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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 5. Psicologia da Saúde
ARTE NO TRATAMENTO DE ESQUIZOFRÊNICOS: EFICÁCIA NOS RESULTADOS
Júlia Reis da Silva 1 (juliareis2@yahoo.com.br), Juliana Maria Rodrigues 1, Michelle Place Henriques Ferreira 1, Renata Cristian S. de Sá 1 e Nilma Figueiredo de Almeida 1
(1. Depto. de Psicometria, Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ)
INTRODUÇÃO:
O trabalho terapêutico nas instituições psiquiátricas tem sofrido severas reavaliações na forma de perceber o paciente, abrindo, assim, as portas para novas técnicas de tratamento. A arte foi inserida neste campo através da terapia ocupacional, seguida de outras modalidades como a musicoterapia, o teatro terapêutico, a ludoterapia entre outras. De acordo com o DSM-IV, a esquizofrenia é uma doença crônica, de difícil tratamento, onde há perda de ligação com o mundo devido à desorganização da consciência, a diminuição da afetividade e a perturbação de funções intelectuais. Manifesta-se principalmente na faixa que vai do início da adolescência até os 30 anos. O objetivo deste trabalho foi verificar a importância da arte como instrumento terapêutico no tratamento de pacientes esquizofrênicos, já que esta permite a expressão de vivências não verbalizáveis por aquele que se encontra mergulhado nas profundezas do inconsciente.
METODOLOGIA:
Foi feito um exaustivo levantamento bibliográfico sobre arte terapia, terapia ocupacional e a utilização da arte no processo terapêutico de pacientes esquizofrênicos, utilizando-se também informações obtidas em vídeos sobre saúde mental do acervo do Museu das imagens do Inconsciente. Em seguida foram realizados 6 estudos de caso em uma instituição psiquiátrica, o Instituto Nise da Silveira. A técnica utilizada foi entrevista estruturada em três pacientes portadores de esquizofrenia, que utilizavam a arte em seu processo terapêutico, e em três profissionais que trabalhavam diretamente com eles, sendo uma enfermeira e dois psicólogos. Buscou-se verificar qual a percepção dos pacientes e profissionais quanto à utilização da arte no tratamento terapêutico. As entrevistas foram gravadas com a autorização dos participantes. Também foram realizadas visitas de campo, com observação participante, nos espaços reservados ao desenvolvimento do trabalho terapêutico com a arte. Em seguida foi feita uma análise do conteúdo dos vídeos, das entrevistas realizadas e das observações feitas a partir das visitas à instituição.
RESULTADOS:
Verificamos, por meio das entrevistas com os pacientes e com os profissionais, que a utilização da arte como atividade expressiva possibilita que os pacientes esquizofrênicos adquiram, gradualmente, noção de eu, de espaço e de tempo, abaladas por causa da doença e se percebam como cidadãos inseridos na sociedade. Podemos evidenciar, na fala de um dos psicólogos, como a arte pode ajudar numa maior reestruturação do paciente esquizofrênico, "O que falta na esquizofrenia, o sentimento de Eu, uma identidade, quer dizer, a criação (atividade expressiva) dele traz para ele uma identidade. E é um facilitador nas relações sociais. O trabalho dá uma identidade a ele e permite essa certa convivência no lugar". Na entrevista de outra psicóloga vemos um exemplo de reinserção social do paciente, promovida pelo Instituto “A gente insere uma exposição nossa, do museu, num espaço de arte, num espaço social. Então com isso a gente diminui essa exclusão”. Podemos constatar, também, que as atividades expressivas possibilitam aos pacientes, através da construção de imagens, a liberação das emoções que os atormentam; é o que notamos através do discurso do paciente L.C, que diz que durante as atividades sente "uma sensação de tá aliviado (...) é assim, tirar as coisas negativas" e da paciente M. que diz se sentir "aliviada" quando termina de desenhar. A mesma paciente quando perguntada sobre o que sentia depois de fazer todas as atividades e ver o que produziu, responde que sentiu "Felicidade".
CONCLUSÕES:
Constatou-se que a arte proporcionava melhorias no tratamento de pacientes esquizofrênicos tornando-os mais pragmáticos, recuperando o seu senso da realidade, propiciando maior autonomia e, consequentemente, auto-estima. É importante ressaltar que o conceito de arte, aqui adotado, compreende um processo de expressão criativa que independe de um juízo estético e possibilita uma maior autonomia no processo terapêutico do paciente. Verificou-se nas entrevistas e nos vídeos assistidos que a atividade expressiva é uma excelente ferramenta no tratamento de esquizofrênicos, na medida que despotencializa emoções e permite uma auto-organização do ego, proporcionando, assim, sua reestruturação interna com reconscientização de espaço e tempo, o que ajuda em sua reinserção social. Pôde-se comprovar que através do uso de instrumentos e da manipulação de objetos, seja através da pintura, escultura ou desenho, o esquizofrênico expressa seus conteúdos inconscientes e suas emoções, materializando, assim, suas angústias e depressões manifestadas em seu comportamento apático e em seu isolamento. Verificamos, portanto, que ao longo de um tratamento terapêutico tornaram-se visíveis, tanto para o próprio paciente quanto para os profissionais que trabalham com eles, as transformações promovidas pela arte. Concluímos, portanto, que a arte é uma valiosa aliada no tratamento de pacientes esquizofrênicos, pois ajuda em sua reorganização mental e propicia sua reinserção à comunidade.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  ARTE; ATIVIDADE EXPRESSIVA; ESQUIZOFRENIA.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005