|
||
A. Ciências Exatas e da Terra - 1. Astronomia - 5. Astronomia do Sistema Solar | ||
PLANETÁRIO A PARTIR DE UM PULVERIZADOR | ||
João Batista Garcia Canalle 1 (canalle@uerj.br), Vitor Cossich de Holanda Sales 1 e Adelino Carlos Ferreira de Souza 1 | ||
(1. Instituto de Física - Universidade do Estado do Rio de Janeiro) | ||
INTRODUÇÃO:
Parece ser intrínseco do professor de física ou de astronomia a procura pela simplicidade, quer quando busca soluções teóricas para algum fenômeno ou problema, quer quando constrói ou reconstrói experimentos científicos ou didáticos. O físico ou astrônomo que trabalha em laboratórios didáticos freqüentemente se depara com situações em que a sua criatividade propicia simplificações nas montagens didáticas que usa ou, então, as situações o levam a criar inéditos experimentos didáticos para usar junto aos seus alunos. Para simular o movimento aparente do céu, Rodolfo Caniato (1990, “O céu”, ed. Ática) sugeriu que se usasse um balão de ensaio de química, esférico, de vidro transparente, de cerca de 20 cm de diâmetro, com metade do seu volume esférico cheio de água, tampado e apoiado sobre o seu próprio tripé. A tal aparato ele chamou de “planetário de pobre”. A idéia fundamental era colocar as estrelas desenhadas sobre o balão de vidro, o qual poderia ser inclinado simulando qualquer latitude do globo terrestre e girando-se o mesmo poderia-se visualizar o movimento aparente das estrelas da esfera celeste. Apesar do nome “planetário de pobre”, a proposta em questão custa atualmente cerca de um salário mínimo, é pesado e quebrável. O presente trabalho apresenta as idéias que se sucederam na tentativa de substituir o balão de vidro por algo de custo baixíssimo e, se possível, não quebrável até a obtenção da solução que realmente podemos chamar de “planetário de pobre” ou o que seria mais adequado, de “planetário de pulverizador”. |
||
METODOLOGIA:
Diante da tradicional carência de recursos pelas quais passam as escolas públicas é natural que atividades criadoras se desenvolvam com materiais de baixo custo ou com sucatas. Neste sentido trabalhamos buscando alternativas para simplificar as demonstrações de fenômenos físicos e astronômicos que ficam estéreis de se ensinar e desinteressantes aos alunos quando não utilizamos nenhuma demonstração prática, por mais simples que ela seja. Iniciando os trabalhos tentando reproduzir o experimento sugerido por Caniato (1990), contudo desistimos de imediato quando descobrimos que para comprar o mencionado balão de ensaio seria necessário desembolsar um pouco mais que um salário mínimo. Procuramos, então, dentro da própria Universidade em que trabalhamos por um balão de vidro que estivesse fora de uso. Felizmente encontramos um com 30 cm de diâmetro. Quando fomos enche-lo de água ele caiu das mãos do aluno que o estava manuseando e, obviamente se quebrou, ferindo levemente o aluno. Como este experimento se destina a ser usado principalmente no ensino fundamental, pois é lá que mais se ensina conteúdos de astronomia, certamente, não seria nenhum pouco aconselhável usar balão de vidro junto a alunos desta faixa etária, haja visto o que ocorreu com nosso aluno de graduação. |
||
RESULTADOS:
Descobrimos que usando duas tampas de “queijeiras”, de acrílicas, cada uma com o formato de uma semi esfera, quando coladas e tampados os 6 furinhos de ventilação, ela reproduzia perfeitamente bem uma esfera. Contudo, rapidamente descobrimos que a industria que a fabricava tinha descontinuado a sua fabricação. Tentamos globos de lâmpadas, porém os que são esféricos e não são de vidro, são leitosos, e portanto perdíamos a transparência necessária do experimento. Quando não se desiste facilmente de uma idéia, parece que o acaso nos favorece e encontramos, por acaso, um pulverizador, de forma esférica, de plástico, transparente, que custa cerca de cinco reais, com diâmetro de 15 cm e que serviu perfeitamente aos nossos propósitos. Sobre ele desenhamos o equador celeste, a eclíptica, as estrelas mais brilhantes de ambos hemisférios, as constelações do Cruzeiro do Sul, Órion e Escorpião. Através do gargalo do pulverizador o enchemos com 50% do seu volume com água a qual representa o horizonte do observador. Imaginando este sobre o centro do pulverizador e girando o dito cujo, apoiado sobre um copo plástico qualquer representamos o movimento aparente das estrelas tal qual é observado a partir de qualquer latitude, inclusive do pólo Sul. Infelizmente não é possível representar o pólo norte pois este fica no gargalo do pulverizador. Isto, contudo, não é grave pois podemos ter outro pulverizador e nele representar as estrelas do pólo Norte. |
||
CONCLUSÕES:
Obviamente, se um fenômeno qualquer da natureza puder ser estudado com materiais simples é desnecessário usar materiais complexos ou caros para se fazer o mesmo estudo. Não é o material usado para se estudar o fenômeno que o faz mais ou menos importante do que outro, nem tampouco isso denigre a ciência ou o professor que os usa. Mesmo experimentos didáticos tradicionalmente comercializados foram um dia criados, inventados, planejados e, obviamente, nem sempre as empresas que os desenvolveram, ou seus autores conseguiram a versão mais simples possível, ou então, porque na época em que eles foram desenvolvidos não havia os materiais ou produtos que se tem agora, como por exemplo os citados pulverizadores usados em salões de barbeiros ou cabeleireiros. Neste painel, no qual o visitante poderá manusear este planetário, pois ele estará ao lado dos textos explicativos, temos um exemplo concreto no qual a criatividade aliada à persistência e à existência de novos materiais ou produtos permite que demonstremos o movimento aparente da esfera celeste. |
||
Palavras-chave: Planetário; Esfera celeste; Pulverizador. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |