|
||
D. Ciências da Saúde - 8. Fisioterapia e Terapia Ocupacional - 1. Fisioterapia e Terapia Ocupacional | ||
DOR LOMBAR E INCAPACIDADE FUNCIONAL PARA O TRABALHO DE MULHERES AGROPECUARISTAS DE CONCÓRDIA/SC. | ||
Fabiana Flores Sperandio 1, 2 (Fabi@intercorp.com.br), Andrea Fontoura Motta 1 e Cinara Sacomori 1 | ||
(1. Depto. de Prevenção, Avaliação e Reabilitação, Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC; 2. Depto. de Engenharia de Produção e Sistemas, Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC) | ||
INTRODUÇÃO:
A crescente mecanização do trabalho, não substituiu por completo o trabalho braçal bem como os recursos tecnológicos não chegaram a todos. De acordo com o censo agropecuário de 1995 e 1996, o Brasil possui mais de 17 milhões de trabalhadores na agropecuária, dos quais aproximadamente seis milhões são mulheres com mais de 14 anos. Em Santa Catarina a agropecuária é um importante setor que gera receita. No município de Concórdia, situado no oeste do estado, existem, segundo o censo demográfico 2000, 6183 mulheres residentes na zona rural o que equivale a 48,4% da população rural do município. Deste modo, é importante que se atente para a saúde da trabalhadora rural. Além da necessidade de preservar a saúde da mulher do campo, outro motivo que incentiva esta pesquisa, é a escassez de estudos sobre a lombalgia na população rural feminina brasileira. A dor lombar tem recebido pouca atenção e estudos nos países em desenvolvimento se comparado com as nações industrializadas. Com base neste contexto, pergunta-se: As atividades desenvolvidas pelas mulheres agropecuaristas podem causar dores lombares e posterior incapacidade funcional? O objetivo geral deste estudo é analisar se as atividades desenvolvidas pelas mulheres agropecuaristas podem causar dores lombares e posterior incapacidade funcional, e mais especificamente, determinar mecanismos do trabalho geradores de lesão, verificar a prevalência de dor lombar e avaliar níveis de incapacidade funcional por lombalgia. |
||
METODOLOGIA:
Foram avaliadas 150 mulheres da comunidade rural de Concórdia (SC) com idade entre 20 e 55 anos. Todas receberam o formulário de consentimento livre e esclarecido do Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Humanos da UDESC. Utilizou-se como instrumental: Questionário sobre lombalgia e trabalho e o Questionário Oswestry(Faibank, 1980) de Avaliação Funcional que permite identificar incapacidades funcionais associadas com a dor lombar (Fransen et al, 2002). O questionário sobre lombalgia e trabalho foi validado sobre critérios de clareza e validade, abrangendo questões da vida diária. O questionário Oswestry(Faibank,1980) tem demonstrado validade através da correlação com exames físicos e sinais indicativos de doença. O índice de 41 ou mais foi usado como critério para identificar indivíduos com risco de cronicidade de dor lombar (Fransen et al, 2002). Para identificar a gravidade da dor lombar foi usado o Método VAS (Visual Analog Scale) o qual apresenta uma escala de 0 a 10 em que o 0 indica nenhuma dor e o 10 a pior dor possível. |
||
RESULTADOS:
Somente 10 mulheres (6,6%) nunca apresentaram episódio de dor lombar. Cerca de 42, 7% da amostra apresenta freqüentemente dor lombar e em 87,8% das mulheres a dor é dependente do esforço físico. Os seguintes mecanismos foram identificados: levantar cargas pesadas, fletir e torcer a coluna vertebral e movimentos vibratórios. As atividades da agricultura foram exemplificadas pelo capinar, arar, roçar e plantar e da pecuária foram o trabalho com suínos, aves de corte e gado leiteiro. Além disto, a dor foi descrita nos seguintes movimentos ou posturas: “contorcer e girar a região lombar (60% dos sujeitos), ajoelhar e acocorar (43,3%), curvar por bastante tempo (54%) e ficar em pé/andar por muito tempo (80%)”. Cerca de 83,1% relatam a necessidade de erguer peso diariamente no trabalho e destes, 54,7% o faz mais de duas vezes por dia. Observou-se também que 71% das mulheres costumam erguer mais de 20 quilos em seu trabalho, mas 96,6% carregam este peso corretamente, isto é, próximo ao corpo. Entretanto, a dor é referida na lombar uma vez que ao fletirem o tronco as mesmas não flexionam os joelhos, requisito mínimo para evitar esta manifestação. Em 20% da amostra (30 mulheres) foi observado dor lombar sempre, por mais de 2 anos e VAS maior ou igual a 5. A aplicação do Questionário Oswestry demonstrou que 9 sujeitos apresentaram incapacidade mínima, 16 sujeitos incapacidade moderada e em 5 sujeitos houve incapacidade grave para o trabalho. |
||
CONCLUSÕES:
As posturas em pé e em flexão são freqüentes no trabalho rural, gerando sintomatologia específica de dor lombar. O levantar cargas pesadas, fletir e torcer a coluna vertebral foram atividades tanto da agricultura quanto da pecuária que promoveram o aparecimento de lombalgias, uma vez que, a lida diária, exige força e movimento. Isto tudo, pode gerar gastos imprevisíveis, com tratamentos cirúrgicos, medicamentosos ou fisioterapêuticos. Assim, é importante uma abordagem multidisciplinar no tratamento da lombalgia e na prevenção de incapacidades funcionais. Dentre as principais estratégias adotadas por alguns países desenvolvidos para promoção da saúde estão: promover melhores condições de trabalho, promover estilos de vida saudáveis e providenciar boas condições estruturais para o trabalho em todos os níveis da sociedade, ações estas, que não foram identificadas nesta população. É importante, portanto, ficarmos atentos a este quadro e sugerir estratégias adaptativas às necessidades profissionais da mulher agropecuarista. |
||
Instituição de fomento: Universidade do Estado de Santa Catarina | ||
Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: Lombalgia; Trabalho; Mulher. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |