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A. Ciências Exatas e da Terra - 6. Geociências - 3. Geografia Física
APLICAÇÃO DA MICROPEDOLOGIA NOS ESTUDOS SOBRE OS PROCESSOS DE DESERTIFICAÇÃO EM IRAUÇUBA-CE
Jacqueline Pires Gonçalves Lustosa 1 (jpgl@uece.br), José Gerardo Beserra de Oliveira 2, Nádia Regina do Nascimento 3 e Joel Barbujiani Sígolo 4
(1. UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ/FAFIDAM; 2. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ; 3. UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA; 4. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO)
INTRODUÇÃO:
O Estado do Ceará, possui uma extensa área inserida no domínio climático semi-árido que se caracteriza por apresentar uma paisagem com aspecto seco. O Município de Irauçuba, localizado na região Centro Norte do Estado, tem sido apontado como uma área em processo de desertificação através da disseminação de resultados de pesquisas onde este problema é estudado. Os trabalhos desenvolvidos sob essa óptica quase sempre constituem estudos de caracterização ambiental e apontam a ação antrópica como principal causadora da desertificação da área. Os resultados dos estudos da micropedologia (nível microscópico), demonstraram,, que a interação entre as variáveis geologia, clima, relevo, vegetação e uso do solo são responsáveis pelo aspecto desertificado de Irauçuba. O clima de Irauçuba, tem um nível de aridez maior do que o definido no clima regional, nível este que decorre de sua localização na zona de sombra de chuva da serra de Uruburetama sendo, portanto, de natureza orográfica, e é acentuada pelas características dos solos e da vegetação. Um dos principais objetivos deste trabalho foi relacionar a gênese e evolução dos sistemas pedológicos com os aspectos fisionômicos de sua paisagem e contribuir para os estudos pedológicos de áreas semi-áridas. A relevância do estudo está na originalidade da metodologia empregada, onde o estudo da micropedologia é combinado com a análise integrada das variáveis ambientais na busca do entendimento da desertificação.
METODOLOGIA:
O estudo micropedológico é realizado a partir da descrição detalhada da geometria das organizações e das características morfológicas do material dos solos coletado em trincheiras abertas em locais previamente selecionados. O material foi coletado em amostras friáveis e indeformadas para análises em laboratório As amostras indeformadas foram retiradas das paredes das trincheiras na forma de monólitos devidamente orientados em relação ao topo dos perfis dos solos, principalmente na transição entre diferentes solos. Esses monólitos foram catalogados e embalados para não sofrerem deformações ou destruições da estrutura original durante o transporte até o laboratório. A confecção das lâminas de solo que se seguiu iniciou-se com a impregnação das amostras, por ascensão capilar, sob vácuo, com uma solução de resina poliéster + monômero de estireno na proporção de 1:1, adicionando-se peróxido como catalisador. Após, aproximadamente, 10 dias, as amostras endureceram e foram cortadas em pequenos blocos, que foram coladas em lâminas de vidro, sendo desbastados e polidos em retificadora GBROT, com acabamento a mão, até atingir a espessura aproximada de 30 micrômetros. As descrições das lâminas de solos, realizadas com uso de microscópio óptico com polarizador e objetivas que variam entre 2,5X a 50X foram conduzidas no Laboratório de Microscopia Óptica do Departamento de Petrologia, da UNESP/Rio Claro-SP. Nas descrições das lâminas foi adotada a terminologia proposta por Bullock (1999).
RESULTADOS:
Os estudos micropedológicos, demonstraram que as organizações pedológicas possuem uma associação litologia/solo que se reflete nas características morfológicas dos solos. A presença de minerais primários observados nas análises microscópicas das lâminas delgadas indica que estes solos são provenientes de uma pedogênese incipiente e que estão em equilíbrio pedobioclimático, de acordo com a noção de equilíbrio proposta por Boulet et al. (1994). A conjugação das condições geológicas, climáticas, pedológicas, geomorfológicas e biogeográficas explica a fisionomia seca da paisagem que lembra um deserto, mas que é decorrente do baixo grau de desenvolvimento dos solos. A interferência humana, pelo uso do solo e da vegetação, contribui para acentuar seu aspecto “seco”.
CONCLUSÕES:
A ação antrópica neste meio não parece afetar os mecanismos naturais que geraram a atual paisagem de Irauçuba, considerada como indicadora de desertificação. A desertificação, que tem a ação humana e as mudanças climáticas como causas principais, é um processo que ocasiona transformações naturalmente irreversíveis nos ecossistemas, resultando, não só na mudança de cenário mas, sobretudo, na funcionalidade dos seus elementos. Desde que a análise micropedológica da região indica a existência de um equilíbrio pedobioclimático que aparentemente não é afetado pelo antropismo, a condição dos sistemas pedológicos de Irauçuba resulta numa fisionomia que parece com a de um deserto, decorrente da aridez acentuada de seu clima.
Palavras-chave:  Micropedologia; Desertificação; Irauçuba.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005