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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 4. Psicologia Comparativa
TRAIÇÃO E CIÚME: ESTUDO DE UMA POSSÍVEL INTER-RELAÇÃO
Camila Gimenes Rodrigues 1 (camila_gimenes@hotmail.com), Jamile Raymundi Esteves 1, Josenilda Marinho Coutinho 1, Kelly Ambrósio Silveira 1, Liliana Emilia Frizzera 1 e Rosana Suemi Tokumaru 1
(1. Depto. de Psicologia Social e do Desenvolvimento, Universidade Federal do Espírito Santo - UFES)
INTRODUÇÃO:
A Psicologia Evolucionária, ao estudar o ciúme nas relações amorosas, define esse sentimento como um estado que é despertado por uma ameaça percebida para uma relação ou posição valorizada e motiva comportamento apontado para se contrapor á ameaça. O ciúme também é definido como um sentimento de desprazer que se expressa como um medo de perda do parceiro ou como um desconforto por uma experiência real ou imaginária que o parceiro tenha tido com uma terceira pessoa. Um dos principais estudiosos do tema, David Buss afirma que o ciúme é uma emoção perigosa, sendo reprodutivamente vantajoso sentir ciúme de maior intensidade quando há ameaça aos resultados reprodutivos. Os psicólogos evolucionistas defendem haver uma maior preocupação masculina diante da infidelidade sexual e um intenso mal estar feminino diante da infidelidade emocional. Assim, a possível perda de recursos frente à infidelidade emocional, para elas, e o risco de investir no filho de outro, para eles, são diferenças de gênero vinculadas aos problemas adaptativos que homens e mulheres tiveram que resolver ao longo da evolução a fim de garantir a sobrevivência e a transmissão dos próprios genes. Dessa forma, objetivamos verificar se um episódio de traição acarreta alguma mudança no ciúme do(a) parceiro(a) e, em caso afirmativo, se há diferenças entre os gêneros nessa alteração.
METODOLOGIA:
Os sujeitos da pesquisa foram 206 alunos de diversos cursos da Universidade Federal do Espírito Santo, no ano de 2004. Destes, 92 eram do sexo masculino e 114 do sexo feminino. Suas idades eram superiores a 18 anos. O instrumento utilizado foi um questionário contendo 8 questões. As duas primeiras relacionavam-se ao sexo e à idade dos participantes. A terceira questão solicitava a descrição de duas situações em que o sujeito havia sentido ciúme, e a quarta questionava a forma pela qual o sujeito costumava reagir quando sentia ciúme. A quinta questão perguntava se o sujeito tinha conhecimento de ter sido traído pelo(a) parceiro(a), em caso positivo o sujeito responderia à sexta questão, que consistia em saber se o sujeito havia sentido mais ciúme após tal traição. A sétima questão buscava saber se o sujeito já havia traído seu(sua) parceiro(a), e caso a resposta fosse afirmativa, passaria para a oitava questão, que perguntava se o sujeito passou a ter mais ciúme depois de sua traição.
RESULTADOS:
Foram distribuídos 250 questionários, sendo que apenas 232 foram respondidos. Destes, 26 questionários não foram considerados por terem se referido à situações de ciúme relativas a familiares e/ou amigos ou por terem deixado em branco a questão 3. Sete sujeitos, entre os 206 analisados, responderam não sentir ciúme. Trinta e seis dos 206 respondentes declararam ter conhecimento de já terem sido traídos por seus parceiros, sendo 21 mulheres e 14 homens. Entre os homens traídos, 7 afirmaram sentir mais ciúme após a traição, o que corresponde a 50% da amostra. Proporção semelhante foi identificada entre as mulheres traídas, visto que 52,3% intensificaram o ciúme após o conhecimento da traição. Sessenta pessoas afirmaram já terem traído seus parceiros. Destes, 28 foram mulheres, das quais somente 17,86%, ou seja, apenas 5 mulheres, declararam ter mais ciúme a partir deste fato, e 32 homens, dos quais 9 isto é, 28,12%, passaram a ter mais ciúme.
CONCLUSÕES:
Nossos resultados indicam que o conhecimento a respeito de já haver sido traído(a) acarreta em aumento do ciúme da pessoa traída, pois aproximadamente 50% dos respondentes homens e mulheres apresentaram esta mudança, além de haver um índice de correlação entre essas variáveis superior à 50%. Não detectamos diferenças de gênero nos percentuais de aumento de ciúme entre homens e mulheres. Entre os parceiros que traíram, houve uma pequena modificação no ciúme, sendo importante ressaltar que o percentual de homens que relataram tal alteração foi superior ao de mulheres. O aumento do ciúme após saber que foi traído(a) pode ter uma função importante na manutenção do relacionamento. Constatamos, assim, que a maioria de episódios ciumentos é expressão útil de estratégias eficazes de enfrentamento destinadas a lidar com ameaças verdadeiras às relações, visto que a infidelidade representa o desvio de recursos evolucionários.
Palavras-chave:  infidelidade; ciúme; diferenças de gênero.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005