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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia | ||
GALERIA DAS MULHERES | ||
Thimoteo Camacho 1 (luthi@terra.com.br), Maria Inês Vancini Sperandio 1 e Gabriela Gomes de Macêdo Lacerda 1 | ||
(1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO) | ||
INTRODUÇÃO:
Este trabalho é o resultado do relatório de pesquisa vinculado ao Projeto Galeria das Mulheres que analisou a participação das mulheres em atividades do trabalho em bancos e, em especial, nas atividades sindicais pertinentes ao setor no estado do Espírito Santo. A pesquisa ocorreu no ano em que o Sindicato dos Bancários do Estado do Espírito (SEEB/ES) completou setenta anos de existência (2004) e tem acompanhado a evolução gradativa da mão-de-obra feminina. Também busca o entendimento para o fenômeno da persistência da manutenção da desigualdade e discriminação de gênero, exemplificada pelo salário diferenciado e da participação irrisória de mulheres em cargos de chefia e direção nas atividades do setor bancário e na participação nos sindicatos. O crescente processo de feminização do trabalho, fenômeno brasileiro e universal, pode ser entendido mais adequadamente se analisado da perspectiva das Relações de Gênero. Se a emergência das mulheres no mercado de trabalho causa desconforto, isso ocorre de maneira mais acentuada quando essa participação significa também militância sindical. Nesse sentido, é importante observar, que a participação das mulheres trabalhadoras em seus respectivos sindicatos tem crescido. Elizabeth Souza-Lobo (A Classe operária tem dois sexos: trabalho, dominação e resistência. São Paulo, Brasiliense, 1991) ressalta essa tendência para a mudança nas relações entre mulheres e sindicatos e ao fortalecimento do Movimento Feminista partir de 1976. |
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METODOLOGIA:
A pesquisa teve a participação de duas alunas bolsistas do Programa de Iniciação Científica, vinculadas ao PIBIC. Cada uma das estudantes desenvolveu um sub-projeto vinculado ao Projeto Galeria das Mulheres. Buscou-se um equilíbrio entre os pressupostos teórico-metodológicos e a coleta de dados empíricos. Um grupo de estudos foi formado com a finalidade de orientar as estudantes em todas as etapas da pesquisa e discutir textos de autores/as consagrados/as relacionados aos temas objeto do estudo: Sistema Financeiro, Sindicatos, em especial Sindicato dos Bancários, Relações de Gênero. No decorrer da pesquisa, foram realizadas entrevistas não-diretivas, com um roteiro semi-estruturado, o que permitiu maior liberdade e interação entre entrevistados e entrevistadoras. O roteiro das entrevistas era aberto, tendo passado por pequenas alterações, de acordo com a temática específica em questão. Além de entrevistas individuais, onde foi utilizado o critério da amostragem e divisão proporcional por sexo, entre bancárias/os, foram realizadas entrevistas no formato Grupo Focal. Neste caso, obedecendo ao critério da maior homogeneidade possível: do mesmo banco ou grupos de até doze do sexo feminino ou masculino e grupos mistos. As entrevistas, tanto as individuais, como as do grupo focal, foram gravadas e transcritas pelas alunas pesquisadoras e depois submetidas à análise de conteúdo, sob a supervisão do professor orientador. |
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RESULTADOS:
Um dos sub-projetos, a cargo de uma das alunas, buscou o entendimento do impacto do trabalho em bancos e da militância sindical na vida privada das mulheres. Analisou principalmente a atuação política das mulheres dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos Bancários do Espírito Santo (SEEB/ES) e a sua vida cotidiana. Da perspectiva das Relações Sociais de Gênero, inquiriu sobre as relações afetivas e a sexualidade, casamento, homossexualidade, repressão e discriminação sexual. O outro sub-projeto, desenvolvido por outra estudante, pesquisou em especial as relações entre o trabalho das mulheres em bancos e a sua participação no SEEB/ES e o fenômeno conhecido como “dupla jornada de trabalho”. A pesquisa constatou que, mesmo crescendo a participação feminina nas atividades sindicais bancárias, o que confirma a tendência nacional. No Espírito Santo esse fenômeno não teve como decorrência a participação das mulheres nos cargos de direção. Embora nos setenta anos de existência do SEEB/ES se tenha notícia de que uma mulher exerceu a presidência do Sindicato (Gestão 1979-1982), isso se caracteriza como uma exceção. A regra geral indica a presença majoritária dos homens, não só na presidência, como nas comissões executivas, o que caracteriza mais um exemplo de distorção nas Relações de Gênero. |
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CONCLUSÕES:
O principal impacto revelado na pesquisa inspirada no Projeto Galeria das Mulheres do SEEB/ES foi o anseio revelado principalmente pelas mulheres, mas também por alguns homens em relação à problemática “mulher e trabalho”; foi a divisão de tarefas dentro de casa, o chamado trabalho doméstico. As bancárias entrevistadas reconheceram ser este o maior desafio que devem enfrentar, no que estão de acordo, aliás, com algumas das bandeiras e palavras de ordem do Feminismo contemporâneo. Entende-se o espaço da militância política e sindical como também das mulheres. Mais do que isso: a busca por melhores condições de existência não deve se ater à relação capital/trabalho. As Relações de Gênero são também integrantes das relações sociais que estabelecem opressão, inclusive à classe trabalhadora. Pode-se perceber isso no depoimento de uma diretora do Sindicato: “De que vale o sindicato se ele não tem um olhar também para os direitos das mulheres se ele existe pelos direito?” Por fim, há o reconhecimento de que o ambiente sindical também se encontra imerso na ideologia machista, assim como o mercado de trabalho como um todo e os demais espaços da vida social. Parafraseando Liliana Segnini (Mulheres no trabalho bancário: difusão tecnológica e relações de gênero. São Paulo: EDUSP, 1998)), a categoria bancária tem sexo e, como revelou a pesquisa, um grande obstáculo para as mulheres se tornarem ativas no sindicato é a tradicional liderança, como um esfera da atividade masculina. |
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Instituição de fomento: CNPq UFES | ||
Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: Bancos; Sindicato; Relações de Gênero. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |