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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 4. Sociolingüística | ||
A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA EM SALA DE AULA: UMA ANÁLISE DO POSICIONAMENTO DO PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL DIANTE DAS VARIAÇÕES UTILIZADAS PELOS ALUNOS | ||
Suellen Caroline Salustiano da Silva 1 (suellen.caroline@bol.com.br) e Maria Denilda Moura 1 | ||
(1. Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas - UFAL) | ||
INTRODUÇÃO:
Com base na hipótese de muitos professores não respeitarem o conhecimento lingüístico dos alunos que chegam à escola falando um português não-padrão (doravante PNP), variedade estigmatizada, este trabalho tem o objetivo de analisar o posicionamento desses professores diante das variações lingüísticas utilizadas pelos alunos em sala de aula. Como justificativa, podemos citar o fato de esses professores acreditarem que o ensino de língua portuguesa consiste apenas no fato de mostrar aos alunos o que é “certo” e o que é “errado” na língua, de acordo com a Gramática Normativa. A teoria que fundamenta esta pesquisa, cujo precursor é Willian Labov, é a Sociolingüística Variacionista que enfatiza a heterogeneidade lingüística, ou seja, a língua não é usada da mesma maneira pelas pessoas e que fatores lingüísticos e extralingüísticos interferem em seu uso. |
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METODOLOGIA:
Para a realização desta pesquisa, a coleta de dados foi feita em uma instituição da Rede Pública da cidade de Maceió, onde foram gravadas duas aulas de Língua Portuguesa da 5ª e 6ª Séries do Ensino Fundamental, sendo aquela composta por 43 alunos e esta por 46. As educadoras são concluintes do Ensino Superior e fazem parte do quadro de funcionários públicos do Estado de Alagoas. Após esse procedimento, as aulas foram transcritas e analisadas com base nas perspectivas da Sociolingüística Variacionista, uma vez que esta tem o objetivo de descrever as variedades de uma língua que se encontram em relação de concorrência através de dados lingüísticos (morfossintáticos, semânticos, etc.) e extralingüísticos (sexo, escolaridade, posição social, etc.), porém, não iremos analisar variante alguma, apenas tomaremos a teoria como suporte para análise do preconceito lingüístico por parte dos Professores, que deveriam ter em mente que a variação lingüística é passível de explicação, e que não deveriam jamais passar as idéias errôneas de que o aluno “não sabe português” ou que “o português é muito difícil”, perpassando, assim, o preconceito arraigado, ou algo parecido. |
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RESULTADOS:
Na 5ª Série, a professora utilizou diversas atividades, com predominância das atividades de leitura. Foi possível observar que ela fazia intervenções aos alunos, ora em eventos de oralidade, ora em eventos de letramento. Em um evento de oralidade, um dos alunos pergunta à professora: Hoje é vinte e cinco? . A professora intervém: São vinte e cinco. Em outro evento, agora de letramento, o aluno faz a leitura de um texto do livro didático. Durante a leitura, ocorrem palavras pouco empregadas em eventos de oralidade, como, por exemplo, contentíssimos com a qual o aluno comete um erro de decodificação e pronuncia contentíssamos, a professora corrige a pronúncia e a entonação, porém, ainda durante a leitura, escapa-lhe a realização da forma verbal vinheru que ela própria reproduz. A análise da 6ª Série não diferiu muito da outra análise, pois também predominaram os exercícios de leitura. Observemos o seguinte exemplo em que o aluno, em um evento de oralidade diz o seguinte: É pra mim lê também? a professora parece não ter percebido a regra não-padrão usada pelo aluno. Logo em seguida, em um evento de letramento, observamos uma intervenção da professora quando o aluno faz a leitura de um texto e pronuncia o verbo sofrer da seguinte forma: sófre. Então, a professora o intervém alegando que sua pronúncia está errada, pois ele esquecera de pronunciar o r/ no final da palavra, caracterizando assim o infinitivo verbal. |
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CONCLUSÕES:
De acordo com resultados obtidos, podemos concluir que a maneira como os professores lidam com as variações lingüísticas utilizadas pelos alunos, pode contribuir para que haja o preconceito lingüístico no ambiente escolar, tendo em vista que as intervenções feitas pelos educadores com o intuito de mostrar aos alunos a maneira “correta” de falar e de escrever, pode fazer com que o aluno sinta-se estigmatizado e, conseqüentemente, ele acabará tendo um fracasso escolar. É importante ressaltar que esses professores não têm em mente a idéia de que a variação lingüística que ocorre no ambiente de sala de aula não se dá aleatoriamente, mas é sistematizada por estar condicionada a fatores de ordem lingüística e extralingüística. |
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Instituição de fomento: MEC/ SESu | ||
Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: Sociolingüística Variacionista; Preconceito Lingüístico; Ensino de Língua Materna. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |