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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 2. Currículo | ||
O DESAFIO DA MUDANÇA NA ORGANIZAÇÃO CURRICULAR EM UMA ESCOLA PÚBLICA: UMA ANÁLISE DA PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE | ||
Valdelaine da Rosa Mendes 1 (val@ufpel.tche.br) | ||
(1. Universidade Federal de Pelotas) | ||
INTRODUÇÃO:
Nas últimas décadas, muitas redes de ensino, tanto municipais quanto estaduais, têm efetuado mudanças nas suas estruturas curriculares que vão da extinção do ensino seriado a processos de progressão automática e parcial. Observa-se que as políticas implementadas por algumas redes não impõem tais mudanças às escolas, deixando-as livres para fazer as alterações que julgarem pertinentes e necessárias em seus regimentos e projetos pedagógicos. Entretanto, percebe-se que mesmo com certa autonomia para revisar suas estruturas curriculares, poucas são as escolas que optam por modificar sua estrutura curricular. Esse é o caso da escola aqui estudada. A comunidade (pais, alunos, professores e funcionários) da Escola Plínio Elias, pertencente a rede estadual de ensino do Rio Grande do Sul, ao elaborar seu regimento e seu projeto pedagógico no ano de 2001 optou por romper com o ensino seriado e adotar os ciclos como forma de organização curricular. Dessa forma, este estudo teve como objetivo identificar os impactos de uma experiência de ruptura com um tradicional modelo de organização curricular em uma escola pública. A análise de uma experiência com essas características – ao apontar seus aspectos positivos e negativos, seus avanços e contradições – pode servir de referência a outras escolas que tenham a intenção de promover mudanças em suas estruturas curriculares. |
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METODOLOGIA:
A abordagem metodológica adotada nesta pesquisa foi de natureza qualitativa. A opção pela abordagem qualitativa justifica-se pelo interesse em extrair dados que proporcionem uma visão contextualizada da realidade, na qual são consideradas as contradições, relações e dimensões do fenômeno estudado (Triviños, 1992). Tratou-se de um estudo de caso desenvolvido em uma escola pública da rede estadual de ensino do Rio Grande do Sul, durante o ano de 2002. Para o desenvolvimento do trabalho foram adotadas como técnicas de pesquisa: entrevistas do tipo semi-estruturada e observações. As entrevistas foram realizadas com professores, funcionários, alunos e pais. Todos os aspectos observados na escola pertinentes ao estudo foram registrados em um diário de campo. Foram também coletados documentos que constituíram importante fonte de informação. Inicialmente o projeto foi apresentado ao corpo diretivo da escola que deveria autorizar ou não o desenvolvimento da pesquisa. O trabalho necessariamente deveria ser desenvolvido na Escola Plínio Elias, por ser a única a ter optado por mudanças substanciais na sua organização curricular ao elaborar seu projeto pedagógico no ano de 2001, num universo de mais de 150 escolas de uma região do estado do Rio Grande do Sul. |
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RESULTADOS:
A análise dos dados coletados nesta investigação permite apontar os seguintes resultados: a)a ruptura com o tradicional modelo de organização curricular na Escola Plínio Elias só foi possível porque contou com o compromisso da maior parte daqueles que pertencem a comunidade escolar: pais e familiares, funcionários, professores e alunos. Além do apoio da Coordenação Regional de Educação na implementação das reformas pretendidas permitindo a flexibilização dos horários dos servidores. b)as mudanças precisam ser acompanhadas de um processo de formação permanente do quadro docente e de constante reflexão e análise sobre os resultados obtidos no dia-a-dia. A principal dificuldade manifestada pelo corpo docente da Escola Plínio Elias refere-se a questão da avaliação. Muitos mencionaram que precisavam de formação para estarem em condições de atuar num sistema de ciclos, que exige mecanismos de avaliação diferentes dos tradicionais. c)a resistência às mudanças ainda constitui um entrave à implementação dos novos processos estabelecidos no projeto pedagógico da Escola Plínio Elias. Isso foi mais evidenciado no segmento dos professores, justamente por terem a responsabilidade direta de rever suas estratégias de ensino. d)para os pais a eliminação da reprovação reduz a competitividade entre os alunos. Muitos percebem nesse aspecto algo negativo por entenderem ser a competição necessária no mundo de hoje. Para muitos pais com a extinção da reprovação há o desinteresse do aluno pela escola. |
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CONCLUSÕES:
O objetivo deste estudo foi identificar os impactos de uma experiência de ruptura com uma tradicional organização curricular em uma escola pública. O fato da mudança ter sido opção da escola não permite aos seus membros identificar culpados fora dos muros escolares para as dificuldades encontradas. Ou seja, normalmente quando as mudanças são impostas por meio de políticas educativas elaboradas nos gabinetes dos secretários e secretárias é grande a resistência, especialmente dos professores, para implementar aquilo que foi definido. No caso da escola aqui estudada a mudança não ocorreu de “cima para baixo”, mas foi resultado da opção da maior parte dos seus membros durante o processo de elaboração de seu projeto pedagógico e do seu regimento escolar. A opção pela mudança foi justificada pelos entrevistados como necessária num projeto que defende o caráter inclusivo e democrático da escola pública. Este estudo foi realizado no primeiro ano de implementação dos ciclos na Escola Plínio Elias, o que permite visualizar apenas alguns progressos e dificuldades iniciais enfrentados pela comunidade que integra a escola. São necessários novos estudos que identifiquem ao longo dos anos os efetivos avanços conquistados com a implementação da nova organização curricular. |
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Palavras-chave: participação; escola pública; organização curricular. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |