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C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática
EFLUENTES DE MINERAÇÃO DE CARVÃO E A DIVERSIDADE DE FAMÍLIAS DE INSETOS BENTÔNICOS NO RIO MÃE LUZIA EM TREVISO, SC
Renata Coelho Rodrigues 1 (renatacrbio@ig.com.br) e Luiz Alexandre Campos 1
(1. Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais - UNESC)
INTRODUÇÃO:
O sul de Santa Catarina tem, na extração e beneficiamento do carvão mineral, importantes atividades econômicas. Os sistemas aquáticos próximos a estas atividades estão em sua maioria alterados devido aos efluentes da mineração, os quais caracterizam-se, especialmente, pelo baixo pH e alta concentração de íons metálicos, principalmente Fe++. A principal bacia hidrográfica da região, a do rio Araranguá, é fortemente influenciada por estes efluentes; sua maior sub-bacia, a do rio Mãe Luiza, apresenta área de 1.501km2 e extensão axial de 93,36km, recebendo contribuições da mineração ao longo de parte de seu trecho superior, selecionado para o presente estudo. Neste trecho o rio caracteriza-se por ser de cabeceira, de 1a ordem. Estudos de biodiversidade em sistemas lóticos na região são escassos, dificultando o desenvolvimento de programas de monitoramento e reabilitação ambiental. Insetos bentônicos são importantes nestes sistemas, refletindo na sua diversidade, abundância, distribuição e habilidade para explorar a maioria dos habitats aquáticos; o conhecimento da biodiversidade de insetos pode gerar subsídios para estudos envolvendo bioindicação e biomonitoramento. Este trabalho teve como objetivos conhecer a biodiversidade dos insetos bentônicos no rio Mãe Luzia no município de Treviso (SC) e a influência exercida sobre esta biodiversidade por efluentes de mineração, caracterizados por alterações no pH, condutividade e temperatura da água.
METODOLOGIA:
Foram realizadas amostragens quinzenais (set./2004 a jan./2005) em três pontos no rio Mãe Luzia, cujas coordenadas foram obtidas com uso de GPS junto à margem direita do rio. O ponto 1 (28°27’39”S, 49°30’09”W) mantém condições de potabilidade da água, o ponto 2 (28°28’15”S, 49°27’42”W) recebe uma leve contribuição de efluentes de mineração e o ponto 3 (28°28’23”S, 49°27’38”W) recebe uma severa contribuição. Os insetos foram coletados com uso de rede tipo Surber medindo 80x40x40 cm, malha de 1mm por meio de virada de pedras e revolvimento de substrato do fundo do rio ao longo de 1m, totalizando 20m em cada unidade amostral. A cada metro a rede era esvaziada em recipiente hermético contendo álcool 70%. Os exemplares coletados foram levados a laboratório para triagem e identificação até família. Foram registrados pH, temperatura e condutividade da água in situ com o uso de laboratório portátil Check Mate 90. Para a análise dos dados cada coleta foi considerada como uma unidade amostral, totalizando 7 unidades amostrais por ponto, visando permitir uma comparação sazonal entre os pontos. Calculou-se o índice de diversidade de Shannon (H’) para as unidades amostrais e o coeficiente de similaridade de Morisita (Mc) entre as unidades; realizou-se uma análise de agrupamento (UPGMA) utilizando a Distância Euclidiana como critério de agrupamento; para a correlação entre os dados efetuou-se a análise de correspondência canônica (CCA) e a de componentes principais (PCA).
RESULTADOS:
Foram coletados 2.894 indivíduos pertencentes a 26 famílias distribuídas em 8 ordens (Ephemeroptera, Plecoptera, Trichoptera, Coleoptera, Diptera, Hemiptera, Odonata e Megaloptera). As famílias com maior abundância por ponto amostral foram Leptophlebiidae (Ephemeroptera) (ponto 01: 39,84%), Hydropsychidae (Trichoptera) (ponto 02: 22,64%) e Corydalidae (Megaloptera) (ponto 03: 28,57%). Os maiores valores de diversidade em todas as unidades amostrais foram encontrados nos pontos 1 (H’=1,01, dez/04) e 2 (H’=1,09, set/04), enquanto que o maior valor para o ponto 3 ficou muito abaixo dos demais (H’=0,68, dez/04); a maior similaridade ocorreu entre unidades amostrais do mesmo ponto amostral, o que ficou evidenciado na análise de agrupamento onde as unidades do ponto 3 separam-se do grupo que reúne as unidades dos pontos 1 e 2. A análise de correspondência canônica evidenciou uma maior correlação entre o eixo principal da diversidade e o pH (índice de correlação canônica Rc=0,687), havendo um maior distanciamento das unidades do ponto 3 em relação às demais; a condutividade apresenta maior correlação com o eixo secundário (Rc=0,469). O resultado da análise de componentes principais corrobora os resultados da UPGMA e da CCA, sendo que as unidades do ponto 3 formam um grupo distinto que está separado dos demais no sentido do eixo principal e as unidades dos pontos 1 e 2 formam dois grupos afastados no sentido do eixo secundário.
CONCLUSÕES:
Os resultados indicam que há redução na biodiversidade de insetos bentônicos influenciada por fatores relacionados aos efluentes de mineração de carvão, o que pode ser observado diretamente nos índices de diversidade, sempre menores no ponto 3. As medidas de similaridade evidenciaram maior proximidade entre as unidades amostrais pertencentes a um mesmo ponto, independente do mês de coleta, sendo um indicativo de menor influência sazonal em comparação com os fatores ambientais mensurados. A redução de biodiversidade no ponto 3 deve-se à variação do pH (componente ambiental primário), compatível com a característica de acidez dos efluentes da mineração resultante da presença óxidos de enxofre. A condutividade (componente secundário) mostrou-se em elevação do ponto 1 em direção ao 3, devido provavelmente a uma maior concentração de metais na água, sendo o fator responsável pela variação na biodiversidade entre os pontos 1 e 2.
Instituição de fomento: SIECESC
Palavras-chave:  Ecologia de comunidades; Insetos bentônicos; Efluentes de mineração de carvão.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005