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A. Ciências Exatas e da Terra - 3. Física - 2. Ensino de Física | ||
O PAPEL DA LINGUAGEM NUMA ATIVIDADE EXPERIMENTAL PARA OS CONCEITOS DE TEMPERATURA DE CALOR | ||
Maritana Araujo Teixeira 1 (maritanaat@yahoo.com.br) e Rogério Gonçalves de Sousa 1 | ||
(1. Núcleo de Apoio ao Desenvolvimento Científico, Universidade Federal do Pará - UFPA) | ||
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho é uma investigação das interações discursivas numa aula de Física e suas contribuições para a construção dos conceitos de temperatura e calor, ao se utilizar uma estratégia para criar uma situação de conflito cognitivo. Procuramos evidenciar o discurso no episódio de ensino analisado, pois entendemos que a fala, enquanto maneira social de pensar, tem papel importante na construção do conhecimento: através do diálogo, circunstâncias valiosas para o processo de aprendizagem de conceitos científicos podem ser criadas. Foi decisivo, para o estabelecimento desse discurso, o uso de uma atividade experimental, possibilitando que os conceitos físicos fossem construídos pelos alunos em uma perspectiva prática. Como fundamentos teóricos de nossa análise, utilizamos as contribuições de Vygotsky, Bakhtin, Lotman e os padrões discursivos IRF. O conhecimento depreendido das observações de interações discursivas no ambiente da escola são também relevantes para a melhoria da prática docente no Ensino de Física. Dessa forma, desejamos contribuir no sentido de ampliar as discussões e fornecer resultados sobre as intervenções e interações entre professores e alunos. |
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METODOLOGIA:
A atividade foi realizada em uma turma regular de 2a série do Ensino Médio, do Núcleo Pedagógico Integrado -- Escola de Aplicação da UFPA -- em Belém. O professor da disciplina, também pesquisador, assumiu, para o período letivo, estratégias na perspectiva de mudança conceitual. A fim de verificar as concepções alternativas dos estudantes sobre os conceitos de calor e temperatura, foi aplicado um teste escrito com seis questões de múltipla escolha. Introduziram-se, expositivamente, o conceito geral de energia e suas formas cinética e potencial, transferindo-os ao nível microscópico, ou seja, considerando a energia interna de um corpo como soma das energias cinética e potencial de seus átomos. Realizou-se, então, o experimento das três bacias com água a diferentes temperaturas, que consiste em mergulhar a mão direita na água gelada e a mão esquerda na água quente (em torno de 45oC). Após breve intervalo de tempo, retiram-se as mãos, mergulhando-as na água à temperatura ambiente. Na atividade, os alunos foram organizados em grupos e convidados a verificar a temperatura da água utilizando apenas o tato. Escolheu-se a experiência por produzir uma situação de conflito em relação aos conceitos estudados. A intervenção foi registrada em vídeo para posterior transcrição e análise microgenética dos diálogos, segundo os fundamentos teóricos citados. Para isso, foram selecionados os trechos mais relevantes do material transcrito e divididos em algumas cenas. |
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RESULTADOS:
Os resultados do teste escrito apontaram a falta de conhecimento do conceito de energia interna pela maioria dos estudantes que, entretanto, detinham o conceito de calor como forma de energia em trânsito. Por outro lado, a associação entre os conceitos de temperatura e sensação térmica foi preponderante tanto nas respostas do teste quanto nas falas dos alunos durante a atividade investigada, demonstrada pela dificuldade em dizer qual temperatura apresenta um corpo quando não está “quente” nem “frio”. Na tentativa de explicar, durante a experiência, a condução ou transferência de calor entre o corpo (mãos) e a água, conceito evidenciado no discurso de alguns alunos, percebeu-se a existência de um conflito cognitivo, uma vez que a atividade permite que uma mesma pessoa obtenha diferentes sensações térmicas na observação de um mesmo sistema (bacias com água). Na ocasião, o discurso revelou alguma dificuldade em explicar o porquê da sensação térmica do frio. Também se verificou que os estudantes não relacionaram o modelo anteriormente introduzido para explicar energia interna ao conceito de temperatura. Em todas as cenas, foi observada uma alternância entre os tipos de discurso, funções de um texto e os padrões discursivos IRF utilizados como categorias de análise. |
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CONCLUSÕES:
Apesar da análise dos resultados obtidos através do teste terem revelado uma necessidade de se introduzir o conceito de energia interna de um corpo, ele não foi aproveitado nas intervenções orais dos alunos durante a atividade experimental. Isso nos leva a supor que este tipo de experiência é relevante para a noção de sensação térmica como algo subjetivo, mas não o é para nos fornecer uma medida precisa de temperatura. A necessidade de se utilizar um instrumento para medir a temperatura de um corpo foi evidenciada pelo diálogo entre professor e alunos a partir do conflito cognitivo gerado pela experiência, fator importante ao se adotar um modelo de mudança conceitual. A idéia intuitiva do calor manifestou-se em alguns depoimentos dos estudantes e serviu de base para fundamentar a idéia de sensação térmica. O diálogo promovido em uma aula de Física com essas características freqüentemente assume funções discursivas distintas, dependendo das necessidades comunicativas para a construção dos conceitos, sendo fundamental que haja alternância entre os padrões que representam. Ficou evidente que o conhecimento destes auxilia as interferências do professor, além de promover ações mais adequadas no discurso em classe. |
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Palavras-chave: mudança conceitual; conflito cognitivo; linguagem e discurso em sala de aula. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |