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C. Ciências Biológicas - 12. Neurociências e Comportamento - 1. Neurociências e Comportamento | ||
EFEITOS DO RU 486 SOBRE A ATIVIDADE LOCOMOTORA DE CAMUNDONGOS PRÉ-TRATADOS AGUDO E REPETIDAMENTE COM SULFATO DE MORFINA. | ||
Elaine Cristina Rodrigues da Costa 1 (erodrigues@bol.com.br), Daniel Stankevicius 1, João Palermo Neto 1, 2 e Luciano Freitas Felicio 1, 2 | ||
(1. Depto. de Farmacologia, Instituto de Ciências Biomédicas, ICB/USP; 2. Depto. de Patologia, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, FMVZ/USP) | ||
INTRODUÇÃO:
Tem-se discutido na literatura a atuação dos glicocorticóides como agentes capazes de estimular a atividade de neurônios dopaminérgicos mesencefálicos. Estudos anteriores verificaram que neurônios dopaminérgicos expressam receptores para glicocorticóides, estando alguns comportamentos mediados pela dopamina facilitados por estes hormônios. Os opióides, por sua vez, desempenham um importante papel na regulação de respostas ao estresse. Além disso, sabe-se que o sistema opióide é necessário para a manutenção da liberação basal de dopamina; na área tegmental ventral. Neurônios dopaminérgicos mesolímbicos do tipo A10 são estimulados por um sistema mu- tonicamente ativo, via desinibição de um interneurônio contendo o neurotransmissor inibitório ácido gama-aminobutírico (GABA). Por outro lado, no núcleo acumbens a liberação de dopamina pelas fibras A10 é suprimida por um sistema kappa tonicamente inibitório. Portanto, a morfina parece exercer seu efeito estimulante locomotor em decorrência da liberação de dopamina no núcleo accumbens. A utilização do RU 486, um antagonista de receptores para glicocorticóides, visou testar a hipótese de serem os efeitos do tratamento agudo ou repetido com sulfato de morfina sobre a atividade locomotora de camundongos, dependentes da ativação destes receptores. |
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METODOLOGIA:
Quarenta e oito camundongos Balb/c com 8-12 semanas de idade e pesando de 20-35g foram divididos ao acaso, em 6 grupos iguais; VS, VM, RS, RM, MVM e MRM. No experimento 1, os animais dos grupos RS e RM foram pré-tratados com 20 mg/kg (i.p.) de RU 486 e àqueles dos grupos VS e VM, com injeções de 10 ml/kg (i.p.) de veículo (tween a 12%), sendo 30 minutos depois, os animais destes 4 grupos desafiados com 20 mg/kg (s.c.) de sulfato de morfina ou 10 ml/kg (s.c.) de salina. Trinta minutos após a última injeção os animais foram avaliados durante 5 minutos no campo aberto. Para esta análise, utilizou-se um sistema de observação computadorizado - EthoVision acompanhado de um Software (EthoVision - Vídeo - versão 1.90) que divide virtualmente o campo aberto em duas áreas concêntricas, central e periférica. Desta forma, quantificou-se também a locomoção dos animais nestas áreas. No experimento 2, os animais dos grupos MVM e MRM foram pré-tratados com 20 mg/kg (s.c) sulfato de morfina durante quatro dias: 1, 2, 3 e 6. No dia 9, os animais dos grupos MVM e MRM foram pré-tratados respectivamente com 10 ml/kg (i.p.) de veículo (tween a 12 %) e 20 mg/kg (i.p.) de RU 486. Após 30 minutos os animais de ambos os grupos foram desafiados com morfina. Aos trinta minutos da última injeção os mesmos foram observados no campo aberto por 5 minutos, conforme descrito no experimento 1. |
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RESULTADOS:
No experimento 1, animais pré-tratados com o antagonista RU 486 e desafiados agudamente com sulfato de morfina tiveram aumento na locomoção total; RM (3043,3 ± 280,3 cm) em relação aos animais dos grupos VM (1824,4 ± 220,8 cm) e RS (1693,4 ± 127,5 cm) e, também, na zona periférica do aparelho; sendo RM (2949,7 ± 202,1 cm) em relação aos animais dos grupos VM (1576,6 ± 191,0 cm) e RS (1485,1 ± 117,5 cm) obtendo-se em ambas as análises, P<0,05 (ANOVA, seguida pelo teste de Tukey-Kramer). No experimento 2, o RU 486 não exerceu quaisquer influências sobre a locomoção de animais pré-tratados repetidamente com morfina, apresentando o Teste “t” P>0,05 tanto para a locomoção total; MRM (3973,5 ± 419,2 cm) e MVM (3531,4 ± 254,4 cm) quanto para as zonas, central; MRM (428,6 ± 100,7cm) e MVM (506,1 ± 105,2 cm) e periférica do campo aberto; MRM (3544,9 ± 437,4 cm) e MVM (2961,0 ± 236,3 cm). Os resultados em ambos os experimentos foram expressos como média ± erro padrão. |
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CONCLUSÕES:
Curiosamente, o grupo tratado agudamente com morfina e pré-tratado com o RU 486 apresentou um aumento de locomoção maior do que aquele normalmente observado em animais tratados agudamente com morfina (dado não reproduzido neste delineamento). Assim, não pode ser descartada a hipótese de que um bloqueio de receptores de corticosterona, ou mesmo de progesterona, tenha potencializado o efeito excitatório da morfina na atividade locomotora. Uma outra possibilidade seria a de que o RU 486 teria a capacidade de ligar-se a receptores de corticosterona de uma maneira não totalmente desprovida de atividade. Neste caso, a molécula funcionaria como um agonista parcial. Uma outra abordagem comportamental trata-se do refinamento das observações feitas no campo aberto, a partir da observação das freqüências de locomoção dos animais nas zonas central e periférica da arena. De acordo com outros estudos estressores e/ou fármacos ansiogênicos aumentam o tempo gasto pelos roedores na zona periférica do aparelho, diminuindo ao mesmo tempo, sua permanência na zona central. De fato, no presente estudo animais tratados aguda ou repetidamente com morfina, exploraram mais a zona periférica do que a zona central do aparelho. Este resultado permite-nos sugerir que a dose de 20 mg/kg de morfina pode ter um efeito ansiogênico. |
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Instituição de fomento: CAPES e FAPESP | ||
Palavras-chave: Atividade locomotora; sulfato de morfina; RU 486. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |