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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 4. Educação Básica
ASTRONOMIA, LETRAMENTO E INCLUSÃO NO ENSINO FUNDAMENTAL
Maria Luciene de Souza Lima 1, 2 (lucienelulima@yahoo.com.br) e Luiz Carlos Jafelice 1, 3
(1. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências Naturais e Matemática, UFRN; 2. SECD - Secretaria Estadual de Educação, Cultural e Desporto; 3. Departamento de Física - UFRN)
INTRODUÇÃO:
O tema deste trabalho é o de alfabetizar as crianças a partir dos seis anos de idade através dos conteúdos da astronomia numa perspectiva de letramento. A idéia para este trabalho surgiu a princípio por dois motivos: a cumplicidade com a idéia do professor Luiz Carlos Jafelice de acreditar que os conteúdos da astronomia são possíveis de serem trabalhados no Ensino Fundamental e por ter me sentido inconformada pelo não reconhecimento por parte de algumas colegas, que na época trabalhavam comigo na Escola Municipal Djalma Maranhão (EMDM), da possibilidade de se realizar tal trabalho naquele nível de ensino. Objetivamos estudar o processo de alfabetização dessas crianças usando os conteúdos da astronomia, segundo um enfoque que parte de elementos culturais relacionados à mesma, tendo em vista a apropriação da leitura e da escrita numa experiência de letramento. Com isto esperamos reafirmar que os conteúdos da astronomia são fundamentais para estabelecer para as crianças na 2ª infância (assim como diz, e.g., Hutchison 2000) e para os adultos um censo de relacionamento com a comunidade terrestre, bem como, desenvolvermos uma consciência ecológica, já que a crise ambiental é grave e precisamos conscientizar as crianças da inter-relação que há entre o macrocosmo e microcosmo.
METODOLOGIA:
Este trabalho está sendo realizado desde o ano de 2004 na Escola Estadual Alceu Amoroso Lima, Natal(RN), em uma turma de 1º ciclo, através do método ativo-vivencial. Para tanto estão sendo realizadas sessões de leitura e releitura de livros, a 1ª exposição lunar, montagem de calendários lunares, compilação de músicas e realização de oficinas. Estas têm envolvido desde manipulação de argila, lixa e confecção de luas com balões, até produções poéticas, relatos orais e escritos, o jogo da trilha da Lua – por nós especialmente criado para favorecer o desenvolvimento da abordagem proposta – o 1º e o 2º dia-noite das crianças – encontro temático, em noites de lua cheia, onde nos encontramos ao cair da tarde e passamos a noite toda na escola com as crianças, quando elas lêem para os pais os poemas que criaram relacionados às coisas do céu, encenam as coreografias que fizeram para certas músicas, brincam, ouvem histórias e vêem filmes sobre esses temas, olham a Lua pelo telescópio etc. Isto tudo tem possibilitado, então, a aquisição de conteúdos de astronomia pelos alunos de forma agradável e cooperativa, em atividades onde eles põem em jogo tudo o que sabem sobre sua escrita, e a partir dela avançam nas suas próprias hipóteses de escrita e as habilidades de leitura. Desta forma elas vão se apropriando das várias formas do discurso lingüístico, pois a nossa sociedade exige que formemos cidadãos críticos e conscientes.
RESULTADOS:
Os resultados que temos alcançado, desde o ano 2003 com a trilha da lua (em uma primeira experiência com uma outra turma) e após estes noves meses de vivência com as crianças da turma atual, são bastante satisfatórios e animadores. O que reforça nossa crença de que é possível encaminhar uma proposta como esta, nesse nível de ensino. Assim, por exemplo, o conhecimento que as crianças tinham sobre as fases da lua no início, partia de concepções ingênuas; hoje, por outro lado, elas já conseguem reconhecer aquelas fases sem dificuldades. É importante enfatizar que tal crescimento conceitual se deu a partir de procedimentos vivenciais, e não meramente procedimentos intelectuais e conceituais, ou processos baseados em memorização, como tais assuntos costumam ser trabalhados na escola. Por isto alguns educadores não encaminham bem a sua prática, já que às vezes se orientam pelos PCN de 1º e 2º ciclos, os quais, infelizmente, cometem o mesmo erro de avaliação. De fato, os conteúdos de astronomia estão praticamente ausentes dos PCN desses ciclos, implicando em sérios prejuízos na formação das crianças, que fervilham de interesse e capacidade de aprendizagem sobre esses temas.
Por outro lado, as diversas práticas em sala de aula, onde fizemos uso da leitura-escrita através dos conteúdos da astronomia, possibilitaram que as crianças tivessem o conhecimento da riqueza de nossa língua e não atuassem apenas como decodificadores de símbolos lingüísticos.
CONCLUSÕES:
Diante dos resultados obtidos até o momento, evidenciamos que não só os conteúdos da astronomia podem ser trabalhados nas séries iniciais do ensino fundamental como quaisquer outros que se queira, desde que tornados adequados aos níveis das crianças. Afinal, precisamos ver os conteúdos não como se sempre fossem necessariamente hierarquizados e trabalharmos esses conteúdos de forma contextualizada, preparando os alunos para a vida e não abordar tais temas só quando os estudantes crescerem.
Percebemos também que esses conteúdos podem ser trabalhados numa perspectiva inclusiva. Entenda-se esta inclusão não apenas no sentido de atender alguma criança portadora de necessidade especial, mas sim no sentido de aceitar as diferenças do outro, garantir a todas as crianças, a partir dos 6 anos de idade, o reencontro com as coisas do céu e simultaneamente estarem participando do processo de letramento. A experiência que temos, desde a prática da trilha da lua (na Escola Municipal Professora Zuleide Fernandes, em 2003) e atualmente (na Escola Estadual Alceu Amoroso Lima), onde temos dois alunos com necessidades especiais e os mesmos se mostram participativos nas atividades que trazem no bojo as questões da astronomia.
Palavras-chave:  Ensino de Astronomia; Letramento; Inclusão.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005