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G. Ciências Humanas - 5. História - 9. História Social | ||
MORTOS E VIVOS, TERRITÓRIOS E POPULAÇÕES NO BAIRRO DEFESA CIVIL – RIO BRANCO – ACRE (BRASIL) | ||
Marcelle Nunes Araújo 1 (mahanunes@hotmail.com), Elderson Melo de Melo 1, Antonio Lusivan Aguiar Passos 1, Odilce Bortolini Somera 1, Gerson Rodrigues de Albuquerque 1 e Jones Dari Goetertt 2 | ||
(1. Centro de Documentação e Informação Histórica, Universidade Federal do Acre - UFAC; 2. Departamento de Geografia, Universidade Federal do Acre - UFAC) | ||
INTRODUÇÃO:
Discutindo a relação campo-cidade como elementos indissociáveis, pois as pessoas adaptam e transformam o meio em que estão, a partir de uma (des)continuidade de seus modos de vida, realizamos esta pesquisa no Bairro Defesa Civil, em Rio Branco - Acre. Região que apresenta uma situação bastante peculiar: a relação entre a construção do Cemitério Jardim da Saudade e a formação de um bairro popular em uma área destinada ao enterro dos mortos. Sua importância está na possibilidade de entendermos as práticas e as fronteiras entre vivos e mortos, bem como as ausências múltiplas do poder público na área focalizada por nossos estudos que estão inseridos no âmbito da problemática campo-floresta-cidade na Amazônia acreana. |
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METODOLOGIA:
No primeiro momento, a partir de levantamentos e contatos iniciais, foram desenvolvidas entrevistas com os moradores do Bairro Defesa Civil e com funcionários do Cemitério Jardim da Saudade, produzindo um significativo acervo fotográfico e oral. O segundo momento, foi destinado à análise do espaço físico do bairro, as casas e os obituários do cemitério. A partir dos trabalhos de campo foi possível definir as seguintes questões para reflexões e aprofundamentos:deslocamentos campo-cidade-floresta; a cidade imaginada e a realidade encontrada; a construção e reconstrução de identidades e territorialidades;a formação do Defesa Civil em terras de cemitério e a relação entre vivos e mortos. |
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RESULTADOS:
Os moradores do Defesa Civil são na sua maioria oriundos da zona rural, seja da capital ou de municípios afastados. Eram antigos seringueiros, agricultores, ribeirinhos que vieram para a cidade com a perspectiva de melhorar de vida. Ocuparam espaços que, em períodos de chuvas, são alagados pelas cheias do rio Acre e, em 1997, orientados e deslocados pelo poder público municipal, formaram o bairro no "meio" do cemitério. A realidade da cidade “planejada”, particularmente numa área destinada a ser cemitério, tornou-se sinônimo de não planejamento, precariedade de infra-estrutura, acesso e carências diversas. Esses problemas acabaram sobrepondo-se à esperança criada, antes da migração, pelas mulheres e homens oriundos dos campos e florestas da região com destino à cidade. Desse modo, passaram a conviver com a exclusão social, o preconceito e a perda de identidades, vivendo à "margem" da cidade idealizada e construindo num mundo, marcado pela construção de outros imaginários relacionados ao fato de terem de ocupar uma área destinada a ser cemitério. Nesse processo se reconhecem como “vivos” no “campo” dos mortos que, dada as desigualdades sociais da Amazônia acreana, tem propiciado situações de tensões e experimentado todos os tipos de estereótipos, tanto por se tratar de um bairro tido como “violento” e “perigoso”, quanto por se tratar de um cemitério de mortos mais mortos, em razão de ser local de enterro das camadas mais pobres da cidade de Rio Branco. |
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CONCLUSÕES:
O Defesa Civil foi construído num espaço destinado ao Cemitério Jardim da Saudade, portanto, para ser ocupado por sepulturas. Mas a Prefeitura de Rio Branco, visando solucionar problemas com desabrigados da enchente de 1997, dividiu a área, formando o bairro e criando uma inexistente fronteira entre “lugar” de vivos e “lugar” de mortos. O mais grave é que, por de tratar de um território que faz divisa com uma fazenda e um outro bairro, o Tancredo Neves, surgiram novas ocupações de terras, cada vez mais próximas aos túmulos. Nesse ambiente marcado por tensões e preconceitos, as pessoas são levadas a desenvolver variadas formas de moradias, ocorrendo uma verdadeira "convivência" e “disputas” entre vivos e mortos ou entre mortos e vivos, onde a única certeza é da quase total “pobreza material” em que estão submetidos. |
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Instituição de fomento: UFAC/Fundação Ford | ||
Palavras-chave: Cultura; Identidade; Território. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |