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E. Ciências Agrárias - 1. Agronomia - 5. Agronomia | ||
FORMAS DE USO DE ÁREAS DE CAPOEIRA POR AGRICULTORES FAMILIARES: ESTUDO DE CASO NO PROJETO DE ASSENTAMENTO ASSURINI, NO MUNICÍPIO DE ALTAMIRA-PARÁ | ||
José Agnaldo Ávila Neto 1 (agnaldoavila@bol.com.br), Charles Alves de Sousa 1, Maristela Marques da Silva 1 e Iliana salgado 1, 2 | ||
(1. 1 Campus Universitário de Altamira/Universidade Federal do Pará; 2. 2 Laboratório Agroecológico da Transamazônica - LAET) | ||
INTRODUÇÃO:
No sistema de produção da agricultura de corte e queima da Amazônia, as florestas secundárias representam a etapa de pousio da vegetação. Esse tipo de sistema de produção é a base de produção de alimentos de grande parte das 600 mil famílias que vivem na Amazônia (HOMMA et. al.,1998). Entretanto, as formas de gestão e uso das florestas secundárias nos lotes, na Transamazônica, nunca foram analisadas, isto é, não existem estudos sobre a percepção dos agricultores sobre essas áreas, o porquê de deixá-las em pousio. Além disso, atualmente existem poucas alternativas racionais de utilização destas áreas. Este trabalho tem a perspectiva de demonstrar como vêm ocorrendo as práticas de alguns agricultores em relação às áreas de capoeira, já que estas são realizadas obedecendo a uma lógica própria para cada sistema de produção, a partir da própria percepção do conhecimento, da situação econômica do agricultor e das condições físicas dos estabelecimentos. Busca-se também identificar aspectos relacionados ao histórico das áreas de capoeira nos estabelecimentos dos agricultores, as formas de utilização destas áreas, se fazem pousio, por quanto tempo e o porquê desta prática. Este artigo é resultado da análise de informações obtidas a partir de um projeto de pesquisa cujo tema é: a caracterização do processo de regeneração das áreas alteradas na região de Altamira-PA: as estratégias dos agricultores e o processo ecológico de regeneração das florestas secundárias. |
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METODOLOGIA:
O trabalho foi desenvolvido nas comunidades: Cajá, Babaquara, Dispenso I e II, no projeto de assentamento Assurini, no município de Altamira-Pará, no período de 12 a 16 de fevereiro de 2005. O trabalho teve como entidade parceira o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Altamira. Foram realizadas entrevistas com 17 agricultores. As entrevistas foram semi-estruturadas, combinando questões fechadas e abertas, nas quais o entrevistado teve a possibilidade de discorrer sobre o tema proposto não se resumindo numa conversa despretensiosa e neutra, como sujeitos-objetos da pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que esta sendo focalizada. Além disso, foram realizadas conversas informais com os agricultores e outros informantes durante as visitas de campo. Fez-se necessário a obtenção de informações inerentes a família, as atividades desenvolvidas por elas, a percepção e ao uso dos recursos naturais por parte das mesmas, para se alcançar uma maior compreensão dos resultados obtidos, a partir das questões almejadas. |
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RESULTADOS:
As estratégias de utilização das capoeiras divergem entre os agricultores e, em alguns casos divergem num mesmo estabelecimento agrícola. Do histórico das áreas de capoeira, 17,64% dos entrevistados têm áreas de capoeira, onde a vegetação original era mata, sendo desmatada para implantação de culturas anuais, seguida de pastagem e posteriormente tornando-se capoeira, 17,64% tinham mata, implantaram culturas anuais, a área virou capoeira, foi plantada novamente culturas anuais e hoje é capoeira, 23,53% não souberam informar e 64,70% tinham mata, e seguiram-se culturas anuais e capoeira. Sobre a forma de utilização destas áreas, 23,53% plantam somente feijão abafado e milho, 29,41% retiram madeira das áreas e 41,17% usam só para plantar culturas anuais, sendo estas de diferentes espécies. Quanto ao pousio das áreas de capoeira, 11,76% não fazem pousio e 88,24% o fazem, sendo que destes, 17,64% deixam por cerca de 6 anos e 29,41% deixam as áreas em pousio por 2 anos. Dos motivos levantados pelos agricultores para o pousio, 35,28% o fazem por não ter condições de plantar culturas perenes ou pasto, 17,64% deixam a capoeira para plantar culturas anuais novamente e 47,05% o fazem para melhorar a fertilidade do solo. Poucos agricultores apresentam diferentes históricos de utilização das áreas de capoeira, bem como outras formas de uso e tempo de pousio. |
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CONCLUSÕES:
Os resultados do histórico das áreas de capoeira nos mostram que estas áreas estão sendo utilizadas principalmente para o cultivo de culturas anuais, já que, esta produção é a responsável pelo sustento alimentar das famílias, pois não são destinadas a comercialização, indicando uma diminuição no ritmo de pecuarização entre os agricultores familiares nas comunidades estudadas, que ocorria num ritmo acelerado nos anos 80 e 90 no município. As áreas de capoeira têm sido destinadas principalmente ao plantio de culturas anuais, existindo pouca utilização de outros recursos que ali existem, principalmente em decorrência da pouca percepção dos agricultores em relação ao potencial de aproveitamento que este tipo de vegetação pode oferecer. Todos os agricultores têm a percepção que quanto mais antiga a área de capoeira, se tem menos trabalho com limpeza nas áreas cultivadas, entretanto, a maioria dos agricultores faz pousio por cerca de dois anos para reutilização das mesmas, gerando uma intensificação do uso das áreas de capoeira, aumentando a preservação da floresta primária, resultado, principalmente da forte presença do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município, que têm trabalhado com a perspectiva de diminuir os desmatamentos da floresta primária. A baixa fertilidade da maioria dos solos da região é refletida no principal motivo de realização de pousio de algumas áreas (capoeira), já que esta ferramenta viabiliza a melhoria de condições físicas e químicas do solo. |
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Instituição de fomento: Programa Integrado de Apoio à Pesquisa, Ensino e Extensão - PROINT. | ||
Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: pousio; florestas secundárias; sistema de corte e queima. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |