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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
DESVENDANDO O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA AFETIVIDADE E DA VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS NO CEARÁ
Veruska Gondim Fernandes 1 (veruskaf@pop.com.br), Letícia Almeida Nunes 1 e Julia S. N. F. Bucher 1
(1. Universidade de Fortaleza-UNIFOR)
INTRODUÇÃO:
A violência infantil tem despertado o interesse de muitos profissionais no mundo. A mesma é definida como uma violência interpessoal onde há um abuso de poder disciplinador do adulto, tornando a criança um objeto de maus tratos e podendo se prolongar por muito tempo nas famílias nas quais ocorre a violência, pois a criança acaba sendo obrigada a fazer um pacto de silêncio não revelando a violência a qual é submetida. O referido fenômeno pode ter um caráter físico, sexual, psicológico ou negligencial. Assim a violência contra a criança pode ir desde a privação de alimentos até agressões graves, trazendo sérias conseqüências psicológicas e físicas que algumas vezes podem levar a morte. Dentro desse contexto é importante compreendermos como se constrói a afetividade. Ainda no primeiro ano de vida, a criança se verá cercada por posturas dos pais que repercutirão na sua vida e ditarão suas atitudes e comportamentos. Daí, percebemos a importância dos laços afetivos criados e estabelecidos na infância de cada indivíduo. A dinâmica dos vínculos afetivos formados na infância se refletirá de maneira decisiva nas relações que esse indivíduo irá estabelecer na idade adulta, em sua respectiva estrutura familiar. Esta idéia também nos parece fundamental para a compreensão da violência numa perspectiva transgeracional. Desta feita, este estudo tem por objetivo compreender a relação entre afetividade e violência em crianças vítimas de violência.
METODOLOGIA:
Neste estudo foi utilizada a metodologia qualitativa. A pesquisa qualitativa possibilita a aproximação da realidade tal como vivida pelos sujeitos, dimensão esta não contemplada por procedimentos quantitativos. De acordo com Minayo, a referida abordagem aprofunda-se no mundo dos significados das ações e relações humanas, um lado não perceptível e não captável em equações, médias e estatísticas. Para Martins & Bicudo, enquanto a metodologia quantitativa preocupa-se com generalizações, princípios e leis, a abordagem qualitativa busca compreender as mediações simbólicas que se figuram pelas percepções da pessoa que vivência o fenômeno a ser estudado. Segundo González Rey, a abordagem qualitativa no estudo da subjetividade volta-se para a elucidação, o conhecimento dos complexos processos que constituem a subjetividade e não tem como objetivos a predição, a descrição e o controle. Para tanto foram realizadas 13 entrevistas individuais semi-estruturadas com os infantes e suas mães/responsáveis, em uma instituição que atende crianças vitimas de abuso sexual. Utilizamos como técnica de coletas de dados a entrevista com roteiro semi-estruturado. A entrevista segundo Haguette é um processo de interação entre duas pessoas, com o objetivo do entrevistador obter informações do entrevistado. Através da entrevista, conhecemos o que os indivíduos pensam a respeito de fatos, compreendemos a conduta de alguém, descobrimos os motivos e as influências de opiniões e sentimentos.
RESULTADOS:
Dessa forma a partir das entrevistas observamos que na maioria dos casos a família apresentava vínculos afetivos empobrecidos e desorganização familiar, apresentando uma dinâmica permeada por conflitos e agressões e muitas vezes infidelidade. Nos casos de violência intrafamiliar em que o pai era o agressor, este não dava carinho e amor para os filhos ao invés disso era negligente e violento. Nesses casos observamos que as crianças começavam a ser violentadas desde pequenas e se mantinham em silêncio devido às ameaças feitas pelo agressor. Destarte, observamos a ausência de laços afetivos entre os pais agressores e seus filhos. Mas, apesar disso, verificamos que as crianças recebiam carinho e afeto da mãe ou da avó, podendo ter uma base segura para enfrentar as conseqüências decorrentes do abuso. Nos casos analisados, cujo agressor não pertencia a família nuclear observamos que também os pais das crianças eram separados e que a mãe apesar de dar carinho para os filhos, muitas vezes devido a fatores econômicos, passava o dia longe de seus filhos. Observamos que essas crianças diferente daquelas que sofreram violência dentro da sua família nuclear não vinham sendo abusadas continuamente, aconteceu apenas uma situação e muitas vezes estava relacionada a fatores econômicos, a falta de privacidade e ao uso de álcool ou drogas.
CONCLUSÕES:
A partir dos resultados obtidos observamos que na maioria dos casos a família apresentava vínculos afetivos empobrecidos e desorganização familiar, demonstrando uma dinâmica permeada por conflitos e agressões e muitas vezes infidelidade. Possivelmente a ocorrência da violência estaria então relacionada com a repetição de modelos familiares violentos, problemas psiquiátricos, alcoolismo, uso de drogas, aspectos socioeconômicos e a dominação de gênero e geração. Portanto a violência infantil é um fenômeno multicausal, que vem crescendo a cada dia e que devido as conseqüências que pode trazer para a criança, deve-se pensar estratégias de intervenção no sentido de combater e prevenir a violência. Através da compreensão da violência e da formação dos vínculos afetivos, acreditamos que este estudo possa possibilitar o planejamento de estratégias de atuação que permitam a promoção de saúde psíquica das famílias em situação de violência e a melhoria dos vínculos afetivos numa perspectiva de prevenção.
Instituição de fomento: CNPq, FUNCAP e UNIFOR
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Afetividade; Violência contra criança; Família.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005