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F. Ciências Sociais Aplicadas - 6. Planejamento Urbano e Regional - 1. Fundamentos do Planejamento Urbano e Regional
MOTIVAÇÕES E OBJETIVOS NO PROTESTO CONTRA A VIOLÊNCIA: O CASO DA ‘METRÓPOLE FLUMINENSE’
Ana Clara Torres Ribeiro 1 (ana_ribeiro@uol.com.br), Luís Cesar Peruci do Amaral 1, 2, 4, Michele Nascimento 1, 3 e Thiago Façanha Lotfi Silva 3
(1. Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, UFRJ; 2. Departamento de Arquitetura e Urbanismo, UFRRJ; 3. Departamento de Geografia, UFRJ; 4. Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental, Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca,FIOCRUZ)
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho é desenvolvido no Laboratório da Conjuntura Social: tecnologia e território (LASTRO), do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) / UFRJ. Insere-se no projeto 'Cartografia da Ação e Análise da Conjuntura: reivindicações e protestos em contextos metropolitanos'. Trata-se de estudo expressivo da metodologia de análise do cotidiano metropolitano em desenvolvimento no LASTRO, que valoriza mutações na conjuntura social e política. Tais mutações são examinadas a partir da prática de múltiplos atores e sujeitos sociais. São observados 'motivação-objetivo' e 'alcance-conseqüência' da ação social, visando à compreensão de ações sociais relacionadas ao protesto contra a violência.
Busca-se associar, através de exercícios cartográficos, variações na ação e territorialidades, reconhecendo a presença de diferentes grupos sociais na cena metropolitana. Assim, motivações e objetivos são compreendidos como estímulos à ação, Por outro lado, a reflexão das territorialidades impõe o estudo da origem de classe dos participantes na ação, na medida em que a ação, para o LASTRO-IPPUR/UFRJ, atualiza os elos entre estrutura espacial e estrutura social.
Valoriza-se, ainda, a comparação analítica de ações espontâneas e organizadas, enfatizando, com base em leitura criteriosa da grande imprensa, a Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
METODOLOGIA:
O trabalho é desenvolvido a partir da leitura crítica da grande imprensa, o que envolve coleta diária de notícias sobre diferentes formas assumidas pela ação social nos contextos metropolitanos. Tais informações são decompostas, analiticamente, tendo em vista a alimentação do 'Banco de Ações e Processos Sociais' (BAPS), elaborado pelo LASTRO. Este Banco tem sido sistematicamente alimentado, desde 1999, para as Regiões Metropolitanas do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, através, respectivamente, dos periódicos 'O Dia', 'Folha de São Paulo' e 'Correio Brasiliense'. Também como suporte analítico, são desenvolvidos estudos e avaliações das fontes utilizadas e, pesquisa de campo e de informações adicionais oferecidas pela literatura.
Neste trabalho, propõe-se um recorte em treze relevantes áreas de interesse do BAPS, estudando os eventos relacionados à violência na Região Metropolitana do Rio de Janeiro no ano de 2003. Aciona-se, como fonte suplementar de informação, o Boletim Mensal de Monitoramento e Análise do Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro.
O trabalho apropria-se da denominada 'Cartografia da Ação', desenvolvida pelo Laboratório, como apoio à análise de conjuntura no âmago do tecido social e de problemáticas inscritas (e traduzidas) na ação. Esta técnica é complementada por imagens oriundas do acervo documental do LASTRO.
RESULTADOS:
Os resultados encontrados para o período analisado correspondem, em grande parte, aos denominados protestos espontâneos. Trata-se de manifestações que expressam forte adesão emocional a valores fundamentais associados à preservação da vida e, também, de embates urbanos que visam o reconhecimento coletivo de valores individuais. Observa-se sistematicamente a ocorrência de protestos espontâneos em resistência (contraposição) à ação policial no lugar de moradia das classes populares.
Noutra direção, os protestos organizados vinculam-se, mais freqüentemente, às classes médias e altas, com acesso direto à mídia.
Também são observadas distintas motivações e territorialidades nestas duas grandes categorias de protestos (espontâneos e organizados). No primeiro conjunto, constata-se a seguida reivindicação por justiça, enquanto, no segundo conjunto, são recorrentes os pedidos de paz.
CONCLUSÕES:
O trabalho conclui que, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, as ações espontâneas tendem a expressar a indignação popular, através de formas explosivas de protesto (quebra-quebras) e atos públicos que denunciam perdas de vida por enfrentamento entre forças policiais e o tráfico de entorpecentes. Observa-se, aqui, que os protestos espontâneos ocorrem, via de regra, nos locais de ocorrência dos eventos que estão em sua origem. Já o protesto organizado ocorre, geralmente, em áreas privilegiadas da cidade, através de formatos organizativos que buscam assegurar a visibilidade da ação no espaço público. Estas últimas ações reproduzem gestos pacíficos, dirigidos à conquista de uma efetiva política de segurança e à garantia de policiamento mais ostensivo.
O afastamento, que é social e geográfico, entre os dois conjuntos de ações estimula a reflexão dos diferentes sentidos assumidos pela violência, no cotidiano metropolitano, e também a compreensão dos momentos em que são radicalizados o esgarçamento do tecido social e a ruptura das relações interclassistas. Acredita-se que a observação desta tendência permite um acompanhamento mais incisivo da conjuntura social, assim como, o desenvolvimento de um tipo de leitura das relações sociedade-espaço que favorece a análise transdisciplinar da ação.
Instituição de fomento: CNPq, FAPERJ, UFRJ/PR-2
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Ação Social; Protesto Urbano; Cartografia da Ação.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005