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C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 4. Ecologia | ||
QUEM POLINIZA OS PÉS DE OITICICA (Licania rigida, BENTH., CHRYSOBALANACEAE) ? | ||
Samuel Carleial Fernandes 3 (biologo_samuel@yahoo.com.br), Christian Westerkamp 1, 2 e João Batista dos Santos 3 | ||
(1. Prof. Dr. do Depto. de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Ceará, UFC; 2. Pesquisador do Depto. de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Ceará, UFC; 3. Graduando do Depto. de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Ceará, UFC) | ||
INTRODUÇÃO:
A Oiticica (Licania rigida, Benth. Chrysobalanaceae) é uma planta típica do sertão nordestino, sendo encontrada nos Estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. Durante todo o ano, inclusive nos períodos de seca, comuns às regiões de ocorrência natural dessa planta, L. rigida mantém-se verde e fornece sombra ao homem e diversos outros animais. Das suas folhas, troncos e frutos também podem ser beneficiadas populações que construam casas, utilizando a madeira, produzindo sabão ou combustível para a iluminação a partir do copioso óleo produzido pelos seus frutos e mesmo a produção de superfícies com capacidade de lixamento, pelo uso de suas folhas. Não obstante à tamanha importância que L. rigida desempenha sobre a condição humana, pouco se sabe quanto aos seus aspectos biológicos, sejam eles reprodutivos ou ecológicos. Dessa forma, esse trabalho propôs, como objetivo específico, determinar qual seria o polinizador efetivo da espécie L. rigida e seus possíveis polinizadores ocasionais, bem como esclarecer aspectos sobre a biologia floral e fenologia dessa planta tão representativa ao semi-árido nordestino e que atualmente se encontra tão ameaçada e reduzida em seu ambiente natural |
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METODOLOGIA:
Os estudos foram realizados no Campus do Pici, Universidade Federal do Ceará, durante o ano de 2004, nos meses de setembro a novembro, período quando ocorreu a floração de L. rigida. Foram estabelecidos dois tipos de trabalho, um em campo o outro no laboratório. Para o primeiro, foram feitas observações de inflorescências escolhidas aleatoriamente durante os períodos da manhã e da tarde. Todas as observações pertinentes foram anotadas em caderneta e os animais coletados foram sacrificados em éter-dietilico. Fotografias também foram feitas durante a manhã, no horário das 6:30 às 8:00, quando eram encontrados muitos visitantes nas flores. Já o trabalho em laboratório encarregou de serem feitos desenhos e análises com o auxílio de estereoscópio Olympus Wild M5 e câmara clara. |
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RESULTADOS:
As flores pequenas têm forma de copo e possuem um extenso nectário alaranjado que não produz gotas, mas apenas uma fina superfície úmida. Estigma e anteras ficam ao redor da margem deste copo, elongando-o. Assim, o grupo de animais capaz de alcançar e beber este néctar já é limitado. Observamos Coleoptera, Diptera, Hymenoptera e Lepidoptera nas inflorescências. Os primeiros nunca visitaram-nas, abelhas e borboletas mostraram muitos problemas no processo de beber, pois elas tinham que mover a língua para aproveitar do néctar. Os Hymenoptera coletados foram abelhas do gênero Trigona e Apis e da família Halictidae. Os Diptera, por outro lado, ficaram tranqüilos enquanto acessavam o néctar, sem mexer-se. Eles enfiaram a probóscide na flor colocando os labelos esponjosos sobre o filme de líquido e assim conseguiram beber tudo de uma vez só, parados no mesmo lugar. Durante esse tempo, estigma e anteras entraram em contato com a base do rostro do animal, que encaixava perfeitamente sua cabeça no espaço central disponível da flor. Diptera foi a ordem mais representada, todas as espécies pertencentes à família Syrphidae. A análise dos aparelhos bucais indica que o do tipo esponja das moscas é mais adequado para beber o filme de néctar do que o aparelho lambedor das abelhas. Observou-se também que o comprimento do aparelho bucal das moscas e a distância da abertura da flor ao nectário eram semelhantes, as abelhas, no entanto, não apresentaram tal compatibilidade. |
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CONCLUSÕES:
As observações de campo e análises em laboratório dos espécimes coletados bem como das flores também estudadas sugerem que a polinização de L. rigida é desempenhada primordialmente por dípteros da família Syrphidae que foram vistos visitando as inflorescências de oiticica tanto nos períodos da manhã como pela tarde em número bastante evidente e superior aos demais visitantes como as abelhas, borboletas e percevejos. O comportamento que as moscas apresentavam diferia de forma significativa ao apresentado pelas abelhas do gênero Trigona ou Apis, pois estas visitavam as flores mantendo um movimento circular ao redor da flor, de forma frenética, empurrando os estames para os lados e tentado posicionar sua cabeça na abertura da flor, ao passo que as moscas, após pousarem nas inflorescências, percorriam-na, geralmente, de uma ponta a outra seguindo uma linha reta e, ao parar em cada flor, permaneciam imóveis com suas partes bucais inseridas no “copo” da flor, provavelmente captando as gotículas de néctar do seu interior, sem apresentar esforço muito grande. Durante a floração puderam ser visto frutos jovens desenvolvendo-se nas mesmas inflorescências visitadas por esses animais, portanto, a visita destes certamente resultou na polinização, um pré-requisito para o sucesso reprodutivo da Oiticica. Porém, em 2003 ocorreu uma frutificação muito maior do que em 2004, mas esse fenômeno será motivo para outros estudos vindouros. |
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Palavras-chave: polinizadores; moscas; semi-árido. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |