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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 3. Educação Ambiental | ||
O LIXO QUE SAI NOVINHO EM FOLHA! PROBLEMATIZAÇÕES EM TORNO DAS REPRESENTAÇÕES DA RECICLAGEM. | ||
Roberta Alencar 1 (robertalencar@hotmail.com) e Ana Maria Hoepers Preve 1 | ||
(1. 1.Núcleo de Estudos Ambientais (NEA) Departamento de Geografia, Universidade do Estado de Santa Cat) | ||
INTRODUÇÃO:
Nos dias atuais, em função das exigências dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN' s a discussão sobre lixo, assim com sobre espécies ameaçadas de extinção, poluição, água ocupa espaços importantes nos meios escolares. Isso não quer dizer que a prática pedagógica esteja, neste momento, impregnada pelas questões ambientais, ou mesmo que a escola faça questão do desenvolvimento de atividades dessa natureza. O resumo que apresentamos é uma síntese do projeto de extensão “É lixo que não acaba mais! Produção, destinos, consumo e modo de vida na sociedade contemporânea” do Núcleo de Estudos Ambientais - NEA da Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC. O trabalho do NEA diz respeito a produção e desenvolvimento de oficinas de Educação e Meio Ambiente em escolas públicas da micro-região de Florianópolis/SC. Este projeto tratou especificamente de refletir sobre a produção, reutilização e destino dos resíduos sólidos no bairro Jardim Solemar, local onde a escola estava inserida. Com o desenvolvimento de algumas atividades foi possível conhecer como o grupo de alunos conhecia o problema do lixo no bairro, seus destinos e suas formas de ocupação. Os resultados obtidos com o desenvolvimento do projeto encaminharam a uma pesquisa bibliográfica para maior compreensão das representações acerca dos destinos do lixo no bairro. |
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METODOLOGIA:
O Bairro Jardim Solemar localiza-se na Grande Florianópolis no município de São José, na porção noroeste do continente. De formação recente é habitado por morados vindos do extremo-oeste catarinense e do estado do Paraná, e em sua maioria por pessoas de baixa renda. Moram em casas muito simples, principalmente aqueles que vivem no morro. O trabalho aconteceu na escola e no centro comunitário e contou, ainda, com visita ao morro. Nas diversas oficinas desenvolvidas pelo NEA optamos em trabalhar de forma que os conhecimentos dos alunos sejam levados em consideração, dando valor para a troca de experiência e saberes que os mesmos já possuem. Dessa forma foi realizado, durante o primeiro semestre de 2004 com a 4ª.série do Ensino Fundamental da E.B.M. Jardim Solemar do Loteamento de mesmo nome, uma série de oficinas sobre meio ambiente para resgatar os saberes do grupo. Através de diversas atividades que incluíram discussão em grupo, desenhos, fotografias, mapas mentais e saída de campo, foi discutido e relacionado diversos outros temas com a questão do lixo e suas implicações sociais. A pesquisa bibliográfica para entender as representações dos alunos foi realizada em revistas, livros didáticos e cartilhas ambientais. |
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RESULTADOS:
Numa das atividades, após simular a situação das mães colocando o lixo na frente de casa, foi pedido aos alunos que desenhassem o destino do mesmo no seu município. Num extremo da folha representaram o saco de lixo na frente de casa, ao longo da folha um caminhão e, no outro extremo, uma usina de reciclagem, desenho unânime no grupo. Para complementar o desenho, alguns alunos falavam: o lixo sai daqui, passa por uma máquina e sai novinho em folha! (sic). Aos pesquisadores coube perguntar: como aquelas crianças representavam usinas de reciclagem se não a temos aqui? Quais materiais culturais divulgavam essa idéia de reciclagem? Através de quais meios àquelas crianças aprendiam que o seu lixo ao passar por uma máquina sairia novinho em folha. O resultado da pesquisa bibliográfica mostra matérias e mais matérias sobre reciclagem e compromisso empresarial com a reciclagem do lixo; as lixeiras coloridas para separação do lixo, desenhos de usinas quando se fala dos destinos do lixo nos centro urbanos. Observou-se que tais representações são repetidas pelo público-alvo desses materiais: os alunos de um bairro onde não há coleta seletiva. A naturalização da idéia de que nosso lixo vai para usinas de reciclagem, fato que acontece em diversas escalas, ou seja, a idéia é transmitida tanto numa cartilha local, que têm uma abrangência numa área onde não possui usinas de reciclagem, como num jornal ou livro didático, distribuídas pelo Ministério da Educação, com abrangência Federal. |
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CONCLUSÕES:
O trabalho do NEA é caracterizado pelo compromisso das oficinas estarem em constante construção, sendo que os resultados de algumas atividades encaminham para novas pesquisas, incluindo, às vezes, um novo planejamento. Os resultados obtidos com este trabalho encaminharam a uma pesquisa em materiais culturais que não estava prevista no seu primeiro planejamento. Outras atividades estavam previstas como, por exemplo, levar o grupo até o local de destino do lixo do município de São José. Esperava-se, dessa forma, desnaturalizar as representações marcantes nos desenhos, mas em função de alguns entraves não foi possível a sua concretização. Percebeu-se a preocupação da escola na transmissão de mensagens prontas. Ensinar e aprender nessa perspectiva levam, conseqüentemente, a negação da pesquisa e a procura por respostas. Neste caso o saber, divulgado na bibliografia disponível, cristaliza-se como verdade absoluta e sua mensagem é assimilada passivamente, sem questionamentos. Este trabalho mostrou a necessidade de experiências em educação e meio ambiente que estimulem questionamentos acerca do modo de vida na sociedade contemporânea, que desmistifiquem algumas verdades divulgadas nos materiais bibliográficos e, por fim, alterem a rotina da prática educativa. Esta última refere-se ao aprender fora de situações de imobilidade corporal. |
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Instituição de fomento: Universidade do Estado de Santa Catarina -UDESC | ||
Palavras-chave: Educação Ambiental; Representações; Reciclagem. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |