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G. Ciências Humanas - 5. História - 9. História Social | ||
BARES, BÓRDEIS E PROSTITUIÇÃO: COTIDIANO, SOBREVIVÊNCIA E CÓDIGOS DE SOCIABILIDADE NA PRAÇA DA BANDEIRA EM RIO BRANCO - ACRE (BRASIL) | ||
Verônica Moura da Costa 1 (gersonroal@bol.com.br), Susem Quelem Alves Ferraz 1, Michele Ferreira Sandrin 1 e Rayana Siqueira Lima 1 | ||
(1. Centro de Documentação e Informação Histórica, Universidade Federal do Acre - UFAC.) | ||
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho é resultado de um Projeto de Pesquisa sobre os trabalhadores urbanos do centro histórico da cidade de Rio Branco, capital do Estado do Acre, na Amazônia brasileira. Em seu processo de desenvolvimento, a equipe de pesquisadores deslocou-se, por inúmeras vezes, para a “Praça da Bandeira”, um “antigo” centro comercial, com o intúito de compreender as relações humanas estabelecidas naquele espaço, as sociabilidades, as tensões, conflitos e as estratégias de sobrevivência ali constituídas, focalizando especificamente os ambientes “clássicos” de jogos, prostituição e lazer, bem como os afazeres e trabalhos de mulheres e homens, sujeitos da pesquisa. Procurando aprofundar as reflexões e análises, produziu-se um direcionamento para um dos ambientes mais populares e polêmicos: o Bar da Loura e as inúmeras questões instituídas pelas subjetividades e práticas de seus freqüentadores, os demais comerciantes e o poder público no local. |
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METODOLOGIA:
Na parte inicial da pesquisa, optamos pelo levantamento de fontes que nos permitiram compreender que quando foi construído, no governo de Hugo Carneiro (1927-1930), período histórico em que o Acre era administrado na forma de Território Federal, o Mercado Público de Rio Branco, em torno do qual surgiu a “Praça da Bandeira”, foi consolidando-se como um “centro” comercial com infinidade de mercadorias e serviços. Sua construção esteve associada à idéia de moderno ou à materialização da “cidade ideal”, cuja finalidade era higienizar a cidade, acabando com os “abates clandestinos” de animais e a venda de alimentos em “qualquer lugar”, sem o controle do poder público. A partir daí passamos coletar depoimentos e imagens, num processo de construção de fontes orais e visuais, sem abrir mão de rigorosa observação antropológica, com a perspectiva de dialogar com a visão das pessoas que vivem em torno e na praça que se constituiu nas décadas de 1970-90 em um espaço repleto de becos escuros, pequenas pensões e palafitas ameaçadas pelos constantes desbarrancamentos do rio Acre, lojas de variedades comerciais e de serviços, botecos e os prostíbulos. Nesse processo de ansiedades, tensões e receios, os equipamentos e materiais de pesquisa (formulários, gravadores, cadernetas de campo, câmeras fotográficas, filmadoras) tiveram que ser cuidadosamente selecionados e empregados, produzindo uma rica experiência para um grupo de discentes recém ingressos na Universidade Federal do Acre. |
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RESULTADOS:
Dentre os muitos e significativos resultados da pesquisa de campo, foi possível observar um local onde coexistem diferentes estratégias de sobrevivência, discriminado e abandonado pelo poder público, onde o “sujo” e “pobre” é vinculado, no dizer de Mergareth Rago, “à idéia de degeneração”, cuja representação mais comum é o de “fonte de aquisição de vícios físicos e morais”. A “Praça da Bandeira” é um lugar de pessoas que dividem e produzem territórios, numa complexa dinâmica social de lazer, ócio, negócio, viver, resistir. A etnografia do Bar da Loura, onde foi possível ampliar as reflexões e diálogos, chama a atenção sob diversos aspectos: as atividades iniciam-se por volta das oito horas da manhã, sendo um ambiente composto de cozinha, salão de dança e venda de bebidas e comidas, dois pequenos quartos disponíveis aos “programas”, sendo o valor do aluguel pago à proprietária do estabelecimento enquanto a quantia cobrada por cada uma das garotas: “é delas. Meu é só o aluguel do quarto e o consumo no bar porque o cara chega, escolhe uma menina e aí ela também vai consumir, então o dinheiro do programa é dela...” como afirma Loura. A partir das falas das “meninas”, pode-se considerar equivocada qualquer afirmativa no sentido de que as mesmas são "infelizes" ou "degeneradas" moralmente, além de que se evidencia anacrônica qualquer tentativa de generalização sobre seus comportamentos e práticas. |
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CONCLUSÕES:
O caminho escolhido possibilitou uma inversão no olhar para um espaço visto de um modo subvertido, desconhecido por muitos que a ele se referem com pré-conceitos. Espaço camuflado por uma “barreira” de grandes e pequenas lojas freqüentadas, diariamente, por centenas de pessoas. A maioria dessas pessoas não percebem o que se “oculta” nessa “barreira”. Ali, como foi possível acompanhar, muitas mulheres do Bar da Loura, por exemplo, associam a necessidade de sobrevivência ao prazer, pois, para elas não é nenhum sacrifício ganhar dinheiro em “programas”: “é até bem mais fácil, pois aqui no bar nós dançamos, bebemos com os clientes, conversamos e não somos controladas por nenhum patrão. Nós fazemos nosso próprio horário”, enfatiza Maria, uma das entrevistadas. Em seus discursos e falas, encontra-se uma visão que se contrapõe ao senso comum, onde se supõe que essas mulheres são “infelizes” ou “coitadas”. Essa é uma pré-noção, utilizando-se de uma reflexão de Pierre Bourdieu, que estabelece um julgamento estereotipado dessas mulheres. Essencialmente procurou-se não analisar a visão do(a) outro(a) como discriminado(a) e intitulando-o(a) “errado(a)” ou “correto(a)”, pois, quando isso é feito, torna-se impossível distinguir quem é o(a) outro(a). |
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Instituição de fomento: Universidade Federal do Acre - UFAC | ||
Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: Trabalho; Cultura; Sociedade. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |