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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia | ||
CAJUEIRO: PÓLO SIDERÚRGICO E DESESTABILIZAÇÃO SOCIAL | ||
Bartolomeu Rodrigues Mendonça 1 (br.mendonca@ig.com.br) e Horácio Antunes de Sant’Ana Júnior 1 | ||
(1. Depto. de Sociologia e Antropologia, Universidade Federal do Maranhão - UFMA) | ||
INTRODUÇÃO:
Cajueiro é um dos dezesseis povoados passíveis de deslocamento que constituem a área (de 2.471,71 hectares) destinada à implantação do Pólo Siderúrgico em São Luís, capital do Estado do Maranhão. Este empreendimento, idealizado para acomodar três grandes usinas siderúrgicas, pretende ser sediado na Zona Rural II da Ilha de São Luís, o que torna necessário, num primeiro momento, mudar a Lei de Zoneamento do município a fim de transformar o que hoje é zona rural em área destinada à indústria pesada. Esta possibilidade de mudança de cenário tem suscitado um debate acirrado trazendo à cena representantes do governo, técnicos e intelectuais, ONG’s, ambientalistas e, de maneira muito particular, os moradores dessas áreas que se mostram inseguros, confusos e desinformados, o que tem gerado conflitos e instabilidade intracomunidade. Frente a essas primeiras observações exponho, neste trabalho, como a comunidade de Cajueiro tem se relacionado com esta proposta de implantação das siderurgias; as interferências no cotidiano das populações, os conflitos internos à comunidade e as diversas perspectivas e posições das entidades e instituições que a representam como a Associação de Moradores, a Igreja Católica e a Igreja Evangélica Assembléia de Deus. |
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METODOLOGIA:
No processo de investigação utilizo-me, principalmente, de observações diretas e entrevistas a diversos moradores de Cajueiro bem como a pessoas que mantém relação com o local, mas não são domiciliados ali; além de acompanhar diversas reuniões da comunidade cuja pauta trata das implicações do possível deslocamento das famílias. Foram realizadas também entrevistas com representantes da Associação de Moradores, das Igrejas Católica e Assembléia de Deus, do local. Para consolidar a pesquisa busco como referencial bibliográfico a discussão de comunidade feita por Geertz (1999), duas monografias do Cursos de Ciências Sociais da UFMA que trataram sobre as implicações da implantação dos projetos Carajás e Alumar, na década de 80, respectivamente de 1997 e 1999, além do relatório da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos Realizado em parceria com o Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas da UFMA intitulado: “A expropriação de famílias da periferia de São Luís pelo Projeto Carajás” datado de 1981. Essas referências bibliográficas somadas a diversos recortes de jornais locais (nos últimos 2 anos) são ferramentas de extrema utilidade para uma leitura atual da situação porque passa a comunidade de Cajueiro. |
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RESULTADOS:
Há, pois uma imensa incerteza e insegurança por parte dos moradores uma vez que, apesar de terem feito os levantamentos com fins de deslocamento, até hoje (após quase 2 anos), os órgãos oficiais do governo não confirmam o empreendimento, não definem a situação das famílias que vivem o terror de, da noite para o dia, perderem suas casas, seus vizinhos, parentes, amigos e o lugar pelo qual aprenderam a nutrir sentimento de pertencimento.As principais constatações verificadas nesta investigação são o acirramento do conflito nas relações de vizinhança causado por divergências entre aqueles que aceitam serem deslocados e os que não concordam e preferem ficar no lugar que habitam, alguns deles, há mais de meio século; a instabilidade nitidamente observada nas ações de produção e de garantia de reprodução do grupo social que foram afetadas sobremaneira levando inúmeras famílias a pararem suas atividades rotineiras (como o roçado) pelo fato de a empresa responsável pelo levantamento sócio-econômico lhes informar que quaisquer benfeitorias realizadas a partir daquela data não serão consideradas quando do pagamento das indenizações. Os idosos se perguntam para onde irão, pois constatam que na ilha (São Luís) não há terras, nas mesmas condições das que ocupam atualmente, suficiente para acomodar todas as pessoas. |
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CONCLUSÕES:
As interferências externas desestabilizaram o grupo social de Cajueiro e acentuou os conflitos criando o grupo dos “contra o pólo” e o dos “a favor” da sua instalação e conseqüente do deslocamento.Pelos resultados obtidos, posso afirmar que embora o processo de implantação do Pólo Siderúrgico não tenha se consolidado nem o deslocamento das famílias se efetivado a sobrevivência da comunidade ficou abalada, uma vez que as relações de vizinha e a confiança que se moldaram durante décadas são postas à prova e a comunidade vive em processo de desestabilização. Diversas relações são alteradas modificando o cotidiano e maximizando os conflitos que justificam quebra de diversas relações antes amigáveis e não conflituosas. |
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Palavras-chave: Comunidade; Governo; Conflito. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |