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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 5. Teoria e Análise Lingüística
PARA UMA ANÁLISE DA ORDEM SUJEITO-VERBO E VERBO-SUJEITO COM VERBOS INACUSATIVOS: UMA COMPARAÇÃO EM FRASES FINITAS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Marcelo Amorim Sibaldo 1 (lindesio@ig.com.br) e Maria Denilda Moura 1
(1. Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas - UFAL)
INTRODUÇÃO:
O português brasileiro (doravante PB) está atravessando um período de mudança paramétrica no que concerne ao Parâmetro do Sujeito Nulo. Segundo Duarte (1993), tem aumentado acentuadamente o preenchimento da posição pré-verbal do sujeito nessa língua em conseqüência da redução de seu paradigma flexional. Desse modo, ao contrário de línguas como o português europeu (doravante PE) e o italiano, o PB tem perdido a inversão sujeito-verbo. Kato (2000, p. 97) observa que “o único tipo de verbo ainda produtivo na ordem VS no PB é o inacusativo”. A partir dessa afirmação, faremos, neste trabalho, uma análise acerca da ordem S(ujeito)-V(erbo)/ V(erbo)-S(ujeito) em contextos inacusativos do PB, em que o DP sujeito é singular e concorda com a flexão verbal, como em (i) Chegou a carta ; (ii) A carta chegou , tendo como hipótese principal a de que nestas estruturas, o “sujeito” classificado pelo Gramática Tradicional é, na verdade, objeto em Estrutura-D, como propõe a Hipótese Inacusativa (doravante HI) de Burzio (1986). Para isso, lançaremos mão dos pressupostos da Teoria Gerativa, segundo o modelo de Princípios & Parâmetros (CHOMSKY, 1981, 1986). Desse modo, este estudo se justifica pelo fato de contribuir com o estudo da ordem SV-VS em sentenças declarativas finitas do PB com verbos inacusativos, visando explicar, não apenas sentenças como (i) e (ii), mas também, elucidar discussões teóricas pertinentes à análise proposta.
METODOLOGIA:
Para a presente pesquisa, o método de abordagem que adotaremos será o hipotético-dedutivo; quanto ao método de procedimento, utilizaremos o comparativo haja vista que o PB, língua analisada, será comparado a outras línguas pertinentes à análise, como é feito em pesquisas de cunho gerativista. Como visto, a nossa proposta de descrição e análise lingüística insere-se numa perspectiva formalista, assim, para explicar à luz dos pressupostos da Teoria Gerativa no modelo de Princípios & Parâmetros como se dá a ordem SV e VS em construções inacusativas do PB, lançaremos mão de dados de introspecção, ou seja, os dados para análise na língua falada serão selecionados por nós, como falantes nativos da língua em análise (PB) a partir da observação de julgamentos intuitivos de aceitabilidade.Fará parte do escopo deste projeto apenas a ordem SV e VS de “orações simples”, ou seja, orações finitas declarativas em que V é um verbo principal em contexto inacusativo e não-auxiliar.
RESULTADOS:
De acordo com a HI, a sentença (i), Chegou a carta, está com o seu argumento in situ, ou seja, o verbo chegar seleciona apenas o DP A carta como seu argumento interno, postulando um pronome expletivo em [Spec IP], para satisfazer o EPP. Contrariamente a (ii), A carta chegou, cujo “sujeito” da oração foi gerado em DS na posição de argumento interno onde recebe papel-θ de tema, é alçado em SS para [Spec IP], deixando na posição de origem um vestígio, formando a cadeia temática [A cartai, ti]. Já em relação ao Caso (já que o próprio nome “inacusativo” resulta da inabilidade deste tipo de verbo atribuir Caso Acusativo, mesmo tendo um DP complemento de VP), Belletti (1988) apud Figueiredo Silva (1996, p. 98) propõe que, em sentenças como (ii), o DP interno se move para a posição de sujeito externa ao VP para receber o Caso Nominativo. Já em sentenças como (i), o verbo inacusativo “só subcategoriza um único elemento interno, mas não lhe atribui Caso Acusativo”, assim, esta lingüista propõe que este DP fica dentro do VP e recebe o Caso Partitivo. Porém, o Caso Partitivo vem sendo questionado por alguns pesquisadores (ENÇ, 1991; KIPARSKY, 1998), já que o uso deste implica necessariamente uma leitura indefinida ao objeto direto, o que não condiz com os dados do PB. Assim, adotamos, aqui, a Hipótese da Transmissão de Caso, na qual o expletivo nulo e o DP pós-verbal formam uma cadeia argumental que o expletivo em [Spec IP] transmite o Caso para o DP lexical.
CONCLUSÕES:
Neste trabalho, vimos, então, que quando se trata da ordem SV e VS de estruturas em contextos inacusativos cujo DP singular concorda com a flexão do verbo, a Teoria Gerativa dá explicações plausíveis, o que significa um avanço para a compreensão de questões estruturais do PB. Assim, vimos que na estrutura (i), Chegou a carta , a Teoria postula em [Spec IP] um pronome expletivo sem matriz fonética, nem referência, para dar conta do EPP, princípio que exige que toda sentença deve ter sujeito (seja ele expresso foneticamente ou não), ficando, então, o DP em sua posição de base, segundo a HI, recebendo o Caso Nominativo pela Hipótese de Transmissão de Caso. Já em (ii), A carta chegou , o DP foi alçado para [Spec IP], tendo em vista que um verbo inacusativo não seleciona argumento externo, assim, não existe nada bloqueando a subida do DP A carta para esta posição, diferentemente do que ocorreria se houvesse um argumento externo, pois a subida do DP complemento seria bloqueada. Dessa forma, não estando em sua posição de base, o DP A carta sobe para receber o Caso Nominativo da flexão do verbo finito em [Spec IP].
Instituição de fomento: MEC/ SESu
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Ordem Sujeito-Verbo; Ordem Verbo-Sujeito; Sintaxe Gerativa.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005