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H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 1. Literatura Brasileira
A POESIA CRÍTICO-CULTURAL DE ZECA BALEIRO
Bruno César Ribeiro Barbosa 2 (bruno.bcrb@bol.com.br) e Gláucia Vieira Machado 1
(1. Depto. de Letras Clássicas e Vernáculas, Universidade Federalde Alagoas - UFAL; 2. Colégio de Antares)
INTRODUÇÃO:
A arte contemporânea está quase sempre relacionada à indústria cultural, no mínimo no que diz respeito aos meios que a fazem ser propagada. Em tempo de cultura das mídias, a arte já não pode mais ser vista apenas como manifestação de caráter ritualístico ou religioso, por exemplo. Mesmo a poesia, apesar de sobreviver um pouco melhor à comercialização, pela sua resistência em ser transformada em mercadoria, insere-se também nesse circuito, uma vez que um livro também é um produto cultural comercializável. Quando a poesia circula por outros veículos de divulgação, como é o caso das composições poéticas musicadas, a fronteira entre o poético e o consumo fica ainda mais tênue. Apesar disso, encontramos no cenário musical brasileiro alguns poetas/compositores que atuam declaradamente no sentido de estabelecer e consolidar espaços de resistência ao esquema consumista de canções descartáveis. Um desses músicos que versifica essa tal proposta de resistência é o maranhense Zeca Baleiro. As músicas Você só pensa em grana e Mundo dos negócios representaram o objetivo deste trabalho, que discutiu como a sua poesia resiste à indústria cultural, quando essa passa a interferir no processo artístico criativo, e como essa interferência pode ou não prejudicar qualitativamente a arte dos que enveredam por esse caminho.
METODOLOGIA:
Para que tivéssemos condições de fazer um trabalho lúcido a respeito de quando a indústria cultural pode (ou não) interferir na produção de uma obra de arte contemporânea, e que esta esteja comprometida, no mínimo, com algo mais consistente, tivemos que seguir algumas discussões surgidas ao longo do tempo, em que, através delas, pudemos encontrar suportes teóricos para uma realização confiável de mais um estudo na área. Para isso, foi necessário que buscássemos discursos desde Adorno, por exemplo, quando se referiu à questão da indústria cultural, até Benjamin, discutindo sobre a reprodução da obra de arte; passando também por estudos voltados mais precisamente para o texto poético, como o de Leminski e os in-utensílios da arte contemporânea; além, é claro, de textos que tratam da realidade cultural brasileira.
RESULTADOS:
A análise das canções Você só pensa em grana e Mundo dos negócios, de Zeca Baleiro, torna-se fundamental para compreendermos a postura crítica do poeta/compositor diante do modelo consumista de canções descartáveis. Primeiro porque o próprio músico cita, no encarte do CD Líricas, a importância sonora na busca de uma coerência artística. A inserção de alguns elementos da sonoridade musical interfere no que o texto poético tematiza. Segundo Baleiro, a relação da poesia com o dinheiro lhe causa uma certa inquietação; sendo assim, o lirismo e a acidez na musicalidade reforçam o sentimento angustiado de quem se vê diante de tal problema. Nos textos poéticos, há claramente a intenção de discutir o que a poesia sofre quando depende do dinheiro. Ou o que o poeta sente quando a sua poesia não vale mais que os objetos materiais ligados ao que a aparência social exige. Diferentemente da primeira, a musicalidade da segunda canção pode causar um certo estranhamento no ouvinte desapercebido. Isso porque o arranjo de Mundo dos negócios apresenta alguns elementos que aparentemente se distorcem no meio da melodia, sejam eles causados pelas guitarras e efeitos, pela programação, ou mesmo pela vocalização bastante interpretativa do cantor. Todos esses efeitos juntos combinam com a proposta de resistência do poeta/compositor Zeca Baleiro, provocando uma certa desconstrução de tudo aquilo que costuma ser construído.
CONCLUSÕES:
Apesar da força que a indústria cultural tem com relação à produção artística, e da conseqüente transformação da arte em mercadoria, pudemos encontrar no trabalho artístico de Zeca Baleiro uma resistência a esse modelo meramente comercial. Essa resistência, no entanto, não significa uma total ruptura com o tal modelo, uma vez que o trabalho artístico de Baleiro também circula por ele. Ela está muito mais ligada a uma postura crítica consciente, que o poeta/compositor tem em relação ao que a indústria cultural exige. Dessa forma, a produção artística de Baleiro, ultrapassa as barreiras do mercado, mesmo fazendo parte dele. Isso porque sua arte transita entre a música e a poesia, construindo um corpo textual único. Dessa forma, o texto musical possibilita um melhor entendimento do poético. A junção coerente deles pode significar uma atitude positiva do compositor Zeca Baleiro em relação à atual falta de criatividade e de ousadia. Isso seria um indício de sua resistência ao esquema consumista de canções descartáveis.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Zeca Baleiro; crítico-cultural; indústria cultural.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005