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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 3. Educação Ambiental
DA SALA DE AULA PARA A PRAIA: PERCEPÇÕES DO BAIRRO CAMPECHE, ILHA DE SANTA CATARINA ATRAVÉS DO TRABALHO DE CAMPO.
Raphaela de Toledo Desiderio 1 (raphadesiderio@hotmail.com) e Ana Maria Hoepers Preve 1
(1. 1. Núcleo de Estudos Ambientais (NEA) Departamento de Geografia, Universidade do Estado de Santa Cat)
INTRODUÇÃO:
Compreender a representação do espaço vivido vai além do estudo teórico inserido no ambiente escolar, ou seja, é fora da sala de aula e através de experiências práticas que realmente se observa e se entende o que acontece ao nosso redor. Neste trabalho, procurou-se, junto a alunos de Ensino Fundamental, desenvolver percepções do bairro Campeche como a caracterização da paisagem, as atividades humanas ali desenvolvidas e principalmente os dejetos espalhados pelas ruas do entorno da escola através de roteiros de saídas a campo para estudo do meio. O Projeto está vinculado ao Núcleo de Estudos Ambientais (NEA) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e visa a produção, desenvolvimento e execução de oficinas de educação e meio ambiente. Neste caso, através de pesquisas bibliográficas e das oficinas realizadas com os alunos traçamos algumas problemáticas ambientais do bairro, bem como as relações sociais e afetivas que o grupo estabelece com o seu espaço. A relevância deste trabalho está em marcar o encontro entre a universidade e a comunidade: envolvendo acadêmicos, professores e alunos da escola onde o trabalho acontece. Nesse sentido, a extensão exigiu uma pesquisa que transcendesse os limites do formato acadêmico, sendo necessário a busca de estratégias para o desenvolvimento das temáticas incluídas no projeto.
METODOLOGIA:
O trabalho foi realizado na Escola de Educação Básica Januária Teixeira da Rocha, localizada no bairro Campeche, Florianópolis/SC, com alunos da 4ª Série do Ensino Fundamental. A planície do Campeche, está localizada entre as coordenadas 48º 28’ 16”a 48º 30’ 39” de longitude Oeste e 27º 42’ 47” de latitude Sul, na porção Sul da Ilha de Santa Catarina. Limita-se ao Norte com a Lagoa da Conceição, ao Sul com o Parque Lagoa do Peri, ao Leste com o Oceano Atlântico e ao Oeste com o aeroporto Hercílio Luz. No estudo e problematização do bairro Campeche desenvolvido em campo e em sala de aula junto aos alunos utilizamos diversas estratégias como realização de mapas mentais, apresentação de vídeos e representações do bairro através de desenhos e textos. Um dos roteiros utilizados para melhor entendimento do estudo teórico do espaço foi a saída a campo pelos arredores da escola chegando até a praia. Em sala formamos as equipes e discutimos os itens a serem observados no campo, os temas novos embutidos no roteiro e, ainda, o modo como cada grupo deveria extrair e registrar os dados encontrados durante a saída. O grupo I ficou responsável por observar e anotar as atividades humanas existentes no espaço estudado; o grupo II por listar e recolher os lixos encontrados ao longo da trilha até nosso destino final – a escola e o grupo III por perceber a diversidade de plantas presente na trilha, sendo que todos deveriam prestar atenção na existência ou não de fatores impactantes ao longo do percurso.
RESULTADOS:
A saída de campo como estratégia de estudo do espaço proporcionou a interação entre saberes acadêmicos e saberes locais, ampliando o olhar sobre o bairro. Os registros finais mostraram a participação dos alunos no processo de elaboração do conhecimento. Estes deixam de ser meros repetidores de histórias prontas sobre o bairro, demonstrando seu olhar sobre o espaço, narrando suas observações e revelando a contemporaneidade do bairro que fica na praia e que no verão é superpovoado por turistas. A partir dos resultados dos roteiros foi possível reconhecer algumas especificidades daquele espaço. Ao redor da escola o grande fluxo de circulação de veículos na principal via de comunicação do bairro, Avenida Campeche e a quase ausência de pedestres no período matutino; a existência de dois pequenos comércios locais foram observados pelo grupo I, o grupo II mostrou os plásticos, latas e papéis espalhados pelo chão; o grupo III levantou as plantas mais comuns nos arredores como araçá, pitanga, samambaia, bromélias e ainda a mata ciliar. Além das análises previstas no roteiro de estudo, algumas situações inesperadas foram incorporadas pelo grupo, como por exemplo, a pesca da tainha, que acontecia no período do estudo. Neste momento eram os alunos que nos ensinavam sobre o seu espaço, sobre o comportamento e características dos peixes que ali se encontravam em meio a areia da praia e, principalmente, sobre suas vivências e histórias enquanto moradores daquele espaço.
CONCLUSÕES:
O andamento desta experiência proporcionou reflexões das problemáticas do bairro, da diversidade de relações com o lugar vivenciadas por seus moradores e o olhar do “nativo” a respeito daqueles que chegam para veranear na Ilha. Uma das narrativas captadas nos auxilia neste momento: “Eu gosto daqui, da minha casa. Porque aqui é um bairro bonito, tem praia, casas, escolas. Mas aqui tem uns defeitos por exemplo: rede de esgoto, violência, roubo, lixo. No verão os turistas vem pra cá só que eles trazem muitos problemas por exemplo trânsito, lixo para a praia.”(sic). A caracterização da paisagem local através da saída de campo se configura neste trabalho como uma atividade de construção da observação que propicia o aparecimento de diversas representações do bairro, ao mesmo tempo em que desmistifica a idéia do bairro veiculada pela mídia. Este tipo de estudo produz um saber singular sobre o Campeche, quando entrelaça o olhar de quem mora com aquele disseminado pela imprensa local e os trabalhos acadêmicos. Esta experiência apontou para a necessidade de conexão entre o pesquisador/educador e a realidades sócio-ambiental do espaço a ser trabalhado, assim como para percepção a respeito das representações dos participantes. O ano letivo de 2004 chegou ao fim, mas este projeto não. Os resultados obtidos na primeira etapa motivaram a sua continuidade de forma mais engajada ao trabalho do professor das Séries Inicias.
Instituição de fomento: UDESC
Palavras-chave:  Educação Ambiental; Saída de Campo; Percepção do espaço.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005