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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 5. Teoria e Análise Lingüística
A ESTRUTURA DO SINTAGMA NOMINAL E AS PROPRIEDADES DE DISTINÇÃO DAS FUNÇÕES ADJUNTO E COMPLEMENTO DE NOME
Adeilson Pinheiro Sedrins 1 (willzuc@hotmail.com) e Maria Denilda Moura 1
(1. Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas - UFAL)
INTRODUÇÃO:
A distinção entre adjunto nominal (AN) e complemento nominal (CN) representa um dos pontos de divergência e inconsistência na Gramática Tradicional, doravante GT (cf. VIANNA, 1983; REZENDE, 2000; RODRIGUES, 2002). Tome-se, por exemplo, as abordagens de Almeida (2001) e de Bechara (1999), em que o primeiro classifica o genitivo subjetivo como AN enquanto o segundo, como CN. Por outro lado, estudos lingüísticos que se detiveram nessa discussão parecem não ter obtido resultados satisfatórios: Rezende (op. cit.) reclama uma teoria com maior poder explicativo que explore a natureza da linguagem para dar conta das exceções com que se defronta em suas análises; Vianna (op. cit.) propõe que a distinção do binômio AN/ CN seja eliminada, a exemplo das gramáticas (normativas) italiana, francesa e espanhola. A partir dessas constatações, procuramos, neste trabalho, verificar de que forma se dá a relação de adjunção e complementação de nome, em sintagmas nominais (NPs) do Português Brasileiro (PB), com objetivo de descrever as propriedades sintático-semânticas que distinguem essas funções, tomando como base, para isso, estudos realizados na perspectiva do Modelo Teórico de Princípios e Parâmetros (P&P), do Programa de Investigação da Gramática Gerativa (CHOMSKY, 1981; 1986), a fim de contrapor os resultados à abordagem inconsistente da GT, em tempo que argumentamos a favor dessa distinção, tendo em vista ser operativa na língua.
METODOLOGIA:
Adotando como método de abordagem o hipotético-dedutivo, esta pesquisa, cuja base teórica foi o Modelo P&P, fundamentou-se nas idéias centrais dos módulos da teoria X-barra, Temática e do Caso, bem como no módulo da Teoria de Regência (CHOMSKY, 1981). Nossa metodologia consistiu em buscar no modelo teórico adotado, critérios confiáveis, baseados em fatos da língua, para a distinção das funções AN e CN. Em seguida, enumeramos, a partir da leitura de vários manuais de gramática (ALMEIDA, 2001; BECHARA, 1999; CUNHA, 1986; etc.), construções cuja classificação em AN ou CN diferencia de autor para autor, bem como as que apresentam classificação duvidosa. A análise consistiu em aplicar às construções por nós enumeradas testes que permitissem observar o comportamento sintático-semântico dos Sintagmas Preposicionais (PPs) em NPs, em relação ao núcleo nominal (N): a) a ordem dos PPs em NPs; b) a possibilidade de predicação autônoma; c) a extração de ilhas. As sentenças analisadas, quando não retiradas de exemplos de autores a fim de ilustrar suas afirmações, foram fruto de dados de introspecção, cujos critérios de seleção foram os de pertencer ao PB e apresentarem em sua estrutura PPs AN e CN.
RESULTADOS:
Os estudos realizados a partir da observação das configurações em X-barra permitiram verificar que PPs tradicionalmente classificados como AN geralmente vêm pospostos a PPs CN e que ANs podem constituir predicação autônoma em relação ao núcleo N, enquanto que CNs não. Por sua vez, os estudos sobre as categorias vazias, desenvolvidos a partir da noção de Regência na Teoria, permitiram verificar que, por ocuparem uma posição regida lexicalmente, CNs apresentam maior possibilidade de deslocamento do que ANs. Além dessas propriedades sintáticas, vimos que o Modelo P&P dispõe de critérios de ordem semântica para essa distinção com o módulo da teoria temática que opõe argumentos (termos constitutivos da grade temática de um núcleo lexical X) a adjuntos (termos não constitutivos da grade temática de um núcleo lexical X). Foi verificado que alguns critérios que permeiam a abordagem da GT para a distinção entre o binômio ora estudado não são coerentes com dados mostrados, como o critério de opcionalidade para adjunto e obrigatoriedade na sentença para o complemento e a classificação de adjunto para o genitivo subjetivo. Observamos ainda que algumas das construções que configuram como adjunto, nessa abordagem, comportam-se, na verdade, como complementos de N, como foi o caso de algumas locuções adjetivas, tidas unanimemente como adjuntos pela GT e da forma pronominal seu quando equivalente a formas genitivas com interpretações de tema, agente, etc.
CONCLUSÕES:
O estudo permitiu enumerar propriedades para a distinção entre AN e CN a partir da observação e análise de dados lingüísticos, baseados no modelo teórico adotado, mostrando que tal distinção é operativa na língua e, inclusive, oferece explicações satisfatórias para algumas construções que constituem divergência entre gramáticos e inconsistência quanto a sua classificação pela GT. No entanto, algumas lacunas ficaram em aberto, como o estatuto sintático do genitivo com interpretação possessiva, que compartilha de propriedades tanto de PPs complementos, quanto de PPs adjuntos, bem como a natureza lexical ou funcional da preposição que encabeça o PP dentro do NP, a qual parece ser um fator determinante na distinção entre um PP adjunto de N e um PP complemento de N. essas lacunas serão escopo de posterior pesquisa em que vemos também a necessidade de abordar a distinção entre AN e CN no Modelo do Programa Minimalista (CHOMSKY, 1995), no qual o conceito de regência, que está atrelado ao estudo sobre as restrições verificadas para deslocamentos de adjuntos, foi eliminado (Cf. COSTA & FIGUEIREDO SILVA, 2004), a fim de verificar quais as conseqüências para as análises realizadas neste trabalho, calcadas em P&P.
Instituição de fomento: MEC/SESu
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Sintaxe gerativa; Adjunto nominal; Complemento nominal.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005