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D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 2. Medicina Preventiva | ||
PERSPECTIVA DO CIRURGIÃO-DENTISTA ACERCA DOS RISCOS OCUPACIONAIS DA PRÁTICA ODONTOLÓGICA | ||
Thiago Morais Nogueira 1 (moraisthiago@yahoo.com.br), Monalisa de Albuquerque Almeida 1, José Lêudo Xavier Júnior 1, Raphael Augusto Conzatti Capaz 1, Marcus Paulo Fernández Amarante 1, Suéle Araújo Frota 1, Sérgio Augusto Carvalho Pereira Filho 1 e Pedro Thiago Tibúrcio da Frota 1 | ||
(1. Depto. de Saúde Comunitária, Fac. de Medicina da Universidade Federal do Ceará- UFC) | ||
INTRODUÇÃO:
A realização das mais variadas tarefas pode gerar, direta ou indiretamente, distúrbios à saúde conhecidos como doenças ocupacionais. A profissão de cirurgião-dentista não está ilesa a isto, possuindo um amplo espectro de riscos ocupacionais. Dentre tais, mais polêmicos são aqueles de caráter biológico, que possibilitam contaminações, como: contato direto com lesões infecciosas ou com sangue e saliva contaminados. Desse modo, esse profissional está ameaçado desde uma gripe até doenças mais graves como a AIDS, hepatite B, C e D e tuberculose (RUSSO, 2000). Ergonomicamente, uma postura inadequada, imobilidade e horários irregulares predispõem o cirurgião-dentista a doenças vasculares, osteomusculares, dores lombares e lesão por esforço repetitivo (LUSVARGHI, 1999). Muitos materiais usados na prática odontológica geram efeitos nocivos no profissional. Cimentos cirúrgicos em laboratórios de prótese dentária podem causar asbestose e câncer pulmonar (GENOVESE, 1991). A perda auditiva induzida pelo ruído (PAIR) começou a surgir com a introdução, na odontologia, de dispositivos de alta rotação movidos a turbina, com ou sem microrrolamentos, gerando futuros déficits de audição para o profissional (GENOVESE, 1991). Tendo revisado as doenças em questão, o objetivo do trabalho foi estimar a importância atribuída por esses profissionais aos fatores de risco e aos meios de prevenir acidentes. Os dados foram obtidos por meio de questionários padrão e, em seguida, analisados e discutidos. |
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METODOLOGIA:
A pesquisa foi realizada por estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) na Disciplina Saúde, Ambiente e Trabalho, e teve como público-alvo cirurgiões-dentistas da cidade de Fortaleza, dentre os quais alguns eram também professores do curso de Odontologia da supracitada universidade. A coleta de dados deu-se durante as três últimas semanas do mês de novembro de 2003 e foi mediada por um questionário pré-concebido, autopreenchível, contendo 17 questões, tanto objetivas como subjetivas. Tais questões diziam respeito a dados pessoais do profissional, ambiente de trabalho, riscos a que esses profissionais estavam expostos e possíveis danos à saúde que os houvesse acometido. Com a finalidade de verificar a validade do questionário, realizou-se um pré-teste com profissionais que não foram incluídos posteriormente na amostra. Vinte e sete cirurgiões-dentistas preencheram o questionário, que tinha em sua página inicial um termo de consentimento com esclarecimentos acerca da finalidade da pesquisa e garantindo o sigilo de dados pessoais. Para a análise de parte dos dados, fez-se uso do programa EPI INFO versão 6.0, que é fornecido gratuitamente pelo C.D.C. (Control of Disease Center). A finalidade dessa ferramenta de informática é a abordagem estatística dos dados numéricos do questionário (como idade, tempo de trabalho diário entre outros) em relação aos demais dados. |
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RESULTADOS:
Os indivíduos da amostra eram, na sua maioria, do sexo feminino (51,9%), e a média das idades foi de 33,85 anos. A maioria dos profissionais eram apenas graduados (74,1%), seguido de dentistas com doutorado (14,8%). O tempo médio de exercício da profissão foi de 11,45 anos, e o tempo semanal dessa prática foi, em média, 38,66 horas. Quando questionados acerca da presença de riscos na profissão, todos responderam afirmativamente. Entre os mais citados, observamos os riscos de natureza biológica, como a contaminação por aerossóis (20 citações) e por instrumentos pérfuro-cortantes (21 citações). O uso indispensável de medidas preventivas no trabalho foi uma resposta presente em todos os questionários. A medida mais citada foi uso de equipamento de proteção individual (EPI) com 24 citações. Dezenove entrevistados já sofreram algum tipo de acidente profissional, sendo estes: lesão por péfuro-cortantes (19 citações), fragmentos ou substâncias nos olhos (4 citações), contaminação por líquidos corporais do paciente (2 citações) e choques elétricos (1 citação). Equivocadamente, um entrevistado mencionou tendinite como acidente de trabalho. Dentre os entrevistados, 18 referiram terem apresentado problemas de saúde devido à profissão. Lombalgia (7 citações) e LER/DORT (9 citações) foram os problemas mais prevalentes. Gripe e perda auditiva apareceram duas vezes cada. |
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CONCLUSÕES:
Os resultados do presente trabalho demonstraram que todos os cirurgiões-dentistas entrevistados têm consciência dos riscos inerentes à odontologia e admitem que seja realmente necessário adotar alguma medida de proteção contra esses riscos, apesar de os riscos por eles mencionados não constituírem a totalidade dos reais riscos dessa profissão. A medida de proteção mais apontada pelos dentistas foi o uso de EPI (88,89%). Cerca de 70% dos pesquisados já sofreram acidentes de trabalho, e todos estes envolvendo pérfuro-cortantes além de outros. Na opinião dos entrevistados, o acidente que ocorre com maior freqüência na profissão é com os pérfuro-cortantes. Mais da metade dos odontólogos dessa pesquisa apresentam ou apresentaram problemas de saúde em decorrência da profissão e 88,3% destes fizeram uso de alguma medida para amenizar ou sanar tal problema. Faz-se necessário, desde cedo, uma instrução mais eficiente sobre todos os tipos de risco presentes na profissão, bem como prevenir, sanar ou amenizá-los. |
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Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: risco ocupacional; odontologia; medicina preventiva. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |