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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 6. Lingüística | ||
A PRODUÇÃO DE TEXTOS NUMA ESCOLA RURAL MULTISERIADA: UTILIZAÇÃO DE ESTRATÉGIAS LINGÜÍSTICAS NO COMBATE AO ANALFABETISMO FUNCIONAL | ||
Gioconda Henriques Januario 1 (giocondahjan@yahoo.com.br) e Cristiane Cataldi dos Santos Paes 1 | ||
(1. Depto. de Letras e Artes, Universidade Federal de Viçosa - UFV) | ||
INTRODUÇÃO:
As duas últimas décadas do século XX sinalizaram a construção de um consenso entre os especialistas na área da Lingüística: o ensino da Língua Portuguesa deve privilegiar a dimensão interativa da linguagem, o que significa ter como meta de aprendizagem o domínio efetivo das práticas sociais de escrita e oralidade. Muitos professores já adotam práticas interacionistas e compreendem que as atividades de ensino da Língua distinguem-se da mera aquisição de regras gramaticais; já expulsaram de sua sala a gramática que só serve para aprovar ou não os alunos em provas e nunca é associada à língua usada nas interações sociais. Sabemos que as “dificuldades” enfrentadas pelos alunos, tanto na escrita, quanto na leitura começam na primeira fase de seu aprendizado. Tendo consciência deste problema, a presente pesquisa teve como objetivo principal propor, através de procedimentos lingüístico-discursivos, estratégias que possam ajudar a sanar essas dificuldades. Este objetivo veio, obviamente, vinculado a outros de suma importância tais como: mostrar como a leitura e a escrita sofrem influências da oralidade; trabalhar a questão da variação lingüística e sua conseqüente projeção na comunicação oral e escrita; despertar nos alunos o senso crítico, etc. O presente estudo justifica-se, portanto, pela necessidade de um trabalho que se dedique a sanar, de forma eficiente, as dificuldades que os alunos do Ensino Fundamental têm em relação à aquisição da norma culta da Língua Portuguesa. |
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METODOLOGIA:
Tendo como compromisso a formação lingüístico-discursiva e comunicativa dos alunos, propomos a seguinte metodologia para a ação do trabalho que é de cunho qualitativo e quantitativo: ele foi feito através de monitorias (Língua Portuguesa, Leitura e Produção de Textos) que foram realizadas em forma de aulas expositivas, atividades feitas em classe, reescritas textuais e jogos educativos, durante um período de aproximadamente dez horas semanais. Foram coletadas produções de texto dos alunos, de maio a setembro de 2004, para análise dos principais problemas relacionados ao desempenho lingüístico-discursivo dos mesmos. Também foram realizadas visitas às famílias dos alunos com o intuito de conhecer a realidade de cada um deles, assim podemos direcionar melhor o trabalho. Foi escolhida a escola Municipal Padre Rubim, situada em Duas Barras, zona rural da cidade de Porto Firme – MG, pela sua localização ser próxima à Universidade Federal de Viçosa, o que possibilitou o deslocamento da pesquisadora para o desenvolvimento da mesma. Outro fator de suma importância foi o fato de a escola possuir poucos alunos, o que facilitou a pesquisa e a discussão dos resultados. Enfim, para que o corpus de nossa pesquisa fosse analisado, foram utilizadas teorias que dão ênfase à análise lingüístico-discursiva, destacando as teorias sobre oralidade, letramento, língua falada e escrita, dentre outras de pesquisadores brasileiros de grande destaque e competência na área da lingüística textual. |
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RESULTADOS:
A análise feita apontou os problemas de caráter lingüístico mais freqüentes e proporcionou a definição de algumas estratégias para amenizá-los. Observamos que em maio, 44,40 % dos alunos apresentavam problemas relacionados à concordância, pudemos perceber as influências da língua que os alunos trazem do meio onde vivem, em setembro/outubro este número caiu para 11,10%. Comum no Ensino Fundamental, os erros de transcrição de fala na escrita são diferentes e dependem da região onde o aluno reside. O professor deve ter em mente que, antes de quaisquer recriminações e correções, é importante respeitar a linguagem de origem dos alunos, para depois lhes ensinar as formas convencionais da escrita e oralidade vistas pela sociedade como corretas. Em maio, 89,60% dos alunos sofriam influência da língua oral na língua escrita, em setembro/outubro esse número foi de 22,40%. No que diz respeito à ortografia, em maio, 100% dos alunos analisados tinham extrema dificuldade em relação a ela, em setembro/outubro este número foi reduzido para 66,0%. Já no caso da pontuação, observamos que o que se ensina na escola não é a pontuação e sim os sinais de pontuação, as próprias gramáticas ora trazem conceitos abstratos sobre ela, ora usam conceitos estereotipados que acabam destoando da noção do que deveria ser a pontuação aplicada à prática textual. Em maio, 89,0% não pontuavam os textos de maneira adequada, em setembro/outubro somente 33,30% ainda não pontuavam de maneira adequada seus textos. |
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CONCLUSÕES:
Nos dias de hoje, ser alfabetizado tem se revelado condição insuficiente para responder às demandas sócio-comunicativas. Em nossa sociedade os recursos audiovisuais predominam no campo das comunicações e a prática da leitura e da escrita se restringe a certos âmbitos escolares, por isso temos o dever de criar estratégias que despertem o interesse de nossos alunos para com a leitura e produção textual. Devemos incentivar nossos alunos a ampliar a natureza dos textos por eles lidos, porém esta leitura não deve ser fragmentada ou praticada com o intuito de analisar aspectos gramaticais isolados, ela deve ter como fundamento a aquisição de informações que farão parte do conhecimento de mundo dos alunos ampliando sua capacidade de (inter)ação com o mundo.O trabalho desenvolvido na escola Municipal Padre Rubim, situada na zona rural da cidade de Porto Firme – MG, auxiliaram os alunos na sua prática escrita e oral, visando melhorar o desempenho dos mesmos nas referidas habilidades lingüísticas. Estas monitorias contribuíram para o desempenho dos alunos como leitores e produtores de texto eficientes. Através desta pesquisa, pôde-se observar que estes alunos só não desenvolviam mais suas habilidades lingüístico-discursivas por falta de uma orientação efetiva e reflexiva na área de Língua Portuguesa. |
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Instituição de fomento: Apoio: Pró-Reitoria de Extensão e Cultura - UFV | ||
Palavras-chave: Língua Portuguesa e lingüística; analfabetismo funcional; Letramento. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |