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D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 1. Epidemiologia
ABORTO: PERFIL DE MULHERES QUE SE SUBMETERAM A ESSA PRÁTICA NA CIDADE DE MANAUS
Maria Rocineide Ferreira da Silva 1 (mrferrer@terra.com.br) e Patrícia Araújo Soto 2
(1. Coorden. de Enfermagem, Universidade Estadual do Ceará-UECE; 2. Hospital Pronto Socorro Dr. João Lúcio Pereira Machado)
INTRODUÇÃO:
O período da gestação é permeado por uma séria de modificações, a mulher prepara-se para a chegada de uma nova vida e não para a perda. E quando há essa perda gestacional, Tanto a grávida quanto a sua família são afetadas no lado físico, psicológico e nas suas relações interpessoais. Segundo o Ministério da Saúde, os dados oficiais que existem dizem respeito às curetagens feitas pelo SUS. No ano de 2000, esse número ficou em torno de 248 mil internações e 67 óbitos. No SUS, o aborto é a 5ª causa de internação (Programa Saúde da Mulher, 1999). O ato de abortar tem uma relação estreita com a situação de vitimização das mulheres, sendo, muitas vezes o aborto encarado como um meio rápido e fácil de resolver uma situação inesperada (Kemp, 2003). Hoje em dia é fato que o aborto é praticado em todas as classes sociais, entre mulheres jovens e maduras. As justificativas para adoção dessa prática são variadas. Dados recentes revelam que cerca de 21% das mortes maternas são conseqüência de abortos mal feitos (OMS, 1998). Esse é, mais um dado que expõe o quanto à população pobre é lesionada no cotidiano de suas vidas e que perdas, freqüentemente, essa enfrenta. Faltam políticas sociais eficazes para que a ocorrência desses eventos seja planejada. Objetivando traçar o perfil das mulheres com abortamento atendidas numa maternidade da cidade de Manaus realizou-se a pesquisa na tentativa de contribuir para a análise da situação encontrada.
METODOLOGIA:
Optou-se por uma pesquisa exploratória, quantitativa, retrospectiva, fundamentada na análise de informações contidas nos prontuários de pacientes. O estudo foi realizado numa maternidade, na cidade de Manaus. Foram analisados todos os prontuários de pacientes internadas nas enfermarias da maternidade com diagnóstico de abortamento no período de Janeiro a Abril de 2003, perfazendo um total de 339 prontuários. Os dados foram coletados nos meses de dezembro/2003 e janeiro / 2004 mediante roteiro de investigação com questões do tipo fechada. A análise foi feita através de categorização e da estatística descritiva. Seguindo o recomendado pela Lei 196/96, o estudo foi submetido a apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Amazonas, no mês de Outubro de 2003, sendo aprovado em reunião extraordinária, ocasião na qual deu-se o início da coleta de dados.
RESULTADOS:
O aborto constitui-se um problema de saúde pública mundial e afeta mulheres de todas as classes sociais, raças. Entidades feministas revelam em pesquisas realizadas que no Brasil, são realizados em média 1 milhão e 400 mil abortos por ano e que o número de abortos clandestinos varia de 800 mil a 1 milhão de procedimentos. Mas não se pode afirmar devido à dificuldade de acesso a dados verdadeiros. Passa-se agora a visualizar e realizar uma análise dos dados encontrados, daquilo que se revelou a partir das informações coletadas. Nos meses de janeiro a abril de 2003 foram notificados 339 casos com diagnóstico de abortamento na maternidade pesquisada . A pesquisa abrangeu mulheres com idade compreendida entre 15 a 35 anos ou mais.Observou-se que 63,6% dos casos concentrou-se na faixa de 20 a 35 anos, caracterizando jovens em fase reprodutiva. Outro dado significativo encontrado relaciona-se ao estado civil, onde 61,6% das mulheres são solteiras. Notou-se que 51,6% das mulheres têm baixo grau de escolaridade, com Ensino Fundamental Completo. Segundo a ocorrência de gestações anteriores encontrou-se o seguinte dado: 36,2% das mulheres tiveram pelo menos uma gestação anterior. A pesquisa revelou ainda que 90,86% das mulheres não tinham sequer feito uma consulta de pré-natal, assim como a maioria são católicas.
CONCLUSÕES:
Apesar de ter sido colocado em pauta como problema de Saúde Pública somente em 1994 ,na Conferência do Cairo, o aborto foi uma questão debatida em várias culturas e diferentes sociedades. Ficou claro após a descrição dos resultados que fazer inferência sobre dados reais é difícil e qualquer número revelado será passível de questionamento, afinal todos os abortos estão no SUS?. Os dados disponíveis são do SUS, logo são dados de mulheres que utilizam o serviço público, aquelas que tem uma condição socioeconômica menos privilegiada. O fato é que precisa-se pactuar políticas que tratem dessa questão com mais responsabilidade social, uma vez que a problemática tem uma larga expressividade, haja vista a mortalidade decorrente dessa prática. Talvez com a descriminalização do aborto, a assistência à mulher com abortamento teria uma melhoria. E quanto aos hospitais, aos serviços de saúde? Melhorar a qualidade do acesso é questão crucial, estratégias que trabalhem informações sobre como evitar filhos, os meios de anticoncepção, direitos sexuais e reprodutivos, deve-se lembrar que apenas informar não adianta é necessário pensar na proposição e formulação de políticas públicas nas diversas áreas que realizam atenção a saúde da mulher, faz-se necessário criar condições para que essa mulher usufrua do serviço e enquanto cidadã tenha seus direitos respeitados.
Palavras-chave:  aborto; perfil epidemiológico; saúde da mulher.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005