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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 4. Educação Básica
Supostos fatores que contribuem para a indisciplina - uma interpretação a partir das crianças
Ana Kelly Pinto Cavalcante 3, Antônia de Fátima Araújo 2 e Antônia Joselice Camilo Martins 1
(1. Escola de Educação Básica Municipal Santo Antonio; 2. Escola de Ensino Fundamental Tia Marta; 3. Secretaria de Educação de Pacatuba)
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho traz uma reflexão sobre os supostos fatores que contribuem para a indisciplina - uma interpretação a partir das crianças. A pesquisa foi realizada na Escola de Educação Básica Municipal Santo Antônio em Guaiúba – Ceará. Onde foram investigados alunos da terceira série do ensino fundamental I, com grande dificuldade de aprendizagem, advindos de uma realidade sócio-cultural precária, onde na maioria das vezes os pais são desempregados. Os objetivos do trabalho foram: analisar até que ponto a indisciplina pode dificultar o processo ensino-aprendizagem; observar o fenômeno da indisciplina na Escola, identificar situações no cotidiano dos alunos em sala de aula que favoreçam para a falta de disciplina e a influência da família neste processo. Para ampliar a pesquisa no que diz respeito ao comportamento dos alunos, realizamos um diagnóstico com os mesmos, cujo instrumento utilizado foram desenhos dos próprios alunos, sendo os principais pontos analisados: a escola, a família, a figura do professor, o que eles faziam todos os dias e um desenho livre (como eles estavam se sentindo no momento), a partir da sua própria interpretação. No decorrer da pesquisa foram investigados temas que se mostraram pertinentes como: discutindo o que é indisciplina e o que a constitui; normas da escola; punições da escola – os poderes constituídos; condições e características da autoridade da escola; o comportamento dos alunos por eles mesmos e a indisciplina no cotidiano escolar.
METODOLOGIA:
Este trabalho foi desenvolvido a partir de estudos bibliográficos e principalmente de pesquisa de campo que se estendeu por um período de um ano. Durante esta investigação foram realizadas entrevistas, observações, oficinas, dinâmicas, jogos, brincadeiras, coleta de desenhos dos alunos (que tiveram sua própria interpretação) e fotografias. Para subsidiar a pesquisa buscamos realizar um estudo de alguns autores que nos dessem maior suporte para este trabalho, dentre os autores pesquisados destacamos: Michael Foucault, Júlio Groppa, Maria Áurea Guimarães, Marlene Guirrado e Yves de La Taille. Foram observados alunos da Escola pública na faixa etária compreendida entre 8 e 11 anos. As observações foram desenvolvidas nas dependências da escola como: sala de aula, nos corredores, no banheiro, na cantina, na biblioteca, em eventos escolares, no parque no recreio e em momentos extra-escolares. Para obter um melhor entendimento a respeito da indisciplina e suas múltiplas facetas, realizamos entrevistas, que foram gravadas, com quatro professoras e a diretora da instituição, com o intuito de detectar conceitos de indisciplina a partir de suas concepções. Fizemos diário de campo, análise dos desenhos e fotografias, para uma melhor compreensão da realidade dos alunos, levando em consideração os aspectos afetivos, psicológicos e morais. Nesse trabalho trazemos uma discussão da indisciplina no cotidiano escolar e familiar, a partir dos sujeitos e momentos diversos dentro e fora da escola.
RESULTADOS:
O resultado deste trabalho é uma reflexão do que as crianças demonstraram ser seu cotidiano escolar e a relação que estabelece com outras dimensões de suas vidas, tais como: a estrutura familiar, realidade sócio-econômica e cultural em que as crianças estão inseridas, o conteúdo didático não contextualizado com a realidade dos alunos, falta de atenção, a ociosidade dos alunos por falta de incentivo da escola, falta de espaço lúdico que favoreça o prazer de estar na escola, falta de opções de entretenimento no contexto social, intervenções pedagógicas ineficientes, espaço físico desfavorável, falta de criatividade e continuidade de critérios de avaliação. Conflito entre autoridade e autoritarismo por parte do professor, descumprimento de regras e normas imposta pela escola. Punições aplicadas erroneamente, falta de noções de limites exigidos pelos pais, isenção de responsabilidades por parte dos pais, o poder exercido pelo professor como forma de coação tentando estabelecer a disciplina gerando a indisciplina na sala de aula. Diante de tudo isso, fica claro que ainda é preciso investir numa aprendizagem que permita comunicação e criatividade, satisfazendo as perspectivas dos alunos e da sociedade no que diz respeito à responsabilidade social atribuída a escola. Dentre as principais características destas novas experiências podemos, hoje, citar a possibilidade de contato das crianças com um campo pequeno de acesso a informação uma dimensão possível de mudanças de suas vidas
CONCLUSÕES:
Concluímos que os motivos que levam as crianças para a sala de aula estão relacionados aos incentivos financeiros oferecidos pelo Governo e a merenda escolar, visto que, as condições financeiras em que se encontram as famílias das crianças investigadas são precárias. Isso desfavorece a atenção dos alunos para os conteúdos explanados na hora da aula, causando indisciplina. Os pais não proporcionam uma motivação correta para freqüentarem as aulas, pois os mesmos não vêem na educação uma forma de ascensão social, visto que a maioria são pescadores, agricultores, cortadores de lenha, e os filhos se limitam ao exemplo dos pais. A indisciplina na escola se manifesta através da violência e desrespeito com o professor e os colegas, pichações ao patrimônio da escola, badernas em sala de aula, depredação. As crianças são influenciadas pelos amigos indisciplinados para essa manifestação de rebeldia, onde se deixam levar pela desobediência ao professor e as brincadeiras com os colegas. A escola quer ficar isenta da responsabilidade das causas da indisciplina, rotulando os alunos como mal-educados, desobedientes, hiperativos. Colocando à culpa da indisciplina nos próprios alunos. Possíveis sugestões que favoreçam a disciplina no espaço observado. Os conteúdos que possibilite um maior interesse das crianças, um maior envolvimento dos pais nas reuniões, motivação por parte de pais e professores, programas que estejam relacionados à realidade dos alunos, e critérios nas avaliações.
Palavras-chave:  Os fatores que favorecem a indisciplina; A dimensão: familiar, cultural e social; Análises a partir do cotidiano do aluno.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005