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D. Ciências da Saúde - 2. Medicina - 8. Medicina
PERFIL DOS PACIENTES ADMITIDOS À UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) DE UM HOSPITAL-ESCOLA DE FORTALEZA, BRASIL.
Francisco Albano de Meneses 1 (falbano@uol.com.br), Carlos Augusto Ramos Feijó 1, Luis Lacerda Souza Cruz 1, 2, Alberto Hil Furtado Júnior 1, Francisco Olon Leite Júnior 1, Ana Cecília Santos Martins 1, Lenôra Maria de Barros e Silva 1 e Francisca Elita Borges Pinheiro 1
(1. UTI do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), Faculdade de Medicina, UFC; 2. Departamento de Enfermagem, Centro de Ciências da Saúde, UECE)
INTRODUÇÃO:
As UTI’s se prestam ao acompanhamento do paciente grave, carecendo de monitorização e/ou tratamento especializados. A natureza dos pacientes admitidos varia com a vocação particular de cada UTI (pediátrica x adultos; clínica x cirúrgica etc.). A UTI do hospital onde foi realizada a pesquisa, tem como missão atender uma população mista de doentes adultos. O trabalho ora apresentado ensejou traçar um perfil epidemiológico dos pacientes admitidos à UTI ao longo de 13 meses de estudo, baseado no escore APACHE II, índice genérico de gravidade em UTI de adultos, que tem como objetivo básico descrever quantitativamente o grau de disfunção orgânica de pacientes gravemente enfermos. Foi desenvolvido em 1981, revisado e simplificado em 1985 por William A. Knaus e cols. Leva em consideração 12 variáveis clínicas, fisiológicas e laboratoriais, atribuindo pontos também quanto à idade do paciente e à presença de doença crônica. É, habitualmente, utilizado nas primeiras 24 horas de internação na UTI.
METODOLOGIA:
O estudo de caráter epidemiológico retrospectivo foi realizado com uma amostra de 205 pacientes admitidos na UTI (N=387), no período de 1º. de março de 2004 a 31 de março de 2005, cujos escores APACHE II foram calculados. O modelo de investigação constou de um estudo descritivo-analítico. A estatística utilizada foi a análise de variância dos escores APACHE II. Os dados foram coletados em uma UTI geral de um hospital-escola de Fortaleza. Da população de 387 pacientes assistidos no período, 205 participaram da amostra do estudo, por constituírem todos os pacientes cujos escores foram calculados. Os mesmos foram caracterizados quanto a sexo, idade, procedência (interno ou externo), sistema orgânico acometido, APACHE II, tempo de permanência (em dias) na UTI e desfecho (óbito em menos de 48h, óbito após 48h na UTI ou transferência da UTI). Quanto ao sistema acometido, foram distribuídos em: (1) neurológico (AVC, hemorragia subaracnóide, hematoma subdural, TCE, síndrome de Guillain-Barré); (2) cardiovascular (insuficiência cardíaca congestiva descompensada, infarto agudo do miocárdio, angina instável, fibrilação atrial aguda, bloqueio atrioventricular total, pós-parada cardiorrespiratória, emergências hipertensivas); (3) respiratório (insuficiência respiratória aguda, embolia pulmonar); (4) gastrointestinal (hemorragia digestiva, pancreatite); (5) renal/metabólico (insuficiência renal aguda, cetoacidose diabética, intoxicação exógena) e (6) miscelânea (sepse, choque séptico).
RESULTADOS:
A média de idade dos 205 sujeitos do estudo foi de 55,2 anos (S=19,25), sendo a mínima 16 e a máxima 93 anos. Dentre eles, 50,2% eram mulheres, 77,6% já estavam internados no hospital e 32,4% foram admitidos através da Central Municipal de Regulação de Leitos de UTI. De acordo com os sistemas acometidos, foram distribuídos em: cardiovascular (25,4%), respiratório (23,9%), neurológico (16,6%), renal/metabólico (5,8%), gastrointestinal (2,9%) e miscelânea (25,4%). O tempo de permanência variou de 1 a 77 dias, com média de 7,91 dias (S=8,81). Do total, 66,3% foram transferidos da UTI, 6,9% tiveram óbito em menos de 48h e 26,8% após as primeiras 48h. O APACHE II variou de forma significativa conforme o sistema acometido (F=5,34; ns=0,001) e o desfecho dos pacientes (F=22,96; ns=0,0001). O menor escore (X=11,35; S=6,08) foi do grupo cardiovascular (n=52), que variou de forma significativa (p<0,05) em relação ao grupo respiratório (F=-5,12; X=16,47; S=7,51; n=49), neurológico (F=-5,57; X=16,91; S=7,17; n=34) e principalmente miscelânea (F=-6,62; X=17,96; S=8,05; n=52). Os pacientes transferidos da UTI (n=136) tiveram menor escore (X=13,29; S=6,82) e os que evoluíram para o óbito nas primeiras 48h tiveram maior valor (X=20,79; S=8,21). Os cardiopatas tiveram elevada proporção de transferência da UTI (84,6%), assim como o grupo gastrointestinal (66,6%); que, em contrapartida, teve maior proporção de óbitos em menos de 48h (16,7%).
CONCLUSÕES:
Os resultados obtidos apontaram para o fato de que os pacientes que apresentavam acometimento cardiovascular tinham escore APACHE II inferior aos demais grupos. A variação desse escore foi significativa entre os grupos de sistemas acometidos, justamente em função daquele menor escore, indicando que estudos vindouros nessa mesma instituição, ou em outras com características semelhantes, poderão considerar para análise do perfil epidemiológico de pacientes da UTI, em termos de sistemas acometidos, o confronto de dados dos grupos: cardiovascular X neurológico, cardiovascular X respiratório e cardiovascular X miscelânea. Dentre os pacientes transferidos, encontrava-se o grupo com acometimento gastrointestinal, o qual teve escore elevado; indicando a importância de se verificar o APACHE II em função do sistema acometido. Saliente-se, em síntese, que os próximos estudos deverão levar em consideração as disfunções específicas dentro de cada grupo de sistemas acometidos.
Instituição de fomento: Hospital Universitário Walter Cantídio
Palavras-chave:  Perfil epidemiológico; Unidade de Terapia Intensiva; APACHE II.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005