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G. Ciências Humanas - 5. História - 5. História Econômica
MULHER E TRABALHO DE FIAÇÃO EM MINAS GERAIS NO INÍCIO DO SÉCULO XIX
Fernanda Abreu Nagem 1 (fernandanagem@yahoo.com.br), Sandro Pereira Silva 2 e Jonas Marçal de Queiróz 1
(1. Depto. de Artes e Humanidades, Universidade Federal de Viçosa - MG; 2. Depto. de Economia, Universidade Federal de Viçosa - MG)
INTRODUÇÃO:
O período de queda da produção do ouro em Minas Gerais em meados do século XVIII acarretará para a província mineira, principalmente no início século XIX, um processo que podemos chamar de reestruturação econômica. Minas Gerais, já na primeira metade do século XIX, se revela uma grande exportadora de algodão e produtos de algodão. São os chamados "panos de minas", que manterão a economia de várias regiões mineiras, sustentando desta forma, vilas e povoados inteiros. Essa atividade, atrelada à agricultura, desmistificará a idéia de decadência econômica da província mineira pós-decadência da produção aurífera que, por muitos anos, foi defendida por parte da historiografia sobre o assunto. Para a confecção destes tecidos, funcionavam de modo domiciliar e doméstico, incipientes fábricas de tecelagens e fiação que utilizavam como principal mão-de-obra mulheres, em sua maioria as livres. Assim, devido ao trabalho destas mulheres tecelãs, a produção mineira de fios e tecidos vai se intensificar e elevar-se progressivamente, o que atesta o aumento da participação dos tecidos no comércio com as províncias de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. Desta forma, por estarem envolvidas na produção de tecidos essas mulheres mantinham-se economicamente e também seus familiares.
METODOLOGIA:
O tipo documental utilizado se refere aos processos crime que no período analisado, de 1801 a 1820, envolvem a figura feminina. Nestes processos, estas mulheres aparecem ora como agentes na ação judiciária, ora como rés, e muitas informações riquíssimas emergem destes autos, que são em sua maioria motivados por conflitos entre vizinhos. Além desses, encontram-se dados como estado civil, cor, idade e ofício. A partir destes dados analisamos a condição feminina neste período, como suas principais atividades econômicas e condição familiar. Em sua maioria, a figura feminina está na condição de viúvas e provedoras de seus lares. A condição básica para o sustento familiar advinha de alguma atividade econômica rentável, que no caso era a fiação, ofício que, na maioria dos processos analisados na pesquisa, se revela à ocupação predominante das mulheres. Uma segunda fonte utilizada, que contribuiu substancialmente para a pesquisa, foi as Listas Nominativas, referentes aos anos de 1831 e 1832. Essas listas contêm informações básicas por municípios, distritos e quarteirões como: fogos ou famílias, especificando o nome de cada indivíduo, cor (qualidade), condição social (livre, liberto ou forros, escravo), estado conjugal, ocupação, nacionalidade, alfabetização e idade. Tais informações foram fundamentais tanto para a caracterização sócio familiar da região analisada quanto para analisarmos as atividades econômicas do período.
RESULTADOS:
A partir da análise documental e da leitura bibliográfica a respeito do tema, percebemos que a produção doméstica de tecidos era uma prática bastante disseminada no município de Mariana, assim como em toda a província mineira, e se encontrava em franca expansão no início do século XIX. Essa intensiva produção, dos chamados “panos de minas”, utilizava em grande escala, essencialmente a mão-de-obra feminina livre, que era empregada nas incipientes industrias de tecidos. Essas industrias abarcavam fazendas, áreas urbanas e o setor camponês. Ao mesmo tempo em que exerciam atividades rentáveis, essas mulheres eram as principais provedoras de seus lares, sustentando filhos e parentes mais próximos, como irmãos e pais. A condição de chefes de seus lares advém, em muitos casos, da emigração masculina da região aurífera, após a queda da produção do ouro e também por ser a maior parte da população livre da região analisada, composta por mulheres. No município de Mariana, espaço abrangido pela pesquisa, as atividades relevantes eram a de fiação e de lavoura. Do total da população, a fiação utilizava 99,55% da mão-de-mão feminina, sendo que 79,98% era livre e 19,77% era escrava e o restante representava a população masculina. Somente na cidade de Mariana, em 1809, do dos 656 fogos, a maioria eram chefiados por mulheres. Ressalta-se desta maneira, a valorização social do feminino por contribuírem, substancialmente, na ampliação do núcleo doméstico e na maioria das vezes por sustentá-lo, de forma integral.
CONCLUSÕES:
A pesquisa realizada procurou melhor descrever a condição feminina no início do século XIX. No qual, a fiação e a tecelagem, principalmente para as solteiras e viúvas, representaram a possibilidade de inserção na vida econômica e social da região. E podemos assim concluir que esta atividade, além de vital para a manutenção da economia mineira do período, era a principal ocupação destas mulheres. Assim, por exerceram uma atividade produtiva contribuindo na ampliação econômica do ambiente doméstico e em muitos casos sendo as principais provedoras, eram mulheres socialmente valorizadas. Trazemos desta forma, uma novo olhar sobre esse grupo social, descrito por parte da historiografia como omissas e desclassificas socialmente.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Brasil Colônia; Trabalho; Mulher.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005