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F. Ciências Sociais Aplicadas - 2. Economia - 7. Economia Regional e Urbana
A GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS COLETIVOS: A EXPERIÊNCIA DE UMA COOPERATIVA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS NO MUNICÍPIO DE PIRACICABA
Lília Aparecida de Toledo Piza Martins 1 (lamartim@unimep.br), Maria Thereza Miguel Peres 1 e Ednalva Felix das Neves 1
(1. Faculdade de Gestão e Negócios - Universidade Metodista de Piracicaba - UNIMEP)
INTRODUÇÃO:
O município de Piracicaba-SP, com cerca de 350 mil habitantes, assim como outros, sofre com o problema do desemprego que vem assolando o país nas últimas décadas. Entre 1980/1999, o trabalho formal foi reduzido em 5,7%, eliminando cerca de 4 mil postos de trabalho. Segundo a Secretaria Municipal do Desenvolvimento Social há no município cerca de 5 mil famílias sobrevivendo sem nenhum rendimento e sofrendo diversas carências.
Entretanto, iniciativas importantes vem sendo colocadas para mudar este quadro, mesmo que de forma embrionária. Diversas pessoas vem se juntando e buscando soluções coletivas para o desemprego através da formação de cooperativas populares, na direção da chamada Economia Solidária.
Assim, a partir de uma parceria envolvendo a Prefeitura Municipal, a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (UNIMEP) e a Rede UNITRABALHO, teve início em 2001 o Projeto Reciclador Solidário, visando gerar trabalho e renda para pessoas que sobreviviam da coleta de materiais recicláveis no Aterro Sanitário do Pau Queimado, em precárias condições de trabalho.
A Cooperativa do Reciclador Solidário de Piracicaba foi constituída com 30 cooperados que coletam, separam e comercializam os materiais recicláveis, uma atividade que gera trabalho e renda para o grupo e beneficia o meio ambiente.
O objetivo deste trabalho é socializar a experiência do grupo na sua trajetória, sugerindo que ele precisa buscar outras formas de sobrevivência e inserção no mercado.
METODOLOGIA:
Para a análise dos dados apresentados, três variáveis serão consideradas: quantidade de material coletada e comercializada, receita gerada com a venda dos materiais e os rendimentos dos cooperados.
A avaliação contará com uma análise descritiva dos dados para posterior comparação. Em primeiro lugar, será feita uma análise descritiva, avaliando a evolução da quantidade de material (em kg) vendida em 2003 e 2004. A seguir, o mesmo procedimento será aplicado para a análise da receita gerada e dos rendimentos dos cooperados nos anos mencionados. A análise dos dados e a conclusão são as próximas etapas.
É importante dizer que a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares - Núcleo Unimep, vinculada à Rede Unitrabalho, acompanha o andamento da Cooperativa do Reciclador Solidário desde o seu início, quando ainda era um Projeto. O papel da Incubadora, após orientar os recicladores no processo de constituição legal da Cooperativa, tem se dado no sentido de prestar assessoria contábil-financeira, capacitando os cooperados para que eles possam num futuro próximo caminhar rumo a autogestão.
RESULTADOS:
A Cooperativa gera trabalho e renda para os seus 30 membros, que é o seu objetivo maior. Em 2003, ela coletou cerca de 422 toneladas e em 2004 cerca de 484. A receita saltou de R$ 125.277,46 em 2003 para R$ 140.595,40 em 2004. Os materiais mais coletados em termos de kgs são material de terceira, plástico e papelão. Em termos de receita, destacam-se o plástico, papelão e alumínio.
De 2003 para 2004, o volume de material coletado cresceu 14% e o da venda 12%. Os rendimentos dos recicladores em termos de média tiveram uma queda de cerca de 7%. Em 2003 a média foi R$ 392,61 e em 2004 foi de R$ 367,18.
Contribuíram para a queda dos rendimentos o aumento do grupo (3 membros), o aumento das despesas (antes assumidas integralmente pela Prefeitura) e as oscilações dos preços dos produtos comercializados. Quanto aos preços, por exemplo, o papelão, que é muito comercializado pela Cooperativa, iniciou 2004 cotado a R$ 0,30kg e terminou cotado a R$ 0,27kg. A mesma situação aconteceu com a chaparia, jornal, material de terceira e branca, que juntos são os produtos mais comercializados pela Cooperativa.
Os preços dos materiais recicláveis são determinados pelos sucateiros que compram o material, que vendem para outros sucateiros, que vendem para o comprador final, que no caso é a indústria recicladora. Os intermediários levam vantagens ganhando dos dois lados. Para mudar isto, os recicladores podem buscar agregar valor ao material que coletam, verticalizando a produção.
CONCLUSÕES:
A Cooperativa do Reciclador Solidário tem conseguido cumprir o seu objetivo de gerar trabalho e renda para parte das pessoas que viviam da coleta de resíduos no aterro sanitário, proporcionando melhores condições de trabalho. Embora o rendimento médio dos cooperados tenha sofrido uma redução, é preciso destacar que houve um aumento do número de cooperados, o que atende ao segundo objetivo da Cooperativa, que é o de atender a um número maior de pessoas, retirando-as do trabalho no aterro sanitário.
A quantidade de material coletado e vendido aumentaram significativamente entre 2003/2004, sinalizando que se ocorreu redução nos rendimentos dos cooperados isso não se deveu aos dois fatores mencionados.
Os rendimentos dos cooperados dependem, em boa medida, da evolução dos preços dos materiais recicláveis no mercado que, como visto, oscilaram para baixo em 2004. Para os cooperados, que nunca tiveram de enfrentar o mercado enquanto gestores, estão sendo desafiados a sobreviver e a consolidar o seu "negócio", que teve o seu início em 2001. Ao assumir as despesas, antes subsidiadas pela Prefeitura, a Cooperativa está caminhando para a autogestão.
Um caminho para a expansão da Cooperativa é a ampliação do número de cooperados e, por conseguinte, a ampliação da quantidade coletada e comercializada. Além disto, ela pode buscar a comercialização do material diretamente com o comprador final, eliminando a figura do intermediário e, também, pode agregar valor aos seus produtos.
Instituição de fomento: Universidade Metodista de Piracicaba - UNIMEP
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Economia Solidária; Meio Ambiente; Gestão.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005