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G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana
DIFERENÇAS E DESIGUALDADES POPULACIONAIS NO LITORAL CEARENSE
Ana Maria Matos Araújo 1, 2 (ammaluz@yahoo.com.br)
(1. Laboratório de Estudos Populacionais - LEPOP / UECE; 2. Núcleo de Pós-Graduação em Geografia - UFS)
INTRODUÇÃO:
Os movimentos populacionais sertão-litoral se deram historicamente em direção a Fortaleza, sendo os municípios mais próximos destino dos fortalezenses para o lazer, e do turismo, além dos que procuram residência, trabalho e localização industrial, culminando com a metropolização. São migrantes que buscam a Capital para trabalhar e estudar, residir temporária ou permanentemente. Os trabalhadores recém chegados, sujeitos a pressões econômicas freqüentemente maiores que os migrantes antigos e os naturais, submetem-se, temporariamente, a piores condições de moradia e de trabalho. Vão se somar, entretanto, àquelas famílias mais pobres, cujas condições de vida na cidade não são das melhores, mas sem uma separação espacial nítida. Por tanto, objetiva-se neste ensaio revelar as diferenças entre Fortaleza e demais municípios litorâneos, além de resumir as desigualdades socioeconômicas no interior da Metrópole, espacializando a riqueza e a pobreza. Caracteriza-se a população litorânea e desfazem-se alguns mitos, por exemplo, de as disparidades metropolitana se resumir espacialmente ao- oeste pobre e ao leste rico.
METODOLOGIA:
Pela revisão bibliográfica e ensaios anteriores pode-se constatar que a dinâmica sócio-populacional apresenta aspectos quantitativos e qualitativos ainda desconhecidos. Neste caso, optou-se por dimensionar esta realidade mais genérica e abstrata através das estatísticas oficiais do IBGE, base de uma pesquisa mais qualitativa, pois revelam a preferência por Fortaleza dos que saem do interior do território cearense, apenas observando a distribuição da população entre municípios litorâneos. São informações do Censo Demográfico de 2000, que permitiram construir indicadores demográficos (crescimento, gênero, domicílios, envelhecimento, densidade) além de aspectos sociais básicos (alfabetização, dependência de trabalhadores e renda domiciliar per capita).Internamente a Fortaleza foram comentadas as desiguais condições de vida nos 114 bairros da cidade, através do Índice de Desigualdades Socioeconômicas (ISE), dos chefes de família em escolaridade e renda, e a situação de esgotamento dos domicílios e o número de moradores, segundo classes de bairros; e do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH-bairros). Ambos relativos a situação em 2000, sendo o primeiro construído pela Secretaria de Saúde do Estado e o outro pela Prefeitura Municipal de Fortaleza (SOUZA, 2004), seguindo a metodologia internacional do IDH para países.
RESULTADOS:
São vinte e um municípios litorâneos e uma população de 3.267.008 habitantes, ou seja, 43,97% do total cearense, Fortaleza conta com 65,55% deste espaço. Apenas Caucaia faz contraponto a Capital com cerca de 450 mil hab. Aquiraz, Aracati, Camocim, Cascavel, e Itapipoca estão em terceiro plano com populações acima de 50 mil hab. A tendência de urbanização segue para todos, acentuando-se em Fortaleza, Eusébio e Caucaia, embora, em Icapuí, Jijoca de Jericoacoara, Itarema, Trairi e Amontada permaneça a maioria residente no rural. As mulheres são relativamente mais em Fortaleza, Camocim, Cascavel, Cruz, Aracati e Caucaia, nos demais os homens são em maioria. O crescimento populacional é alto em Fortaleza, Eusébio e Caucaia e em termos urbano foi acelerado em Trairi, Beberibe, Paraipaba. Nas áreas rurais, o Estado passa por perdas, no litoral, em alguns casos (Caucaia, Icapui, Amontada e Trairi) crescem com altas taxas. As densidades demográficas acentuam-se na RMF, e em Fortaleza, com 6.854,68 hab/km2. A renda domiciliar per capita é notadamente alta em Fortaleza, pouco mais de R$ 300,00, nos municípios da RMF obtém-se um terço da renda na Capital. Segundo o ISE de Fortaleza havia uma tendência, confirmada pelo IDH-bairro, de melhor padrão de vida no Centro e na Aldeota, que decresce para a Periferia e se mantém transversalmente em torno da Av.Beira-Mar e Santos Dumont; da Washington Soares e Br116; Av João Pessoa e Godofredo Maciel; e da Av.Bezerra de Menezes e Jovita Feitosa.
CONCLUSÕES:
As diferenças entre Fortaleza e demais municípios litorâneos mostram-se quando se afasta do núcleo metropolitano. A RMF segue padrão sócio-populacional mais homogêneo a partir de Fortaleza. Não se pode constatar, entretanto, que nos termos examinados a região litorânea seria expressiva para o Estado, salvo pela preponderância de Fortaleza, com sua múltipla funcionalidade. As condições naturais talvez façam diferença nos municípios litorâneos, que experimentam crescimento rural, motivados pela especialização do lazer e do turismo. As desigualdades socioeconômicas no interior da Metrópole foram vistas pela territorialidade dos processos sociais e revelaram limitadas e melhores oportunidades de renda e de condições domiciliares restritas ao padrão concêntrico expandido do histórico Centro e da Aldeota para leste, sendo a pobreza dispersa e extensa, seguindo várias direções e afastada dos corredores de expansão da cidade, confirmando a contradição capitalista clássica de produção social da riqueza e distribuição privada, portanto com profundas desigualdades. Desmistifica-se, assim, a visão dual de uma Fortaleza rica a leste e uma pobre a oeste. Como hipótese para futuras investigações, percebe-se que o movimento predominante seria sertão-Fortaleza-litoral, a ser confirmada pela mobilidade da população intra-regional e intra-metropolitana, que se consegue apenas adentrando nos micro-dados do IBGE e por pesquisa qualitativa.
Instituição de fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel Superior
Palavras-chave:  população; desigualdades; litoral.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005