deste Movimento demonstraram que eles compreendem e vivenciam os fundamentos do Escotismo, embora tenham dificuldade em descrevê-lo enquanto teoria educativa. Uma possível explicação ao desconhecimento que os educadores possuem em relação ao Escotismo, enquanto prática educacional, pode ser a forma como se expressam os seus próprios membros juvenis, utilizando-se de visões pessoais, ao invés de utilizarem o conceito oficial existente. Considerando que o Método Escoteiro exerce um relevante papel, inclusive na formação de cidadãos, concluímos que este deveria ser um tema estudado por todos os educadores, para que possa colaborar pedagogicamente com outras instituições, de caráter formal e não-formal, beneficiando-as com os quase 100 anos de experiência educacional acumulada pelo Escotismo no Brasil e no mundo. Esta certamente seria uma via de mão dupla, na qual educadores de fora e de dentro do Movimento Escoteiro enriqueceriam suas práticas pedagógicas. |
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Palavras-chave: Movimento Escoteiro; Educação Extra-Escolar; Educação de Jovens. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |