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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 1. Lingüística Aplicada
O SENHOR DOS ANÉIS: A TRADUÇÃO DA SIMBOLOGIA DO ANEL DO LIVRO PARA O CINEMA
Emílio Soares Ribeiro 1 (emiliothelordoftherings@yahoo.com.br)
(1. Departamento de Letras, Universidade Estadual do Ceará - UECE)
INTRODUÇÃO:
Muitos livros estão sendo traduzidos para a tela, e, devido ao aparente abismo que separa estas esferas, sempre se ouvem críticas comparando o trabalho literário com sua adaptação fílmica. Porém para se fazer esta análise, deve-se saber que, quando algum trabalho é traduzido para outro sistema de signos, ele deve apresentar estratégias novas. Como uma adaptação fílmica é uma transmutação de um texto verbal em um não-verbal, ela foi por muitos anos considerada como algo que muda o texto literário e, por isso, o que hoje é chamado de tradução intersemiótica, durante anos, não foi considerado tradução. Assim, apoiado em Jakobson (1991), esta trabalho considerou a adaptação fílmica como tradução e escolheu o livro e o filme O Senhor dos Anéis como corpus da análise. Sem dúvida, a obra é repleta de símbolos e, dentre eles, o símbolo do Anel é o que mais se destaca, sendo alvo de inúmeras discussões. Dessa forma, achei relevante realizar uma pesquisa analisando principalmente a tradução do Anel como símbolo e personagem, um objeto aparentemente simples, mas possuidor de múltiplos significados. De fato, essa pesquisa não fez juízo de valor entre o Anel do livro e o do filme, mas analisou como a simbologia do Anel foi traduzida para o filme O Senhor dos Anéis: a sociedade do Anel. Pretendo contribuir para outros estudos de tradução intersemiótica, tradução áudio-visual, assim como para estudos literários e para o próprio ensino de literatura e suas simbologia.
METODOLOGIA:
O corpus foi formado por dois elementos: o livro O Senhor dos Anéis - a sociedade do Anel, escrito por J. R. R. Tolkien (1954), e o filme cujo título é o mesmo, dirigido por Peter Jackson (2001). A análise da tradução seguiu os passos a seguir. A primeira etapa foi a leitura e discussão da bibliografia sobre o assunto. Em seguida, o livro O Senhor dos Anéis - a sociedade do Anel foi lido e decodificado, ou seja, dividido em blocos e seqüências narrativas, para facilitar a análise. O filme O Senhor dos Anéis - a sociedade do Anel foi visto e também decodificado. Numa próxima etapa, foram criadas fichas de análise, contendo os elementos fundamentais do filme e do livro (título do filme/livro; diretor/escritor; país, ano; personagens principais; personagens secundários; locais; acontecimentos mais importantes; tempo). Em seguida o filme foi analisado, com a finalidade de discutir as questões de pesquisa. A análise não foi prescritiva e teve como base os Estudos Descritivos, buscando, assim, examinar como as traduções ocorrem dentro do contexto da cultura de chegada, não tendo como preocupação, portanto, aspectos freqüentemente ligados à tradução, tais como fidelidade ao original e literalidade.
RESULTADOS:
Este estudo confirmou minhas hipóteses e demonstrou que, embora a simbologia do Anel esteja presente tanto no livro como no filme, é neste último que ela é mais forte, pois artifícios como o close, os efeitos visuais, associação com o olho de Sauron, bem como as várias referências que remetem ao formato circular do Anel permitem uma maior percepção desse objeto como símbolo de destaque na obra. A atuação do Anel no filme é marcada pelo som e pela música. Os momentos em que Frodo tenta colocar o Anel são acompanhados por um aumento do volume musical, assim como nos momentos em que a câmera focaliza o Anel em close, a música é alterada e passa a ter batidas mais fortes, indicando uma maior tensão. Além disso, no filme, elementos como a água e o fogo estão diretamente ligados ao Anel, ajudando a torná-lo um símbolo mais intricado. Como já foi dito, o Anel foi criado por Tolkien como um personagem. Peter Jackson o traduziu na mesma perspectiva; entretanto, mais uma vez, utilizando os diversos recursos cinematográficos, deu mais ênfase aos detalhes que tornam esse objeto um ser com vida própria, como o ouvir e o sussurrar de sons indistinguíveis.
CONCLUSÕES:
Nesse artigo científico, objetivei analisar a maneira como o símbolo do Anel do livro O Senhor dos Anéis: a sociedade do Anel, de J. R. R. Tolkien (1954) foi traduzido para o cinema pelo diretor neozelandês Peter Jackson. Baseado nos estudos de Jakobson, entendo adaptação de uma obra literária para o cinema como tradução. Além disso, compreendo tradução não como uma cópia idêntica do texto escrito primeiramente, mas como algo que obrigatoriamente tem que apresentar estratégias novas, posto que está sendo traduzido para outro sistema sígnico. O Anel é um símbolo presente tanto na obra escrita como no filme, mas o diretor Peter Jackson utilizou diversos recursos próprios do cinema para realçar alguns significados de tal objeto e mostrá-lo como um símbolo mais complexo. Quero estender esta investigação, incluindo os outros dois filmes da trilogia e espero, com esta análise, poder contribuir para outras pesquisas ligadas à tradução intersemiótica, à tradução áudio-visual, à simbologia no cinema e à própria obra de Tolkien.
Palavras-chave:  Tradução Intersemiótica; Símbolo; Anel.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005